O alto representante da União Europeia para as Relações Exteriores e a Política de Segurança, Josep Borrell, alertou sobre as consequências de uma hipotética guerra entre Irã e Israel, e também lamentou que o bloco tenha demorado muito para concordar em dar à Ucrânia certas capacidades de defesa, como aviões de combate.
“Se, por acidente ou vontade, houvesse uma guerra total entre Israel e Irã, as consequências seriam ainda maiores para todos nós”, declarou o político espanhol na Conferência Europeia de Segurança e Defesa, realizada nesta quarta-feira em Bruxelas.
Borrell enfatizou que o ambiente de segurança da Europa “mudou drasticamente” entre a invasão da Ucrânia em larga escala por parte da Rússia e o conflito no Oriente Médio.
Ele relembrou o conflito que começou com o “ataque terrorista do Hamas (a Israel em 7 de outubro de 2023), seguido pelo ataque das Forças de Defesa de Israel (FDI) contra Gaza e depois o Líbano, e agora a represálias de um lado e outro entre Irã e Israel”.
Se a conjuntura piorar “envolvendo instalações nucleares, de produção de petróleo, talvez tropas em terra na guerra no Líbano, então a situação de segurança na Europa vai ficar realmente perigosa”, declarou.
Borrell também se referiu a outros conflitos, como em Sudão e Sahel, e disse que a Europa está “cercada por um arco de fogo de Gibraltar até o Báltico”.
Sobre a guerra na Ucrânia, Borrell lamentou o fato de a UE ter levado tanto tempo para decidir se enviava caças, tanques Leopard e sistemas Patriot para o país.
“Toda vez que aumentamos a natureza do nosso apoio, passamos meses debatendo, fazendo (no final) o que foi proposto no início. E isso é algo pelo qual me sinto culpado. Deveríamos ter feito a mesma coisa de uma forma mais rápida”, afirmou Borrell, além de acrescentar que o atraso “foi medido em vidas”.
“Se tivéssemos sido mais enérgicos desde o início, fornecendo à Ucrânia as armas que acabamos enviando a ela, talvez a guerra fosse diferente”, disse.
O alto representante da UE destacou que agora há um debate sobre se a Ucrânia tem permissão para atacar a Rússia dentro do território desse país com as armas doadas.
Ele disse acreditar que muito foi feito em apoio à Ucrânia, “mas talvez muito lentamente”.
“Para o futuro, essa lição precisa ser aprendida. Se você quer apoiar alguém que está enfrentando uma guerra, coloque desde o início todas as capacidades de que ele precisa e que você está preparado para fornecer”, explicou, além de acrescentar que o apoio militar da UE à Ucrânia atualmente não está no nível adequado.
Ele também disse que o ex-comissário de Mercado Interno da UE, Thierry Breton, fez “um trabalho extraordinário” para aumentar a capacidade de produção de munição do setor de defesa europeu.
Borrell lembrou que, por meio do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, com o qual a UE financiou o envio de armas para a Ucrânia desde a invasão do país em 2022, o apoio militar no valor de 42 bilhões de euros já foi entregue a Kiev. Ele acrescentou que, até o final do ano, a quantia chegará a 45 bilhões de euros.
O alto representante da UE também advertiu que o envolvimento dos Estados Unidos na segurança europeia está se tornando “cada vez mais incerto”.
Sobre o aumento do financiamento da defesa europeia, ele disse que, se não for possível esperar pelo próximo orçamento plurianual que começa em 2028, deve-se recorrer à emissão conjunta de dívida pela UE.
“Podemos esperar pelo próximo orçamento plurianual em 2028? Podemos esperar quatro anos? Acho que não. Se não pudermos esperar pelo próximo orçamento plurianual, devemos antecipar recursos emitindo dívida europeia, como fizemos em 2020 em resposta à covid-19”, comentou.
Segundo Borrell, uma possibilidade é emitir dívida para financiar um esforço militar em apoio à Ucrânia, com o objetivo de forçar o presidente russo, Vladimir Putin, a negociar para acabar com a guerra.
Ele disse que essa é uma possibilidade permitida pelos atuais tratados europeus.
Uma segunda opção, de acordo com Borrell, é emitir títulos de dívida comum para aumentar a preparação da defesa e financiar melhor as capacidades dos exércitos europeus.
A terceira opção, de acordo com o chefe da diplomacia da UE, é aumentar a capacidade da indústria e da tecnologia de defesa com dívida comum.