Uma força-tarefa entre Brasil e Itália está em curso para desmantelar a conexão internacional entre a máfia italiana ‘Ndrangheta, da Calábria, e as facções criminosas brasileiras: Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo.
A união dos dois países no combate ao crime organizado se intensificou depois que o mafioso Vicenzo Pasquino, preso em 2021 em João Pessoa, durante a Operação Eureka, e deportado para o seu país de origem, fechou acordo de colaboração premiada com as autoridades locais em julho de 2024.
Em sua delação, o mafioso, que está preso em Roma, capital da Itália, forneceu detalhes das relações de sua organização criminosa com as facções brasileiras, como o PCC e o CV, incluindo uma lista com os codinomes usados pelos criminosos. No meio policial e judiciário, é considerado raro um líder da ‘Ndrangheta delatar.
Pasquino estava foragido desde 2019. Na mesma operação, realizada em colaboração entre a Polícia Federal (PF) e a polícia italiana, também foi preso, em João Pessoa, o líder da ‘Ndrangheta, o mafioso Rocco Morabito, conhecido como “Rei da Cocaína”.
Pelo lado brasileiro, a força-tarefa conta com um procurador do Ministério Público Federal, Lincoln Gakiya, que representa a unidade da instituição em São Paulo, e um promotor do Rio de Janeiro.
Em outubro, procuradores e promotores brasileiros se reuniram em Foz do Iguaçu com o procurador nacional antimáfia da Itália, Giovanni Melillo.
Dias após o encontro, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, viajou a Roma junto com Gakiya. As autoridades brasileiras falaram com o mafioso Pasquino, segundo informações do Estadão.
Mensagens inéditas da Operação Eureka, a maior investigação sobre os negócios mundiais da máfia italiana, revelam que o PCC recebeu armas da ‘Ndrangheta e, em troca, enviou toneladas de cocaína do Brasil para a Europa.
A Operação Eureka já resultou na prisão de 108 traficantes e na apreensão de 23 toneladas de cocaína.
Saiba mais sobre Vicenzo Pasquino
O mafioso Vicenzo Pasquino, de 34 anos, é apontado como o maior intermediário do tráfico de cocaína da América do Sul para as ndrine, os clãs mafiosos da máfia ‘Ndrangheta, a mais poderosa organização criminosa da Itália.
Em novembro e dezembro de 2023, durante seus interrogatórios na Penitenciária Federal de Brasília, Pasquino admitiu, pela primeira vez, seu envolvimento com as atividades da ‘Ndrangheta, também no Brasil. Ele contou que fazia parte da organização desde 2011.
Pasquino chegou ao Brasil em 2017 para operar a logística do envio de drogas para a Europa. Ele fixou residência no Paraná e, depois, mudou-se para São Paulo, no bairro do Tatuapé, onde parte da liderança da “Sintonia do Tomate”, facção ligada ao tráfico transatlântico do PCC, levava vida de luxo.
A região nobre paulistana é apelidada de “Little Italy“, em referência ao famoso bairro de Nova Iorque, anteriormente dominado pela máfia.
O criminoso Pasquino é casado com Morena Maggiore, filha de um importante mafioso da Sicília.
Conforme o Estadão, a delação de Pasquino pode causar um “terremoto” comparável aos efeitos da colaboração de Tommaso Buscetta, chefe da máfia Cosa Nostra, que também foi preso no Brasil nos anos 1980.