Por Reuters
O partido no poder, o Congresso Nacional Africano (CNA), decidiu remover Jacob Zuma como presidente da África do Sul, disse um funcionário sênior na terça-feira, 13 de fevereiro, após uma maratona de reuniões para determinar o destino de um líder cujos anos no poder tem sido atormentados com escândalos de corrupção que obscureceram e dividiram a “nação arco-íris” de Nelson Mandela.
A decisão do executivo nacional do partido no poder ocorreu nas primeiras horas da manhã, depois de 13 horas de debates tensos e uma reunião cara a cara entre Zuma e seu pressuposto sucessor, o vice-presidente Cyril Ramaphosa.
Zuma tem prorrogado este momento há tempos, desde que Ramaphosa, o líder sindicalista outrora indicado como a escolha de Mandela para assumir as rédeas do governo do país, foi eleito em dezembro passado como o chefe do CNA de 106 anos, derrotando a ex-esposa de Zuma, Nkosazana Dlamini-Zuma.
Apesar da decisão condenatória de ordenar a “revogação” de Zuma, a linguagem do CNA para “remoção do cargo”, a mídia doméstica especulou que o líder de 75 anos ainda poderia desafiar os desejos do partido, forçando-os a indignidade de terem de destituir Zuma no Parlamento.
Pouco antes da meia-noite, a emissora estatal SABC disse que Zuma tinha sido informado pessoalmente por Ramaphosa que ele tinha 48 horas para se demitir. Uma fonte sênior do partido disse mais tarde à Reuters que Zuma deixou claro que não iria a lugar algum.
“Cyril foi conversar com ele”, disse a fonte, acrescentando que, quando Ramaphosa voltou à reunião do CNA num hotel de Pretória, as discussões foram “tensas e difíceis”.
“Decidimos revogar Zuma. Ele ainda não foi informado”, disse a fonte.
O CNA disse que realizaria uma conferência de imprensa às 12h p.m., hora local, para revelar os resultados da reunião.
O porta-voz de Zuma não respondeu seu celular.
Na sexta-feira, 9 de fevereiro, sua esposa Tobeka Madiba-Zuma publicou comentários no Instagram sugerindo que Zuma, que desafiou e combateu as tentativas do CNA e dos tribunais de restringi-lo e controlá-lo, estava preparado para lutar e acreditava que era vítima de uma conspiração ocidental.
“Ele vai terminar o que começou, porque ele não recebe ordens de além do Oceano Atlântico”, disse ela.
A economia da África do Sul, a mais sofisticada do continente, estagnou sob o mandato de nove anos de Zuma, com bancos e empresas de mineração relutantes em investir devido à incerteza política e à corrupção desenfreada.
Desde que se tornou presidente em 2009, Zuma tem sido acossado por escândalos. Ele enfrenta um indiciamento de 783 acusações de corrupção envolvendo 30 bilhões de rand (agora US$ 2,5 bilhões) num acordo de armas do governo que ocorreu no final da década de 1990, quando ele era vice-presidente.
Alguns dentro do CNA e a oposição dizem que a família Gupta, amigos de Zuma, usou seus vínculos com o presidente para ganhar contratos estatais e influenciar as nomeações do gabinete. Os Gupta e Zuma negaram qualquer irregularidade.
O banco indiano Baroda, que tem os Gupta entre seus clientes, anunciou planos para sair da África do Sul, informou o banco central na segunda-feira, 12 de fevereiro.
Ramaphosa tem se focado em erradicar a corrupção e revitalizar o crescimento econômico desde a derrota da sucessora preferida de Zuma, sua ex-esposa Nkosazana Dlamini-Zuma, na corrida pela liderança do CNA.