Por Marte Garde, Agência EFE
Os “coletes amarelos” lançaram um ultimato ao presidente da França, Emmanuel Macron, com uma nova manifestação que desde a manhã deste sábado (16) provocou uma série de distúrbios em várias cidades do país e buscava mostrar que o movimento se mantém firme apesar das promessas do governo.
Cerca de 32 mil pessoas protestaram contra Macron em toda a França, 10 mil deles só em Paris, segundo o Ministério do Interior.
“Depois deste dia, pelo menos para mim, não haverá mais manifestações. Haverá ações de verdade, teremos que propor bloqueios. Demonstramos que sabemos protestar, que não funcionou e que não fomos ouvidos”, disse nas redes sociais um dos líderes do movimento, Éric Drouet.
Esta 18ª manifestação é considerada crucial porque marca quatro meses de protestos e acontece um dia depois do final do Grande Debate Nacional impulsionado em janeiro por Macron para encontrar respostas à crise social e política gerada desde meados de novembro pelos “coletes amarelos”.
“O grande debate foi uma grande piada”, criticou Quentin, de 30 anos, que viajou de Nantes, no oeste do país, a Paris para participar da manifestação. Segundo ele, nada mudou em nível político, mas “pessoas de diferentes realidades aprenderam a se ver a favor de uma luta comum”.
O chamado RIC, Referendo de Iniciativa Cidadã (RIC), continua sendo a principal reivindicação dos opositores, que também reivindicam a dissolução da Assembleia Nacional e a constituição de uma provisória “enquanto o sistema é reorganizado”.
A polícia de Paris mobilizou cinco mil agentes para este fim de semana, número superior aos dos protestos anteriores, consciente que desta vez a situação será ainda mais delicada por coincidir com outra grande manifestação organizada contra a mudança climática.
O protesto em defesa da preservação do meio ambiente reuniu 36 mil pessoas, segundo as autoridades locais, e 107 mil pessoas, de acordo com os organizadores da manifestação.
O Arco do Triunfo foi principal ponto dos distúrbios na capital. Os “coletes amarelos” protagonizaram uma violência que não era vista há semanas nos protestos contra o governo. Os policiais precisaram usar gás lacrimogêneo, canhões de água para conter os manifestantes. Mais de 200 deles acabaram presos.
Na Champs-Élysées, lojas de luxo foram saqueadas ou incendiadas. O histórico restaurante Fouquet’s foi totalmente destruído e um incêndio em uma agência bancária provocou o esvaziamento de um prédio inteiro, deixando 11 pessoas levemente feridas.
No total, foram 42 feridos ao longo dos protestos, incluindo os 11 do incêndio na agência bancária. Entre eles também estão 17 agentes da polícia de Paris e cinco bombeiros.
“Não há dúvida: incitam à violência e estão aí para semear o caos em Paris. Profissionais da desordem equipados e com máscaras infiltraram os cortejos. Meu conselho à polícia: responder com a maior firmeza esses ataques inadmissíveis”, disse no Twitter o ministro do Interior, Christophe Castaner.
Os manifestantes tinham como objetivo se aproximar do Palácio do Eliseu, mas os acessos à sede presidencial tinham sido bloqueados, assim como outros pontos considerados sensíveis.
Macron, que passaria o fim de semana descansando, voltou para Paris para acompanhar a situação.
Apesar de o futuro do movimento ainda não estar claro, manifestantes como Van-Thanh Nguyen, francês de origem vietnamita que participou de 16 dos atos convocados pelos “coletes amarelos”, afirmou que seguirá lutando até que haja mudança.
“Macron é uma marionete do sistema”, afirmou.