O governo alemão advertiu, nesta segunda-feira, que não se deve fazer o jogo das campanhas de desinformação do líder russo, Vladimir Putin, e qualificou de absurda a ideia de que a Alemanha esteja planejando uma guerra contra a Rússia após o escândalo de escutas telefônicas de altos oficiais militares alemães.
“É mais uma tentativa das muitas que temos visto de dividir a sociedade na Alemanha e na Europa. Não devemos fazer o jogo de Putin e é por isso que nestes casos devemos ter muito cuidado com o que é dito. Mas a ideia de que a Alemanha está planejando uma guerra contra a Rússia é absurda”, disse o vice-porta-voz do governo, Wolfgang Büchner.
“Isto é usado para reforçar a história de um Ocidente agressivo e para fazer as pessoas esquecerem que é a Rússia que trava uma guerra de agressão há dois anos”, acrescentou.
Büchner se referiu também a um comentário na imprensa russa, segundo o qual os supostos planos de Berlim mostravam que a desnazificação da Alemanha ainda não tinha sido concluída.
“O absurdo é tão evidente que não há necessidade de comentar a frase”, disse.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Christian Wagner, por sua vez, disse que esta não é a primeira vez que este tipo de comentários é ouvido de atores próximos ao governo russo ou mesmo de funcionários governamentais.
A televisão estatal russa indicou, com base em escutas telefônicas realizadas pelos serviços secretos russos a membros do Exército alemão, que os militares alemães estavam planejando, pelas costas do chanceler alemão, Olaf Scholz, a utilização de mísseis Taurus de longo alcance para destruir a ponte da Crimeia.
Scholz rejeitou em inúmeras ocasiões o envio de mísseis Taurus para a Ucrânia, algo que outros membros da coligação governamental são a favor, argumentando que estas armas implicariam o perigo da Alemanha acabar por ter uma participação direta na guerra.
Sobre as conversas ouvidas pelos serviços secretos russos, o porta-voz da Defesa, Mitko Müller, disse que deixaram claro que não havia autorização para o envio do Taurus, que a decisão era da responsabilidade dos líderes políticos e que a Alemanha tinha de evitar tornar-se uma parte na guerra.
Müller admitiu que o fato dos russos terem conseguido espionar as comunicações dos militares alemães é algo grave e que, além de investigar o assunto, acredita que os superiores tentarão sensibilizar todos os soldados sobre os protocolos a seguir no uso de sistemas de comunicação.
Na Alemanha tem havido um debate há semanas sobre a necessidade de fazer mais pela Ucrânia e sobre a possibilidade de enviar o Taurus.
“Até 2024, a Alemanha contribuiu com 7 bilhões para a Ucrânia, é o país que mais contribui para a Ucrânia na Europa. A Alemanha não precisa de lições sobre como apoiar mais a Ucrânia. Em nenhum dos países que fazem menos existe um debate como o nosso”, disse Wagner.
O embaixador alemão em Moscou, Alexander Lambsdorff, esteve hoje no Ministério das Relações Exteriores da Rússia, segundo o governo alemão, seguindo uma convocação emitida há algum tempo e não relacionada com as escutas.