China e Rússia bloqueiam declaração da ONU condenando atrocidades no Sudão

06/06/2019 19:51 Atualizado: 06/06/2019 23:05

Por Frank Fang, Epoch Times

A China e a Rússia impediram que o Conselho de Segurança da ONU aprovasse uma declaração para condenar os governantes militares sudaneses por seus massivos assassinatos de cidadãos.

Em 3 de junho, as forças de segurança do Sudão dispersaram violentamente um acampamento de protesto do lado de fora do prédio do Ministério da Defesa, no centro de Cartum, a capital do Sudão. As imagens compartilhadas na mídia social e verificadas pela Reuters mostraram cenas caóticas de pessoas fugindo quando rajadas sustentadas de tiros estalavam no ar.

Segundo a Reuters, o número de mortos da violenta repressão atingiu  60, de acordo com médicos ligados aos manifestantes.

Os principais organizadores do protesto, a Associação de Profissionais do Sudão (SPA), uma associação de 15 diferentes sindicatos sudaneses, pediram um comitê internacional para investigar as mortes, chamando a violência de 3 de junho de um “massacre”, segundo a Reuters.

Os manifestantes pró-democracia estão acampados do lado de fora do quartel-general desde 6 de abril, depois das manifestações contra o governo que eclodiram em todo o país, em dezembro do ano passado, devido à alta nos preços do pão e à escassez de dinheiro.

Os protestos em todo o país pediram que o atual presidente do Sudão, Omar al-Bashir, renunciasse. Ele foi preso em 11 de abril e mais tarde acusado de incitar e participar do assassinato de manifestantes que pediram o fim de seu governo.

Os generais sudaneses tomaram o poder depois que al-Bashir foi deposto, formando uma junta militar chamada Conselho Militar de Transição (TMC).

Desde então, o protesto em Cartum continua. Os manifestantes agora exigem que a TMC entregue o poder às autoridades civis – até que as eleições sejam realizadas em três anos.

O Conselho de Segurança da ONU realizou uma reunião a portas fechadas em 4 de junho, a pedido da Grã-Bretanha e da Alemanha, para ouvir uma informação do enviado da ONU Nicholas Haysom, segundo a AFP.

A Grã-Bretanha e a Alemanha circularam uma declaração de imprensa que teria chamado os governantes militares e os manifestantes do Sudão a “continuar trabalhando juntos para uma solução consensual para a atual crise”. O rascunho da declaração da imprensa foi visto pela AFP.

Pequim apoiando o Sudão

No entanto, a China se opôs firmemente ao texto proposto na declaração à imprensa, segundo a AFP, citando diplomatas não identificados.

O regime chinês é um conhecido defensor de al-Bashir, que foi acusado de crimes de guerra em um tribunal internacional por seu papel na execução do genocídio durante a guerra civil em Darfur.

A China é também a principal vendedora de armas para o Sudão e principal compradora de petróleo sudanês, estimulando grupos de direitos humanos como a Human Rights Watch a condenar a China por alimentar o conflito armado e a crise humanitária em Darfur.

A China também investiu pesadamente na indústria petrolífera do Sudão. O país africano atualmente deve cerca de US$ 10 bilhões da dívida do Sudão.

Enquanto isso, o vice-embaixador da Rússia, Dmitry Polyanskiy, disse que a declaração proposta é “desequilibrada” e ressaltou a necessidade de ser “muito cauteloso nesta situação”, segundo a AFP.

De acordo com diplomatas não identificados, a Rússia também insistiu que o Conselho de Segurança da ONU esperasse por uma resposta da União Africana primeiro.

Condenação

Depois que o Conselho de Segurança não divulgou uma declaração conjunta, oito países europeus divulgaram uma declaração afirmando que “condenam os ataques violentos no Sudão por parte dos serviços de segurança sudaneses contra civis”.

Os oito países foram Bélgica, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Polônia, Holanda e Suécia.

Além disso, o comunicado europeu também criticou o TMC dizendo que o “anúncio unilateral do conselho para cessar as negociações, nomear um governo e convocar eleições dentro de um período de tempo muito curto é de grande preocupação”.

Pano de fundo

Em 15 de maio, o TMC chegou a um acordo com a principal aliança da oposição, chamada de Declaração de Liberdade e Forças de Mudança (DFCF), para um período de transição de três anos em uma administração civil. Segundo a BBC, os dois lados concordaram em formar um conselho soberano, um gabinete e um órgão legislativo que governará o Sudão até as eleições.

No entanto, outras negociações sobre quem comandaria esse órgão de transição – uma figura civil ou militar – foram rompidas entre os dois lados.

Em 4 de junho, um dia depois da brutal repressão, o tenente-general e chefe do TMC, Abdel Fattah al-Burhan, cancelou todos os acordos anteriores com a FDFC, e convocou eleições gerais dentro de nove meses.

A aliança da oposição rejeitou o plano de nove meses.

Segundo a AFP, os diplomatas do Conselho de Segurança da ONU esperam agora uma reunião do Conselho de Paz e Segurança da União Africana em 5 de junho para dar uma resposta à crise.