A China está disposta a permanecer neutra caso a Coreia do Norte ataque primeiro, mas defenderá a Coreia do Norte caso os Estados Unidos ataquem primeiro – essa foi a mensagem passada pelo governo chinês no dia 10 de agosto, em reportagem no Global Times, um dos periódicos porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC). É a praxe do PCC fazer uso de seus jornais, para indiretamente expor algumas intenções do governo.
Essa declaração foi dada após uma troca de farpas entre os EUA e a ditadura norte-coreana. Em entrevista concedida no Bedminster Golf Club no início de agosto, o presidente Trump afirmou que qualquer nova ameaça vinda de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, será respondida com “fogo e fúria”. Em resposta, Kim Jong-Un, ditador da Coreia do Norte, anunciou que planeja lançar quatro mísseis balísticos em direção à ilha de Guam, um território norte-americano e uma das 15 Ilhas Marianas localizado na região da Micronésia, no Oceano Pacífico.Guam é base militar para os bombardeiros B-1B, para o Esquadrão 15 de Submarinos e para o THAAD – bateria antimísseis balísticos.
A declaração de Donald Trump foi dada após o jornal The Washington Post publicar, citando especialistas do setor de inteligência dos Estados Unidos, que a Coreia do Norte conseguiu miniaturizar suficientemente uma bomba nuclear a ponto de ser possível implantá-la em um míssil intercontinental, pondo os EUA dentro do alcance de um ataque nuclear proveniente do norte da península coreana.
No dia 9 de agosto, em coletiva na Casa Branca, a secretária de imprensa, Sarah Huckabee Sanders, afirmou que o General Kelly e os outros membros do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos estavam cientes do tom da declaração dada pelo presidente Trump, antes da entrevista em Bedminster. “O tom e intensidade da mensagem foram discutidos antecipadamente”, afirmou ela.
A postura do governo chinês diante da situação levanta a questão sobre até que ponto Kim Jong-Un levará adiante suas ameaças, pois é questionável a capacidade do regime comunista norte-coreano de resistir sozinho a uma investida militar dos EUA. Durante a Guerra da Coreia, em 1950, Pyongyang contou com o apoio logístico e militar dos regimes comunistas chinês e da antiga União Soviética.
Rússia e China
Desde a posse do presidente Donald Trump, o governo do líder chinês e Xi Jinping tem apoiado, em certa medida, as pretensões dos norte-americanos em mudar os rumos do governo norte-coreano, como pôde ser notado pelo voto favorável da China no Conselho de Segurança da ONU, no início de março deste ano, a uma resolução pela aplicação o pacote mais duro de sanções à Coreia do Norte até o momento.
Contudo, dois fatores se apresentam como obstáculos para que a China tome medidas mais enérgicas contra a Coreia do Norte: os refugiados de guerra e a política interna chinesa.
Quanto aos refugiados, segundo o website Foxtrot Alpha, especialistas calculam que, caso o governo da Coreia do Norte entre em colapso, centenas de milhares de norte-coreanos atravessariam a fronteira para dentro da China, em busca de comida e abrigo, trazendo uma crise humanitária para o solo chinês. Além disso, o atual crescimento de 6% do PIB da China, em certa medida, coloca o país em uma situação de crise, devido ao tamanho de sua população. Os refugiados norte-coreanos adicionariam maior pressão à economia chinesa. Portanto é do maior interesse do governo da China que a estabilidade política permaneça na península coreana.
Em relação à política interna chinesa, duas poderosas facções do Partido Comunista estão em queda de braço: o grupo político ligado ao atual presidente Xi Jinping e o grupo ligado ao ex-presidente Jiang Zemin, grupo responsável por iniciar a repressão ao Falun Gong e de ser suspeito de comandar a extração ilegal de órgãos de dissidentes políticos, como cristãos, budistas tibetanos, uigures e, principalmente, de praticantes do Falun Gong.
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O Epoch Times tem reportado a aliança existente entre a facção de Jiang Zemin e o regime ditatorial da Coreia do Norte. Três dos sete integrantes do atual Comitê Permanente do Partido Comunista Chinês, órgão que comanda o partido, construíram suas carreiras com base na relação entre a China e Pyongyang e alcançaram estes postos com o apoio de Jiang Zemin. São eles: Zhang Dejiang, Zhang Gaoli e Liu Yunshan. Zhang Dejiang, além de fazer parte do Comitê, é o presidente do Congresso Nacional do Povo, órgão legislativo nacional da China.
Qualquer tentativa de Xi Jinping de lidar diretamente com a Coreia do Norte pode levá-lo a perder legitimidade dentro do Partido Comunista e, consequentemente, perder poder e o seu posto político. Até que Xi Jinping tenha definitivamente consolidado o seu poder dentro da China, o que pode ocorrer após o 19º Congresso do Partido, a ser realizado ainda neste semestre, o governo chinês terá de lidar cuidadosamente com a questão.
No 19º Congresso serão escolhidos os novos integrantes do Comitê Permanente do PCC, que liderarão o partido pelos próximos cinco anos. Xi Jinping articula para que sejam escolhidos apenas aliados seus para todos os assentos.
Caso o ditador da Coreia do Norte realmente ordene o ataque a Guam com mísseis balísticos, Xi Jinping talvez tenha o argumento que faltava para legitimar frente ao Partido Comunista Chinês a adoção de medidas mais duras contra o regime de Kim Jong-Un.
De acordo com a visão do concerto das nações do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, a China e a Rússia, por seu histórico bilateral desde a Guerra Fria, formam um bloco com objetivos e estratégias em comum na esfera internacional. Neste sentido, se o governo chinês estiver disposto a não ir em defesa da Coreia do Norte caso ela ataque primeiro, não é improvável que a Rússia venha a seguir Pequim, isolando Pyongyang no cenário mundial.
Ante o exposto, chega-se à questão de se Kim Jong-Un realmente considera atacar Guam e correr o risco de perder o apoio de seus aliados, ou se tudo não passa da retórica habitual dos norte-coreanos.
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