Por Agência EFE
O Alto Representante da União Europeia (UE) para Assuntos Exteriores e Política de Segurança, Josep Borrell, advertiu que se o bloco não estabelecer “mais e melhores relações” com a América Latina, terá o espaço ocupado pela China.
O político espanhol fez a afirmação durante entrevista virtual concedida à presidente da Agência Efe, Gabriela Cañas, em meio as dificuldades que os 27 países da UE e os quatro do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) estão tendo para ratificar o acordo comercial firmado em 2019, após 20 anos de negociações.
“Acho que deve haver uma solução política para isso, porque se não estabelecermos mais e melhores relações com a América Latina, seremos superados pela China, uma vez que a China está desembarcando na América Latina mais do que na África”, apontou Borrell.
O avanço do gigante asiático junto aos países latino-americanos, especialmente, os banhados pelo Pacífico, segundo explica o chefe da diplomacia da UE, está acontecendo com “investimentos, com atividades culturais, com comércio”, tirando o bloco comunitário da segunda posição entre os parceiros comerciais da região.
Borrell garante que a União Europeia precisa inverter a situação e apresenta sugestões para que isso aconteça.
“Temos que voltar a ocupar o espaço, para seguir tendo influência e para nos beneficiarmos do desenvolvimento da América Latina. E a América Latina também precisa disso”, aponto o espanhol.
Segundo o vice-presidente da CE, o bloco precisa ser capaz de completar o acordo com o Mercosul, “não só nos aspectos comerciais, que já estão fechados, mas também nos políticos e institucionais, além dos aspectos ambientais e climáticos”.
As dúvidas de membros europeus sobre tópicos relacionados ao meio-ambiente e ao desenvolvimento sustentável, que travam o acordo, foram expressadas por países como França, Holanda, Áustria e Bélgica.
A submissão ao Parlamento Europeu é o último estágio no processo de ratificação.
SALVAR E MODERNIZAR ACORDOS
“Salvar”, nos termos ditos por Borrell, o acordo com o Mercosul e modernizar aqueles feitos com México e Chile são três grandes desafios comerciais que a União Europeia tem na agenda para o primeiro semestre de 2021.
Contudo, o Alto Representante da União Europeia e vice-presidente da Comissão Europeia não esconde as dificuldades no longo caminho até a ratificação dos textos, já que é preciso do sinal verde de todos os parlamentos nacionais e, em alguns casos, regionais da própria UE, além dos outros países envolvidos.
PAPEL INSUFICIENTE
Borrell discorda dos que acreditam que é melhor “nenhum acordo”, garantindo que se trata do contrário, por razões de influência, já que empresas europeias investiram mais na América Latina do que no Japão, China, Rússia e Índia juntas.
“Os ovos que todos nós europeus colocamos na cesta latino-americana, provavelmente mais os espanhóis do que os poloneses, são muito importantes e estamos cientes disso”, afirmou o vice da CE.
O espanhol reconhece que a América Latina “não ocupa na agenda europeia o papel que deveria ter”, porque a projeção histórica, cultural e econômica é muito grande para alguns países, como Espanha, Itália, Portugal e França, mas muito menor para outros, especialmente, do leste do continente.
Como exemplo, Borrell lembrou que há cinco anos não é realizada uma cúpula entre a União Europeia e o Mercosul.
Por isso, destaca a importância de que a Alemanha – que neste semestre ocupa a presidência da UE -, tenha realizado uma conferência ministerial, em Berlim, com a América Latina.
O Alto Representante da União Europeia, além disso, lembrou-se da atuação do bloco junto aos países latinos, por exemplo, com a destinação de mais de 2,5 bilhões (R$ 15,5 bilhões), para a luta contra a pandemia da Covid-19.
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