Por Alicia Marquez
O regime chinês anunciou neste fim de semana um novo acordo com a Argentina no âmbito do G-20 para ampliar a colaboração em diferentes áreas como investimentos, setor aeroespacial, comunicações, energia e mineração, oceanos; o que gerou preocupação entre especialistas.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou em uma reunião com seu homólogo argentino, Santiago Cafiero, no sábado, que Pequim está disposta a trabalhar para aumentar ainda mais a cooperação com a Argentina, segundo informado pela mídia estatal chinesa Global Times.
Além disso, o oficial chinês elogiou o que chamou de “resposta ativa” do governo argentino à construção da Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota. Wang também observou que a China continuará a enviar suprimentos médicos e vacinas.
De acordo com o comunicado chinês, Cafiero adere “firmemente à política de uma só China”, lembrando que a Argentina está pronta para fortalecer a cooperação com Pequim em diferentes áreas para o 50º aniversário das relações bilaterais.
No entanto, essa ampliação dos acordos entre Argentina e China tem gerado preocupação entre os especialistas.
Dependência da Argentina com a China
Evan Ellis, um especialista em questões relacionadas à China e América Latina, afirmou ao Epoch Times que esses acordos e a menção da China à Iniciativa Um Cinturāo, Uma Rota, seria um prefácio para a Argentina se tornar o 20º país latino americano neste projeto armadilha de dívida.
“Essa cooperação entre China e Argentina é consistente com a trajetória de outros governos da região, seguindo a estratégia de intensificação de governos populistas e mudanças em seus governos democráticos”, afirmou Ellis.
“Essa interação com a China é consistente com [outros exemplos] como Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales – com o uso de dinheiro chinês em condições tradicionais para dar a esses governos populistas de esquerda mais liberdade para acabar com a democracia, transparência e fazer com que de alguma forma, seu país dependa da China”.
No setor petrolífero, Ellis afirma que a já estabelecida presença chinesa na Argentina está sendo reforçada desde 2010 com a Pan American Energy Group, Bridas, Vaca Muerta; assim como na mineração tradicional, com participação chinesa em um grande projeto de ouro e no setor de lítio. O especialista também aponta preocupações recentes sobre a questão da produção de suínos na Argentina, “o qual tem apresentado problemas em relação ao impacto ambiental da expansão da suinocultura argentina”.
“Estou preocupado que a Argentina e seu governo se tornem menos democráticos, menos transparentes, mais corruptos e mais dependentes da China no curto prazo”, acrescentou. “E que a Argentina permita entregar mais de seus produtos e recursos à China aumentando a posição estratégica chinesa no hemisfério em vários aspectos”, já que é um dos maiores e mais importantes países da América do Sul, afirmou.
Frota chinesa nos mares argentinos
Além disso, a questão dos oceanos e da Antártica também alarma os especialistas quanto à cooperação entre Argentina e China.
O responsável pelo Programa Marinho da organização Círculo de Políticas Ambientais, Milko Schvartzman, manifestou sua discordância, por se tratar de um assunto que não foi divulgado publicamente.
“O acordo sobre o uso dos oceanos e da Antártica, por um lado, é algo que tem sido escondido do resto da sociedade argentina, e por outro, gera muita indignação em todas as sociedades, já que todos os anos nós, argentinos, somos testemunhas de que em todas as manchetes dos jornais estão as perseguições aos barcos de pesca ilegais chineses o que viola a soberania argentina”, declarou Schvartzman ao Epoch Times.
Schvartzman destaca que a receita média das embarcações de pesca ilegais chinesas chega a 5 embarcações ilegais por ano e afirma que “2021 marcará o 20º aniversário da primeira embarcação chinesa flagrada praticando pesca ilegal no mar argentino; A pesca ilegal chinesa está no mar argentino há 20 anos”.
“Toda a frota chinesa de cerca de 400 barcos (…) captura elefantes-marinhos, leões marinhos, golfinhos, tubarões, arraias – muitas outras espécies de animais, não apenas espécies de peixes. Toda essa frota chinesa é subsidiada pelo Estado chinês e muitas dessas embarcações pertencem ao Estado chinês”, acrescentou.
Ou seja, “o Estado chinês pratica pesca ilegal de forma aberta, é uma agressão contra a Argentina e por outro lado a Argentina assina acordos com a China sobre os oceanos”.
Schvartzman afirma que esses acordos não são algo que beneficie a sociedade argentina ou o ecossistema marinho do Atlântico Sul, ou a soberania de seu país.
Ele também destacou as violações aos direitos humanos, e alertou que as embarcações chinesas em 2019 estavam inseridas no ranking global da Escravidão na Indústria Pesqueira.
“A China é o país com mais queixas de direitos humanos a bordo”, acrescentou, “e no caso da frota que opera no Atlântico Sul, é uma frota documentada, a partir de dados oficiais do governo uruguaio, que descarrega regularmente tripulantes falecidos e feridos no porto de Montevidéu”.
“É muito estranho que a Argentina assine um acordo com um país que não respeita os direitos humanos”, acrescentou.
Em relação à Antártica, Schvartzman destacou que recentemente a Rússia e a China rejeitaram a proposta da Argentina e do Chile apresentada no ano passado sobre a criação de uma área de conservação dos recursos marinhos vivos.
“Entre 2019 e 2020, a China aumentou sua pesca na Antártica em 120 por cento”, afirmou.
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