Por Mathew Di Salvo, Epoch Times
Norelia Perozo nunca pensou que um dia teria de vender pirulitos na rua para alimentar seu bebê de apenas um ano.
Mas os 50 mil pesos colombianos (17 dólares) que se pode ganhar em um dia bom são muito mais do que o salário mínimo em seu país natal, a Venezuela.
Como os milhares de venezuelanos que atravessam a fronteira todos os dias, Perozo, de 32 anos, fugiu de seu país — governado por um regime socialista que levou a nação latino-americana à hiperinflação, escassez de alimentos e aumento da criminalidade — para procurar uma vida melhor na vizinha Colômbia.
“Eu nunca imaginei que estaria nas ruas todos os dias”, disse a mãe de quatro filhos que teve de deixar três na Venezuela, para o Epoch Times. “Mas minha família precisa comer. Então estou aqui todos os dias, de segunda a domingo”.
Perozo e sua filha Arantza são apenas parte da aparentemente interminável tragédia que agora é a Venezuela.
A agência das Nações Unidas para refugiados informou que mais de 1,6 milhão de venezuelanos deixaram seu país desde 2015.
Cerca de 90% dos que deixam o Estado falido vão para os países da América Latina. Outros vão para os Estados Unidos.
Estabelecer-se na vizinha Colômbia e procurar trabalho em uma de suas grandes cidades é, de longe, a opção mais fácil.
“Eles [os colombianos] foram extremamente prestativos e amigáveis”, disse Perozo, que no passado tinha um pequeno negócio de venda de roupas na cidade de Valência.
“Na maioria dos dias, alguém me convida para comer e alimenta minha filha.”
Mas a Colômbia está lutando contra o êxodo.
A crise
Na sexta-feira, 28 de setembro, o recém-eleito presidente colombiano, Iván Duque, declarou que a crise migratória está custando ao seu país cerca de 0,5% de seu produto interno bruto anual, cerca de 1,5 bilhão de dólares.
Em junho, o governo colombiano informou que mais de um milhão de venezuelanos entraram no país no decorrer de 14 meses. Estima-se que 4.000 pessoas diariamente passem pela fronteira entre a Venezuela e a Colômbia.
Muitos dos que chegam são indocumentados e atravessam a fronteira ilegalmente. Perozo é um deles.
Depois de chegar à cidade poeirenta de Cúcuta, ela enfrentou uma exaustiva viagem de três dias até a cidade de Medellín, onde viveu por três meses.
Os outros três filhos de Perozo ficaram com a mãe dela em Valência, a terceira maior cidade da Venezuela, e Perozo envia dinheiro toda cada semana para que eles possam comer.
“Eu queria trabalhar para ajudar minha família. Você não pode ganhar dinheiro lá [na Venezuela]. Se eu trabalhar aqui, posso enviar dinheiro para casa”, disse ela.
“Foi muito difícil chegar aqui, a caminhada foi dura com Arantza. Mas agora podemos comer e também [podem comer] nossa família em casa”.
Perozo diz que com o dinheiro que ganha em um dia na Colômbia consegue alimentar sua família por quase duas semanas.
Felizmente, ela não é uma das muitas venezuelanas que foram forçadas a trabalhar na indústria do sexo para sobreviver, uma situação que seus compatriotas geralmente enfrentam.
É assim que a Venezuela é afetada pela crise, antes uma das nações mais ricas da América Latina, porque o regime ditatorial socialista de Hugo Chávez e seu sucessor, Nicolás Maduro, fizeram a economia entrar em colapso.
O país caribenho agora tem a inflação mais alta do mundo e uma cesta básica que custa mais que o salário mínimo mensal.
Muitos perderam peso, incluindo Perozo, e as pessoas estão ficando doentes devido à falta de medicamentos.
A criminalidade também aumentou e Caracas é agora a capital mais violenta do mundo.
Isso obrigou os venezuelanos a fugir do país em busca de uma vida melhor em outro lugar.
“Se ele [Maduro] e sua ditadura permanecerem, isso só vai piorar”, disse Perozo.
Apoio dos Estados Unidos
O ditador Nicolás Maduro permanece amplamente indiferente à crise, atribuindo a culpa a uma guerra econômica travada pelos Estados Unidos.
No final de setembro, Maduro fez uma visita surpresa às Nações Unidas e realizou um discurso perante a Assembleia Geral em que afirmou que a crise do país era exagerada pela mídia com o objetivo de derrubar o governo socialista.
O presidente colombiano Duque e o secretário-geral da ONU, António Guterres, já concordaram em estabelecer um fundo multilateral para ajudar a Colômbia e outros países vizinhos a lidar com os venezuelanos deslocados.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também se encontrou com Duque em Nova Iorque na reunião da ONU, quando avaliaram a situação.
Trump disse aos repórteres que o que estava acontecendo na Venezuela era uma “desgraça” e que ele “tomaria conta” do país latino-americano.
A Colômbia rompeu relações diplomáticas com seu vizinho anos atrás e as tensões aumentaram à medida que as tropas venezuelanas cruzavam a fronteira em várias ocasiões, e Maduro acusou Duque de conspirar contra ele.
Mas essas disputas diplomáticas são de pouco interesse para cidadãos comuns como Perozo, ou para as dezenas de outros venezuelanos que podem ser vistos vendendo pirulitos, doces ou até mesmo suas inúteis notas de bolívar nas ruas de Medellín.
“Só queremos que as coisas sejam estáveis de novo”, disse ela.
Perozo disse que não tem passaporte e que não acredita que possa voltar à Venezuela em dois ou três anos. Só é possível entrar em contato com a família na Venezuela usando o WhatsApp.
“Tem sido difícil, mas o que mais podemos fazer?”