Os governos da Rússia e da China estão enviando uma mensagem, através de seus meios de comunicação controlados pelo Estado, de que atingiram seu limite de cooperação com a campanha de pressão liderada pelos Estados Unidos contra a Coreia do Norte.
O presidente Donald Trump disse que novas sanções contra o regime norte-coreano virão em breve. Mas os esforços para que a Rússia e a China participem parecem improducentes. Bem como qualquer escalada das sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, considerando os posicionamentos que a Rússia e a China estão transmitindo.
E se este for o caso, os recentes sinais de Trump de que sua gestão está preparada para tomar uma ação unilateral decisiva na península coreana se torna ainda mais provável.
Cooperação limitada
O Global Times, um dos jornais oficiais do Partido Comunista governante da China, delineou a posição do regime chinês em um recente editorial intitulado “EUA, a Coreia do Norte não deveria tornar a China o bode expiatório“.
“Quando as tensões na península coreana atingem uma nova altura, uma grande parte da pressão é transferida para a China. Mas os EUA e a Coreia do Norte devem assumir sua própria responsabilidade sem fazer da China o bode expiatório”, escreveu.
O artigo afirma uma posição repetida com frequência pelo regime chinês: que, apesar da grande parte do comércio exterior total da Coreia do Norte, a China pode fazer pouco para afetar o regime; nem a China deveria ser forçada a fazer mais do que o estabelecido pelas sanções anteriores do Conselho de Segurança da ONU, as quais o regime chinês trabalhou para enfraquecer antes de terminarem aprovadas.
O regime chinês negociou um equilíbrio meticuloso. Ele pressionou a Coreia do Norte o suficiente para posar como um participante sincero nos esforços internacionais para isolar e pressionar o regime de Kim Jong-Un, mas não tanto a ponto de ameaçar sua estabilidade materialmente.
O editorial diz que os Estados Unidos e a Coreia do Norte devem resolver o problema sozinhos sem pressionar o governo da China. Outro editorial do Global Times anuncia que o regime da China não emitirá sanções unilaterais.
Também rejeita uma exigência-chave dos EUA de cortar o fornecimento de petróleo para a Coreia do Norte. Os Estados Unidos defenderam na ONU um embargo de petróleo quando seu Conselho de Segurança aprovou uma resolução em setembro que preparou o caminho para as sanções atuais.
Em vez de cortar as exportações de petróleo para a Coreia do Norte, o governo da China concordou com o limite atual, essencialmente dando a Kim um fornecimento predefinido mas reduzido de petróleo. O governo da Rússia empregou uma tática semelhante, em grande parte ecoando as posições da China.
Mas devido à China responder por 75 a 90% do comércio exterior da Coreia do Norte, mesmo a adesão do governo chinês às sanções reduzidas tem sido significativa. O governo da Rússia, por outro lado, aproveitou as restrições comerciais da China para aumentar a barganha com o regime de Kim.
O regime da Rússia, que compartilha uma pequena fronteira terrestre com a Coreia do Norte, foi acusado de ter contornado as sanções e ter entrado na medida em que o regime da China tem saído. A mídia estatal russa tem sido particularmente crítica das políticas americanas na península coreana.
Trump discorreu sobre o papel da Rússia durante uma entrevista na Fox News no final de outubro. “A China está nos ajudando, e talvez a Rússia esteja atravessando o outro caminho e comprometendo o que estamos recebendo”, disse Trump, acrescentando: “Quando eu digo ‘talvez’, eu sei exatamente sobre o que estou falando”.
O Sputnik, uma das agências de notícia estatais da Rússia voltadas para o exterior e responsável por propagar os pontos de vista e as narrativas do governo russo, tem veiculado uma visão particularmente negativa sobre o esforço dos EUA para impedir o programa de mísseis nucleares de Kim.
A agência tem frequentemente abafado as declarações bombásticas de Kim, concentrando-se, ao invés disso, na dissecação da posição dos Estados Unidos no conflito.
Agora, parece que a Rússia está preparada para aplicar o esforço para impedir a Coreia do Norte de obter armas nucleares.
Nos últimos dias, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que sanções adicionais são inúteis. “Nós temos enfatizado repetidamente que a pressão das sanções está essencialmente esgotada”, disse ele, segundo o Sputnik News.
Ele também advertiu que a Rússia não abandonará a Coreia do Norte se os Estados Unidos tomarem medidas militares contra o regime, dizendo que “farão tudo para evitar que isso aconteça e promover a solução da questão exclusivamente por meios políticos e diplomáticos pacíficos”, publicou o Sputnik News.
Patrocinadores da Coreia do Norte
Os governos da Rússia e da China são mais do que os aliados mais essenciais do regime da Coreia do Norte ─ eles são seus progenitores.
Kim Il-Sung, o avô de Kim Jong-Un, foi nomeado para governar o país pela União Soviética em 1948, depois que a península foi dividida entre os soviéticos e os americanos após a Segunda Guerra Mundial.
Quando o ancião Kim decidiu invadir a Coreia do Sul em 1950 com seu exército suprido pelos soviéticos, ele quase conquistou toda a península. Mas após as forças da UNU reagirem e varrerem o Norte, começaram a dominar o regime norte-coreano. Foi quando então o regime chinês enviou tropas para empurrar as forças da ONU para a fronteira atual.
Mais tarde, quando a União Soviética entrou em colapso, em 1991, e a ajuda soviética de repente parou de fluir para a Coreia do Norte, centenas de milhares de vidas foram perdidas devido à fome. O governo da China se tornou o cordão umbilical do regime.
A dependência do regime da Coreia do Norte em relação aos governos russo e chinês é uma dinâmica que continua até hoje.
A China e a Rússia sinalizaram muito cedo que não implementariam o tipo de sanções que obrigariam Kim à mesa de negociação. Apesar de Donald Trump ter tentado convencê-los a fazer mais, essa posição não mudou.
Este é o porquê de as autoridades americanas terem estado sinalizando que os Estados Unidos estão preparados para tomar medidas unilaterais para acabar com a crise atual. É uma mensagem significativa tanto para a Rússia quanto para a China, como também para a Coreia do Norte.
No sábado (2), durante um evento no Fórum de Defesa Nacional Reagan, em Simi Valley, Califórnia, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, H. R. McMaster, disse que a Coreia do Norte representa “a maior ameaça imediata para os Estados Unidos”.
McMaster também afirmou que a possibilidade de guerra estava crescendo. “Eu acho que está aumentando todos os dias, o que significa que estamos em uma corrida, realmente, estamos em uma corrida para conseguir resolver esse problema”, disse McMaster.
Trump está preparado para entrar em guerra para impedir Kim Jong-Un de conseguir um míssil balístico equipado com armas nucleares capaz de atingir os Estados Unidos, disse à CNN a senadora republicana Lindsey Graham na semana passada.
Enquanto as mídias estatais russas e chinesas têm denunciado os exercícios militares norte-americanos na região e as declarações firmes de Trump contra o regime norte-coreano, os governos da Rússia e da China também sabem que poucas e limitadas sanções impediram Kim de buscar armas nucleares.
Leia também:
• China se prepara para um ataque nuclear da Coreia do Norte
• Senador dos EUA pede evacuação de norte-americanos da Coreia do Sul
• “Míssil se desintegrou após reentrada”, afirma oficial dos EUA
• Rússia testa poderoso sistema de mísseis antiaéreos Tor-M2 (Vídeo)
• Estatal russa fornece internet à Coreia do Norte
• O cavalo de Troia de Pyongyang