China e Rússia dizem que não podem fazer mais sobre Coreia do Norte

07/12/2017 18:41 Atualizado: 07/12/2017 19:01

Os governos da Rússia e da China estão enviando uma mensagem, através de seus meios de comunicação controlados pelo Estado, de que atingiram seu limite de cooperação com a campanha de pressão liderada pelos Estados Unidos contra a Coreia do Norte.

O presidente Donald Trump disse que novas sanções contra o regime norte-coreano virão em breve. Mas os esforços para que a Rússia e a China participem parecem improducentes. Bem como qualquer escalada das sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, considerando os posicionamentos que a Rússia e a China estão transmitindo.

E se este for o caso, os recentes sinais de Trump de que sua gestão está preparada para tomar uma ação unilateral decisiva na península coreana se torna ainda mais provável.

Os caças de combate F-15K da Coreia do Sul e F-35B da Marinha dos Estados Unidos voam sobre a península coreana durante um treinamento em Gangwon-do, Coreia do Sul, em 31 de agosto de 2017 (Ministério da Defesa da Coreia do Sul/Getty Images)
Os caças de combate F-15K da Coreia do Sul e F-35B da Marinha dos Estados Unidos voam sobre a península coreana durante um treinamento em Gangwon-do, Coreia do Sul, em 31 de agosto de 2017 (Ministério da Defesa da Coreia do Sul/Getty Images)

Cooperação limitada

O Global Times, um dos jornais oficiais do Partido Comunista governante da China, delineou a posição do regime chinês em um recente editorial intitulado “EUA, a Coreia do Norte não deveria tornar a China o bode expiatório“.

“Quando as tensões na península coreana atingem uma nova altura, uma grande parte da pressão é transferida para a China. Mas os EUA e a Coreia do Norte devem assumir sua própria responsabilidade sem fazer da China o bode expiatório”, escreveu.

O artigo afirma uma posição repetida com frequência pelo regime chinês: que, apesar da grande parte do comércio exterior total da Coreia do Norte, a China pode fazer pouco para afetar o regime; nem a China deveria ser forçada a fazer mais do que o estabelecido pelas sanções anteriores do Conselho de Segurança da ONU, as quais o regime chinês trabalhou para enfraquecer antes de terminarem aprovadas.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reúne para tratar da Coreia do Norte após o último teste de mísseis, na sede da ONU, em Nova York, em 29 de agosto de 2017 (Reuters/Andrew Kelly)
O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reúne para tratar da Coreia do Norte após o último teste de mísseis, na sede da ONU, em Nova York, em 29 de agosto de 2017 (Reuters/Andrew Kelly)

O regime chinês negociou um equilíbrio meticuloso. Ele pressionou a Coreia do Norte o suficiente para posar como um participante sincero nos esforços internacionais para isolar e pressionar o regime de Kim Jong-Un, mas não tanto a ponto de ameaçar sua estabilidade materialmente.

O editorial diz que os Estados Unidos e a Coreia do Norte devem resolver o problema sozinhos sem pressionar o governo da China. Outro editorial do Global Times anuncia que o regime da China não emitirá sanções unilaterais.

Também rejeita uma exigência-chave dos EUA de cortar o fornecimento de petróleo para a Coreia do Norte. Os Estados Unidos defenderam na ONU um embargo de petróleo quando seu Conselho de Segurança aprovou uma resolução em setembro que preparou o caminho para as sanções atuais.

Em vez de cortar as exportações de petróleo para a Coreia do Norte, o governo da China concordou com o limite atual, essencialmente dando a Kim um fornecimento predefinido mas reduzido de petróleo. O governo da Rússia empregou uma tática semelhante, em grande parte ecoando as posições da China.

Caminhões esperam na cidade fronteiriça chinesa de Dandong, na província de Liaoning, nordeste da China, antes de cruzar a Ponte da Amizade para a cidade de Sinuiju, no norte de Coreia, em 5 de setembro de 2017 (Greg Bander/AFP/Getty Images)
Caminhões esperam na cidade fronteiriça chinesa de Dandong, na província de Liaoning, nordeste da China, antes de cruzar a Ponte da Amizade para a cidade de Sinuiju, no norte de Coreia, em 5 de setembro de 2017 (Greg Bander/AFP/Getty Images)

Mas devido à China responder por 75 a 90% do comércio exterior da Coreia do Norte, mesmo a adesão do governo chinês às sanções reduzidas tem sido significativa. O governo da Rússia, por outro lado, aproveitou as restrições comerciais da China para aumentar a barganha com o regime de Kim.

O regime da Rússia, que compartilha uma pequena fronteira terrestre com a Coreia do Norte, foi acusado de ter contornado as sanções e ter entrado na medida em que o regime da China tem saído. A mídia estatal russa tem sido particularmente crítica das políticas americanas na península coreana.

Trump discorreu sobre o papel da Rússia durante uma entrevista na Fox News no final de outubro. “A China está nos ajudando, e talvez a Rússia esteja atravessando o outro caminho e comprometendo o que estamos recebendo”, disse Trump, acrescentando: “Quando eu digo ‘talvez’, eu sei exatamente sobre o que estou falando”.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala aos meios de comunicação durante uma reunião com a liderança do Congresso no aposento Roosevelt na Casa Branca, em 28 de novembro de 2017, em Washington DC (Kevin Dietsch-Pool/Getty Images)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala aos meios de comunicação durante uma reunião com a liderança do Congresso no aposento Roosevelt na Casa Branca, em 28 de novembro de 2017, em Washington DC (Kevin Dietsch-Pool/Getty Images)

O Sputnik, uma das agências de notícia estatais da Rússia voltadas para o exterior e responsável por propagar os pontos de vista e as narrativas do governo russo, tem veiculado uma visão particularmente negativa sobre o esforço dos EUA para impedir o programa de mísseis nucleares de Kim.

A agência tem frequentemente abafado as declarações bombásticas de Kim, concentrando-se, ao invés disso, na dissecação da posição dos Estados Unidos no conflito.

Agora, parece que a Rússia está preparada para aplicar o esforço para impedir a Coreia do Norte de obter armas nucleares.

Nos últimos dias, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que sanções adicionais são inúteis. “Nós temos enfatizado repetidamente que a pressão das sanções está essencialmente esgotada”, disse ele, segundo o Sputnik News.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante uma coletiva de imprensa em Moscou em 12 de abril de 2017 (Reuters/Sergei Karpukhin)
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante uma coletiva de imprensa em Moscou em 12 de abril de 2017 (Reuters/Sergei Karpukhin)

Ele também advertiu que a Rússia não abandonará a Coreia do Norte se os Estados Unidos tomarem medidas militares contra o regime, dizendo que “farão tudo para evitar que isso aconteça e promover a solução da questão exclusivamente por meios políticos e diplomáticos pacíficos”, publicou o Sputnik News.

Patrocinadores da Coreia do Norte

Os governos da Rússia e da China são mais do que os aliados mais essenciais do regime da Coreia do Norte ─ eles são seus progenitores.

Kim Il-Sung, o avô de Kim Jong-Un, foi nomeado para governar o país pela União Soviética em 1948, depois que a península foi dividida entre os soviéticos e os americanos após a Segunda Guerra Mundial.

Quando o ancião Kim decidiu invadir a Coreia do Sul em 1950 com seu exército suprido pelos soviéticos, ele quase conquistou toda a península. Mas após as forças da UNU reagirem e varrerem o Norte, começaram a dominar o regime norte-coreano. Foi quando então o regime chinês enviou tropas para empurrar as forças da ONU para a fronteira atual.

Tropas da 31ª Divisão de Infantaria, a bordo do LST, desembarcam no Porto de Inchon, na Coreia, em 18 de setembro de 1950, Hunkins (Domínio público/Exército dos EUA)
Tropas da 31ª Divisão de Infantaria, a bordo do LST, desembarcam no Porto de Inchon, na Coreia, em 18 de setembro de 1950, Hunkins (Domínio público/Exército dos EUA)

Mais tarde, quando a União Soviética entrou em colapso, em 1991, e a ajuda soviética de repente parou de fluir para a Coreia do Norte, centenas de milhares de vidas foram perdidas devido à fome. O governo da China se tornou o cordão umbilical do regime.

A dependência do regime da Coreia do Norte em relação aos governos russo e chinês é uma dinâmica que continua até hoje.

A China e a Rússia sinalizaram muito cedo que não implementariam o tipo de sanções que obrigariam Kim à mesa de negociação. Apesar de Donald Trump ter tentado convencê-los a fazer mais, essa posição não mudou.

Este é o porquê de as autoridades americanas terem estado sinalizando que os Estados Unidos estão preparados para tomar medidas unilaterais para acabar com a crise atual. É uma mensagem significativa tanto para a Rússia quanto para a China, como também para a Coreia do Norte.

Marinheiros sul-coreanos participam de um exercício militar na Ilha Baengnyeong, da Coreia do Sul, perto da fronteira marítima disputada com o Norte, em 7 de setembro de 2017 (Choi Jae-gu, Yonhap/Reuters)
Marinheiros sul-coreanos participam de um exercício militar na Ilha Baengnyeong, da Coreia do Sul, perto da fronteira marítima disputada com o Norte, em 7 de setembro de 2017 (Choi Jae-gu, Yonhap/Reuters)

No sábado (2), durante um evento no Fórum de Defesa Nacional Reagan, em Simi Valley, Califórnia, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, H. R. McMaster, disse que a Coreia do Norte representa “a maior ameaça imediata para os Estados Unidos”.

McMaster também afirmou que a possibilidade de guerra estava crescendo. “Eu acho que está aumentando todos os dias, o que significa que estamos em uma corrida, realmente, estamos em uma corrida para conseguir resolver esse problema”, disse McMaster.

O conselheiro de Segurança Nacional, H. R. McMaster, fala com repórteres na Casa Branca em 2 de novembro de 2017 (Samira Bouaou/Epoch Times)
O conselheiro de Segurança Nacional, H. R. McMaster, fala com repórteres na Casa Branca em 2 de novembro de 2017 (Samira Bouaou/Epoch Times)

Trump está preparado para entrar em guerra para impedir Kim Jong-Un de conseguir um míssil balístico equipado com armas nucleares capaz de atingir os Estados Unidos, disse à CNN a senadora republicana Lindsey Graham na semana passada.

Enquanto as mídias estatais russas e chinesas têm denunciado os exercícios militares norte-americanos na região e as declarações firmes de Trump contra o regime norte-coreano, os governos da Rússia e da China também sabem que poucas e limitadas sanções impediram Kim de buscar armas nucleares.

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