Por Frank Fang, Epoch Times
O Camboja, diante da possibilidade de perder seu status comercial preferencial com a União Europeia, decidiu buscar apoio e estreitar laços com Pequim.
Foi o líder cambojano Hun Sen quem revelou que a China forneceria assistência, em um post em sua página oficial no Facebook em 29 de abril. Hun disse que o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, prometeu apoio, embora não tenha dado mais detalhes. As autoridades chinesas não confirmaram a mudança no momento da publicação.
Hun também revelou que a China fornecerá 600 milhões de yuans (cerca de US$ 89 milhões) em ajuda militar ao setor de defesa do Camboja. Ele esteve recentemente na China em uma viagem de cinco dias para participar do Belt and Road (Um Cinturão, Uma Rota) Forum, que terminou em 27 de abril.
Atualmente, o Camboja se beneficia da iniciativa “Tudo Menos Armas” (EBA) da União Europeia. Efetiva desde 2001, a iniciativa permite que os países menos desenvolvidos do mundo exportem quaisquer bens – exceto armas – isentos de impostos e de cotas para o mercado da UE.
Moradores já expressaram dúvidas de que a China poderia vir ao socorro do Camboja.
“A China não é capaz de fornecer ajuda ao Camboja quando perde a EBA porque a China é um país exportador, não importador”, disse Rong Chhun, presidente de um dos maiores sindicatos de trabalhadores do país, a Confederação de Sindicatos, em recente entrevista com a Radio Free Asia (RFA).
“A China tem suas próprias motivações para ‘ajudar’ o Camboja”, disse ele.
Status de comércio especial sob ameaça
A UE é um dos maiores parceiros comerciais do Camboja. Em 2017, o Camboja exportou cerca de US$ 5,8 bilhões em bens para a UE, respondendo por cerca de 40% das exportações totais do Camboja, de acordo com dados da UE.
No entanto, em fevereiro, a Comissão Europeia iniciou um processo de revisão de 18 meses, que inclui um período de seis meses de monitoramento intensivo e envolvimento com autoridades cambojanas, para determinar se o Camboja deveria ser temporariamente suspenso da EBA por causa de seus direitos humanos, de acordo com um comunicado de imprensa da Comissão.
Em 2017, a Suprema Corte do Camboja dissolveu o principal partido de oposição do Camboja, o Partido Nacional de Resgate do Camboja (CNRP), que acabou abrindo caminho para que Hun ganhasse seu sexto mandato durante uma eleição geral em 2018. Desde então, a mídia informou que o governo de Hun prendeu muitos dissidentes políticos e reprimiu os meios de comunicação independentes no Camboja.
A RFA, em um relatório de 30 de abril, informou que o governo cambojano se recusou a permitir que a Relatora Especial dos Direitos Humanos da Camboja, Rhona Smith, se reunisse com Kem Sokha, líder do CNRP, durante sua visita de 29 de abril a 9 de maio. Sokha está em prisão domiciliar desde que foi libertado da prisão em setembro de 2018.
Relacionamento com a China
A China rapidamente expandiu seu relacionamento econômico com o Camboja. De acordo com a mídia estatal chinesa Xinhua, o volume de comércio entre os dois países foi avaliado em US$ 5,8 bilhões em 2017, um aumento de 22% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, a China investiu pesadamente no país do Sudeste Asiático, com US$ 12,6 bilhões em investimentos em ativos fixos de 1994 a 2017.
No entanto, o comércio com a China é altamente desequilibrado. De acordo com dados comerciais da ONU, a China importou apenas US$ 688 milhões em bens do Camboja em 2017, em comparação com a compra de US$ 2,13 bilhões dos Estados Unidos.
O Camboja também está fortemente endividado com a China. O país deve US$ 3 bilhões, ou quase metade de sua dívida externa, à China, segundo várias fontes.
O governo de Hun é um dos primeiros defensores da iniciativa Um Cinturão, Uma Rota (One Belt, One Road, OBOR, também conhecida como Belt and Road). Lançada por Pequim em 2013, é o principal projeto do regime chinês para aumentar a influência geopolítica por meio de investimentos em todo o sudeste da Ásia, África, Europa e América Latina.
Segundo a Reuters, Hun fechou vários acordos em sua última viagem à China, incluindo um acordo para que a gigante chinesa de tecnologia Huawei desenvolva o 5G da Camboja – a próxima geração de comunicações sem fio.
O analista político cambojano Kim Sok, que agora reside na Finlândia depois de obter asilo, disse em uma recente entrevista à RFA que Hun estava “vendendo o Camboja para a China” apoiando a iniciativa OBOR de Pequim.
“Em troca, [Hun Sen] não recebe nada em termos de interesse nacional dos chineses … apenas proteção para seu poder pessoal.”