Como entender a propaganda de Putin para invadir a Ucrânia

15/04/2014 14:02 Atualizado: 20/02/2018 21:16

Por Cliff Kincaid

É difícil se manter a par da propaganda russa sobre a Ucrânia, porém, o ótimo artigo “Playing by Putin’s tactics examina alguns pontos dessa propaganda. A coluna publicada no Washington Post foi escrita por Molly K. McKnew e Gregory A. Maniatis, os quais trabalharam para o presidente da Georgia Mikheil Saakashvili e para o consultor em segurança nacional nesse país após a guerra de 2008 com a Rússia. Mesmo assim, o artigo não oferece uma resposta à altura do que Putin vem fazendo.

Ao descrever o quão vulnerável a mídia ocidental é em relação a propaganda de Putin sobre a questão ucraniana eles percebem que “Itar-Tass publicou uma reportagem na semana passada (mais tarde divulgada na Forbes, entre outras) dizendo que 675 mil ucranianos haviam buscado recentemente asilo político na Rússia”. Esse tipo de alegações absurdas estão sendo usadas pela Rússia para justificar a invasão da Ucrânia.

Não traz surpresa que essa história ridícula tenha aparecido na televisão Russia Today (RT) com a manchete: “675 mil ucranianos debandam para a Rússia com o crescimento da crise humanitária”. A RT é o canal financiado por Moscou que concedeu um programa de TV ao criador do WikiLeaks, Julian Assange.

No Huffington Post, Rebecca Novick dissecou a história de araque dos refugiados buscando documentar como a Rússia estava “criando uma falsa crise de refugiados” na Ucrânia para justificar uma intervenção militar. Ela cita um vídeo da TV russa que mostra a imagem de diversas pessoas cruzando a fronteira, alegando que elas estariam fugindo para a Rússia. Na verdade, entretanto, a imagem era de pessoas cruzando a fronteira da Ucrânia com a Polônia.

A reportagem sobre a crise de refugiados é mentirosa do início ao fim. O site Twitchy documenta o número de canais russos que reproduziram essa reportagem e expõe como a notícia foi desmascarada por pessoas que estavam no local.

Em um editorial, o Washington Post diz que Putin pode realmente acreditar na sua própria propaganda em relação a Ucrânia. O editorial aponta que os comentários públicos de Putin se “tornaram idênticos a propaganda de sua TV estatal”.

É muito mais provável que ele saiba que essas notícias são falsas, mas que as promova mesmo assim. Nas palavras da ativista ucraniana Ruslana, elas são o trabalho de “mentirosos profissionais”.

McKnew e Maniatis escrevem, “Daqui pra frente, as regras pelas quais o mundo está jogando são as regras de Putin, essa é uma realidade que todos temos que reconhecer e para a qual precisamos ter uma resposta efetiva”.

Uma forma simples de resposta seria fazer valer a lei referente à divulgação de propaganda russa nos Estados Unidos, propaganda essa que está alcançando dezenas de milhões de lares americanos. Veículos de mídia ligados ao canal financiado por Moscou (que trocou seu nome de Russia Today para RT para disfarçar sua origem) incluem Time Warner Cable, Comcast, Verizon Fios, Cox Cable, RCN Cable, MHz Networks e Dish Networks.

A MHz, que transmite a RT para dezenas de emissoras públicas de TV, é ela mesma um serviço público de TV que recebe dinheiro do contribuinte através da Corporation for Public Broadcasting (CPB), que é financiada com dinheiro federal. No ano fiscal de 2011, por exemplo, a CPB injetou $27.580.113 na MHz Networks e nas suas afiliadas.

Conforme o Accuracy in Media (AIM) já discutiu diversas vezes nos últimos quatro anos, o Foregin Agents Registration Act (FARA) é “um estatuto que requer que pessoas atuando como agentes dirigidos desde o exterior em assuntos políticos ou relacionados com a política façam declarações públicas periódicas referentes a suas relações com a direção estrangeira, assim como de suas atividades e de suas receitas e despesas no suporte dessas atividades”. Além disso, o comentarista Jerry Kenney aponta que essa lei obriga os veículos de comunicação a usar um aviso que diz que eles constituem propaganda em favor de um governo estrangeiro.

Porém, o governo Obama não faz a lei ser cumprida. E o dinheiro do contribuinte continua passando pela MHz e indo para as emissoras públicas de TV que transmitem a RT.

Um vídeo transmitido pela RT, involuntariamente hilário, mostra Putin visitando suas tropas na emissora em Moscou.

De acordo com a RT, a propaganda não vem da Rússia. Em vez disso, o canal está expondo as perigosas “mentiras” que supostamente vem sendo ditas pelo lado americano, como reveladas pelo “jornalista” chamado Manuel Ochsenreiter. Suas alegações incluem:

1. O Secretário de Estado John Kerry é “um dos mentirosos profissionais mais bem pagos do ocidente”.

2. Todo esse conflito na Ucrânia não é sobre democracia, não é sobre oligarquias, não é sobre partidos políticos”.

Quem é Manuel Ochsenreiter? Editor de uma revista alemã descrito como “direitista”, ele parece ser um dos favoritos da RT. Ele apareceu em uma das histórias da RT com a extraordinária manchete: “Jornalistas internacionais refutam alegações sobre tropas russas na Criméia”. Sua galeria de fotos mostra ele com um soldado do exército sírio no túmulo de Khomeini em Teerã em 2012 e entrevistando um oficial do Hezbollah.

Ele também publicou em seu site pessoal uma entrevista com Aleksandr Dugin, o conselheiro de Putin ligado ao ex-líder da KKK David Duke, que afirma:

“A Rússia é uma democracia liberal. Dê uma olhada na constituição russa: Nós temos um sistema eleitoral democrático, um parlamento em pleno funcionamento, um sistema de livre mercado. A constituição está baseada em padrões ocidentais. O presidente Vladimir Putin manda no país de forma democrática. Não somos uma monarquia, não somos um regime ditatorial, não somos um regime comunista soviético.”

Esse tipo de propaganda é patética.

Porém, ela se torna extremamente séria quando se examina a visão de Dugin sobre o Irã, conforme exposta no artigo “Eurasianism, Iran, and Russia’s Foregin Policy”. Identificado como o líder do “Movimento Eurasiano Internacional”, Dugin propõe uma “aliança estratégica” entre o Irã e a Rússia que deve se expandir para incluir a Turquia, a China e a Índia.

Nesse contexto, a Islamic Republic News Agency (IRNA) relata que o Irã e a Rússia chegaram a um acordo inicial para a construção de duas novas usinas nucleares no Irã. Essa notícia não parece ser propaganda.

Esse matéria foi originalmente publicada pela Mídia Sem Máscara

Traduzido por Fernando de Souza