Uma conferência de celebração do aniversário da Convenção de Proibição de Minas Antipessoal, também conhecida como Tratado de Ottawa, recebeu elogios pelo papel exemplar do Canadá em mobilizar 122 países para a sua assinatura há 20 anos.
Em 4 de dezembro, ativistas de todo o mundo contra as minas terrestres se reuniram em Ottawa para marcar o aniversário da cerimônia de assinatura ocorrida em 3 de dezembro de 1997.
“O Tratado de Ottawa está funcionando e o Canadá é um dos dez maiores doadores do trabalho de neutralização de minas e reabilitação de pessoas feridas por essas armas mortais”, disse Chris Loughran, diretor de política e avaliação do Mines Advisory Group, uma ONG internacional que remove e destrói minas terrestres ao redor do mundo.
Os representantes de outras ONGs envolvidas em operações de neutralização de minas, no entanto, estavam menos entusiasmados com o compromisso do Canadá.
Um anúncio de financiamento da Global Affairs Canada atraiu uma resposta mista. O palestrante principal Matt DeCourcey, secretário parlamentar da ministra das relações exteriores, Chrystia Freeland, disse que dedicou CA$ 12 milhões para a reabilitação e reintegração de sobreviventes de explosões de minas em suas comunidades.
Erin Hunt, diretora de programas da Mines Action Canada, baseada em Ottawa, expressou desapontamento com o montante. “Os CA$ 12 milhões anunciados hoje são um ligeiro aumento na contribuição do Canadá, mas ainda não é suficiente”, disse ela.
“O financiamento canadense deveria aumentar para níveis anteriores de CA$ 1 por canadense por ano, o que colocaria o Canadá entre os cinco melhores doadores globais em ações de minas”, disse Paul Hannon, diretor-executivo da Mines Action Canada.
O major-general James Cowan, CEO da Halo Trust, a maior organização humanitária de remoção de minas do mundo, disse que 80% do financiamento da Halo Trust vem de governos.
“Os EUA, Reino Unido e Canadá foram generosos no passado, mas agora há incerteza em torno disso”, disse ele.
Christoph Harnisch, líder da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ecoou o tema da necessidade de um compromisso contínuo.
“Países como a Colômbia precisariam de um engajamento de 30 a 40 anos para acabar com as operações de neutralização de minas”, afirmou.
Harnisch observou, no entanto, que isso não deveria ser inteiramente da responsabilidade dos doadores tradicionais governamentais, e que aqueles que estavam envolvidos no conflito também deveriam ser responsabilizados.
Mulheres e meninas, principais vítimas
Todos os signatários do Tratado de Ottawa (agora 162 países) são obrigados não apenas a remover as minas terrestres e destruir seus arsenais, mas também a ajudar as vítimas, muitas delas mulheres e meninas.
“Mulheres e meninas são afetadas desproporcionalmente por minas terrestres e outros explosivos remanescentes de guerra”, disse Paul Hannon, diretor-executivo da Mines Action Canada. “É significativo que o movimento para proibir as minas terrestres tenha sido liderado por mulheres desde a década de 1990.”
O parlamentar liberal Pam Damoff chamou a atenção para a Iniciativa Elsie sobre Mulheres em Operações de Paz, que o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau anunciou recentemente. A iniciativa, nomeada em função da pioneira canadense dos direitos das mulheres, Elsie MacGill (1905-1980), tem como objetivo apoiar mais mulheres a se envolverem nos processos de paz.
“Quando as mulheres se tornam parte da resolução dos conflitos, a paz se torna mais durável”, disse ela.
Shinkai Karokhail, embaixadora do Afeganistão no Canadá, disse que, enquanto doa para neutralizar minas em seu país, que é considerado o local mais infestado por minas terrestres no mundo, o Canadá deve assegurar que parte dos fundos seja destinada especificamente para mulheres vítimas. Isso é particularmente necessário num país onde as mulheres raramente têm voz na tomada de decisões, observou.
Sobreviventes compartilham experiências
Duas vítimas de minas terrestres, uma da Colômbia e outra do Sri Lanka, compartilharam suas histórias, enfatizando a necessidade de financiamento duradouro e assistência específica às mulheres vítimas.
Aidé Rocio Arias, de 23 anos, uma indígena de uma comunidade remota na Colômbia, perdeu ambas as pernas num acidente de mina terrestre quando tinha 13 anos. Após transfusões de sangue, amputações, tratamento prolongado, próteses e reabilitação, sua família só pôde bancar tudo isso com a assistência da Handicap International e da Cruz Vermelha. [Em sua gradíssima maioria, as minas na Colômbia são o resultado das atividades terroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ou FARC.]
Desde então, Arias foi treinada como conselheira para apoiar vítimas semelhantes. Ela também teve um filho. “Ele é a minha principal razão para continuar”, disse ela com um amplo sorriso.
Krishnaveni Kaneshan, do Sri Lanka, que perdeu vários familiares homens na guerra civil do país, inicialmente trabalhou como uma neutralizadora de minas e agora é treinadora da Halo Trust. Ela elogiou a organização por empregar funcionárias mulheres num país onde as mulheres frequentemente têm de recorrer a atividades ilegais para sustentar suas famílias.
Susan Korah é uma jornalista freelance baseada em Ottawa. Ela possui mestrado em jornalismo pela Universidade de Carleton e escreve sobre política canadense e internacional, bem como sobre turismo e cultura.