A Câmara baixa do Parlamento da Alemanha (Bundestag) aprovou, neste quarta-feira (30), uma moção de condenação do Holodomor (ou Grande Fome), por meio da qual atribui a consideração de genocídio à crise de fome que matou milhões de pessoas na Ucrânia em 1932 e 1933.
O Bundestag “compartilha da classificação histórico-política” dos acontecimentos como “genocídio” sugerida pelas interpretações contemporâneas, afirma a moção, ratificada por maioria parlamentar.
Os deputados da coalizão governista de social-democratas, verdes e liberais, assim como a oposição conservadora – grupos que apresentaram a resolução – votaram a favor, enquanto os direitistas do Alternativa para a Alemanha (AfD) e os esquerdistas do Die Linke se abstiveram.
“Os paralelismos com a situação atual não podem ser esquecidos, mais uma vez um ditador no Kremlin está tentando subjugar, destruir a Ucrânia”, disse antes da votação um dos impulsores da moção, o deputado verde Robin Wagener.
A morte de milhões de ucranianos pela fome não foi resultado de colheitas ruins, mas foi responsabilidade do regime soviético, então chefiado por Joseph Stalin, destaca o texto aprovado.
Para consolidar seu poder e impulsionar a qualquer custo a industrialização da União Soviética, o regime de Stalin confiscou colheitas, deportou camponeses e usou a fome como punição, bloqueando as regiões afetadas para impedir a fuga dos famintos, segundo o documento.
“Somente no inverno de 1932-1933, entre 3 milhões e 3,5 milhões de pessoas morreram de fome na Ucrânia”, lembra a moção, que observa que o massacre também visava reprimir a consciência nacional ucraniana.
“No caso do crime político do Holodomor, se fundiram as aspirações do governo soviético de controlar e reprimir tanto os camponeses quanto as periferias do projeto de dominação soviética e a forma de vida, a língua e a cultura ucranianas”, acrescenta.
Apesar de classificar os eventos como genocídio, a resolução reconhece que em outras partes da União Soviética, como o Cazaquistão, milhões de pessoas morreram como resultado de fomes produzidas de maneira artificial.
A moção conclui instando o governo a apoiar a celebração da memória das vítimas da Grande Fome e impedir as tentativas da Rússia de impor sua narrativa histórica “unilateral” sobre os eventos.
Vários parlamentos de países europeus já reconheceram a Grande Fome como genocídio, incluindo os dos países bálticos, Polônia, Hungria, República Tcheca e Portugal.
Desinformação sobre o Holodomor
Até hoje a desinformação propagada pela União Soviética sobre o Holodomor é considerada, mesmo sem qualquer prova credível que sustente a alegação soviética de que a Grande Fome que devastou a Ucrânia foi uma “propaganda” nazista. Entretanto, os descendentes dos milhões de mortos ucranianos, historiadores e especialistas sobre o assunto comprovam que o Partido Comunista da União Soviética, propositadamente, praticou crime de genocídio contra o povo ucraniano.
O Dr. Bohdan Klid, diretor de pesquisas do Consórcio para Educação e Pesquisa sobre o Holodomor da Universidade de Alberta, no Canadá, abordou o assunto em entrevista a NTD, mídia irmã do Epoch Times. Ele explicou como no final da década de 1920, foram impostas políticas comunistas de coletivização pelo governo soviético.
“O lado ideológico era que os pequenos agricultores eram, na verdade, remanescentes da velha ordem burguesa, e nós temos que destruí-los e criar uma nova ordem socialista no interior do país. E era para isso ser feito transformando as terras em fazendas coletivas ou fazendas controladas pelo Estado.”
Ao ser indagado sobre como os ucranianos lidaram com essa tentativa de doutriná-los a força pelo regime comunista soviético, o Dr. Klid ressaltou: “Você tinha fazendeiros que estavam um pouco melhor de vida, que eram chamados de exploradores, e então eram presos, reprimidos, alguns até mesmo mortos. Então eles e suas famílias eram mandados para a Sibéria ou outros lugares. “
A perda foi tamanha para a agricultura do país que logo a produção caiu. Nisso, no inverno de 1930 para 1932, o governo soviético cortou o fornecimento de alimentos, mas não foi só isso.
Como consequência dessa escalada de repressão e perseguição, a agricultura do país entrou em um declínio vertiginoso e no inverno entre 1930 e 1932, o regime soviético cortou o fornecimento de alimentos e proibiu os ucranianos de saírem do país.
“Camponeses podiam ir para a Rússia, comprar grãos, voltar e alimentar suas famílias. E em janeiro de 1933, autoridades soviéticas emitiram um decreto que bloqueou a Ucrânia e a Ciscaucásia de outras áreas da União Soviética. Então, camponeses não podiam viajar de áreas que não tinham comida para áreas em que alimentos eram mais disponíveis.” Disse o Dr. Bohdan Klid.
Então, conforme a situação da fome se intensificava, o Partido Comunista soviético piorou suas medidas autoritárias e, por decisões políticas, conforme salientou o Dr. Bohdan Klid, provocou a tragédia anunciada.
“As decisões que originalmente causaram a fome, foram decisões políticas, e então ao invés de recuar, revisar políticas, olhar para os erros e decisões que levaram a essas condições terríveis, as autoridades soviéticas decidiram que não, nós vamos apostar, vamos intensificar os esforços para terminar a campanha de coletivização para destruir qualquer resistência que ainda exista à sua política.”
“E então, é claro, as autoridades soviéticas estavam exportando grãos durante a fome. Se eles realmente quisessem impedir que as pessoas morressem de fome, tudo o que eles tinham que fazer era parar a exportação de grãos, redistribuir suprimentos e se certificar de que as pessoas tinham alimentos o suficiente. E as autoridades soviéticas não fizeram isso, em sua maioria.” destacou o Dr. Bohdan.
Diante desses e outros fatores, Dr. Bohdan e uma ampla comunidade de pesquisa sobre o Holodomor são unânimes em seu veredito:
“Então essa é outra razão pela qual se pode argumentar que essa foi uma fome deliberada, uma fome artificial, criada por autoridades, para punir os rebeldes ou as nações que não aceitavam ou resistiam a ordem soviética.”
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