A crescente adoção de criptomoedas na América Latina reflete uma tendência em alta em diversos países da região, impulsionada por fatores econômicos e necessidades específicas de cada nação.
A seguir, é apresentado um panorama diverso e dinâmico da situação das criptomoedas na Argentina, México, Venezuela, El Salvador, Brasil, Bolívia e Colômbia, que reflete como as criptomoedas estão moldando novas dinâmicas econômicas na América Latina, com cada país enfrentando seus próprios desafios e oportunidades no caminho para uma maior adoção de criptoativos.
Argentina: inovação impulsionada pela crise econômica
A constante desvalorização do peso argentino e uma inflação exorbitante têm levado os argentinos a adotarem cada vez mais as criptomoedas como uma alternativa de investimento e proteção de seu poder de compra. Segundo o Índice Global de Adoção Cripto 2023, elaborado pela Chainalysis, a Argentina ocupa a 15ª posição no ranking mundial, sendo superada na América Latina apenas pelo Brasil.
“A Argentina tem um nível de adoção de criptomoedas impressionante, por necessidade, pois tem vivido nos últimos 20 a 30 anos com muitos problemas econômicos,” aponta Pablo Casadio, cofundador e diretor financeiro da Bit2Me, à EFE. Esse cenário transformou o país em um ímã para grandes players internacionais e fomentou inovações locais como a Agrotoken, respaldada por grãos, e a Atómico 3, ancorada no lítio.
“O argentino é muito inovador e, para nós, o ecossistema ‘cripto’ argentino é impressionante,” acrescenta Casadio. Segundo Mariano Biocca, diretor executivo da Câmara Argentina Fintech, “há cerca de dez milhões de contas de operação de ativos virtuais na Argentina,” o que torna o país um líder regional em volume de ativos transacionados.
México: preparativos para uma moeda digital
No México, a adoção de criptomoedas continua em crescimento, com o Bitcoin dominando o mercado doméstico com uma participação de 99,5%. Bitso, a principal bolsa mexicana, detém uma participação de 40,7% no mercado latino-americano. “Embora nenhum banco aceite pagamentos com criptomoedas e apenas alguns negócios as tenham implementado, um dos principais usos é o envio de remessas dos Estados Unidos para o México,” destaca Kaiko, uma firma de pesquisa de mercados.
Em 2021, o Banco do México (Banxico) anunciou o lançamento de sua própria moeda digital, previsto agora para 2025. “O Banxico planeja lançar sua própria moeda digital de banco central; embora a atual governadora Victoria Rodríguez Ceja tenha dito que não será até 2025 que a moeda operará no país,” aponta um relatório.
Venezuela: criptomoedas como refúgio econômico
Na Venezuela, as criptomoedas são utilizadas principalmente como uma reserva de valor diante da constante inflação e desvalorização do bolívar. “Os venezuelanos não as usam a nível transacional, mas sim como um elemento de reserva de poupança,” explica à EFE Aarón Olmos, economista e especialista em criptomoedas. Essa estratégia permite aos cidadãos proteger seu dinheiro dos “golpes da situação econômica,” acrescenta.
O setor enfrenta limitações significativas devido à reestruturação da Superintendência de Criptoativos e Atividades Conexas (Sunacrip) após um escândalo de corrupção. “Todas as empresas com licença para operar permanecem intervenidas e suspensas,” comenta Olmos. Segundo o Índice Global de Adoção de Criptomoedas 2023, a Venezuela ocupa a 40ª posição a nível mundial.
El Salvador: uma aposta controversa
El Salvador chamou a atenção mundial em 2021 ao adotar o Bitcoin como moeda de curso legal, uma medida promovida pelo presidente Nayib Bukele para impulsionar a inclusão financeira e atrair investimentos estrangeiros. No entanto, três anos depois, a maioria da população ainda não utiliza a criptomoeda no dia a dia. “88% dos salvadorenhos não usaram a criptomoeda Bitcoin em 2023,” segundo uma pesquisa do Instituto Universitário de Opinião Pública (Iudop).
“Quase três anos depois, após analisar e observar o comportamento da população, podemos dizer que este experimento do governo fracassou,” aponta à EFE a economista Tatiana Marroquín. A inclusão financeira esperada não se materializou devido ao “desconhecimento do tema,” acrescenta a especialista.
Brasil: superando a crise da FTX
Mercado Bitcoin, uma das principais plataformas de criptomoedas na América Latina, conseguiu superar a crise provocada pela falência do gigante FTX. “Desde o início de 2024, estamos observando um crescimento que torna o negócio viável,” afirma Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin no Brasil. A plataforma conta com 3,8 milhões de usuários no gigante sul-americano e planeja lançar novos produtos financeiros, incluindo planos de renda fixa e um cartão bancário em parceria com a Mastercard.
“Estamos eliminando essa parte complexa do Bitcoin (…), o uso tem que ser suficientemente bom para que as pessoas esqueçam a tecnologia,” ressalta Rabelo. A recente regulamentação no Brasil melhora a confiança do investidor, embora o executivo alerte que “uma dose exagerada pode matar o paciente,” caso sejam impostas as mesmas exigências a uma plataforma de criptomoedas que a um banco tradicional.
Bolívia: desafios regulatórios e oportunidades
A Bolívia levantou recentemente a proibição de compra, venda e investimento em criptomoedas, abrindo novas oportunidades para seus cidadãos. “É muito importante a regulamentação; que não impeça, que não coloque obstáculos, mas que ajude,” comenta à EFE Jaime Dunn, analista financeiro. Atualmente, há 250.000 cidadãos bolivianos com contas cripto.
O Banco Central da Bolívia (BCB) iniciou um Plano de Educação Econômica e Financeira para promover um uso informado dos criptoativos. “A tecnologia que sustenta as criptomoedas, chamada ‘blockchain’, é uma base de dados descentralizada que se localiza em mais de um servidor,” detalha uma nota explicativa do BCB.
Colômbia: crescimento moderado em um marco regulatório em desenvolvimento
A Colômbia ocupa a posição 32 no Índice Global de Adoção Cripto 2023. O Banco da República e a Superintendência Financeira da Colômbia estão trabalhando em projetos piloto para inovações tecnológicas e financeiras. “Os criptoativos não estão regulamentados explicitamente nem reconhecidos como moeda oficial,” esclarece o Banco da República.
A Superintendência Financeira lançou a plataforma LaArenera para a realização de inovações tecnológicas e financeiras. “Após a conclusão do piloto, não foram observados incidentes que colocassem em risco a continuidade do piloto de intercâmbio,” afirma a Superfinanciera. No entanto, advertem que “os criptoativos não são respaldados por um banco central nem por ativos ou reservas dessa autoridade.”