Aung San Suu Kyi mostra seus pés de barro

14/10/2017 22:53 Atualizado: 15/10/2017 15:47

Se houvesse estátuas de Aung San Suu Kyi fora da Birmânia, elas seriam cercadas por multidões enfurecidas tentando derrubá-las.

Seu Prêmio Nobel da Paz, de 1991, que os críticos querem revogar, agora parece sem sentido, como o concedido ao então presidente Barak Obama.

E até o ex-ministro das Relações Exteriores de Jean Chrétien (20º primeiro-ministro do Canadá, até 2003), Lloyd Axworthy (1996-2000), sugeriu que Ottawa devesse cancelar a cidadania canadense honorária dela. (O que provavelmente não está entre as principais preocupações dela.)

Ao longo de seus longos anos em prisão domiciliar por generais birmaneses que não queriam acabar com ela, mas incapazes de conter sua imagem como uma icônica representante da democracia, ela construiu uma projeção global semelhante à da Madre Teresa.

E, tendo finalmente sido libertada da custódia com a vitória esmagadora de seu partido político, os democratas em todo o mundo esperavam que abraçasse os Rohingya (minoria majoritariamente islâmica no país e uma das mais perseguidas do mundo, segundo as Nações Unidas) como uma minoria perseguida que precisava de seu apoio e proteção.

Em vez disso, vimos o outro lado da moeda: Suu Kyi como uma birmanesa nacionalista, mais que um pouco cética sobre a situação dos Rohingya na Birmânia e desdenhosa da exigência da ONU de que ela também atue em nome da minoria. Na verdade, ela (refletindo as atitudes de outros birmaneses) se refere a eles como ‘bengalis’ (termo que sugere que são oriundos de Bangladesh), alegando falsamente que sua presença na Birmânia é relativamente recente e que eles devem se instalar em Bangladesh.

Circunstâncias complexas

Estabelecendo-se no estado de Rakhine, a oeste da Birmânia, os Rohingya, aproximadamente 1 milhão de habitantes, têm sido principalmente agricultores e pescadores. No entanto, como muçulmanos, num Estado predominantemente budista, suas circunstâncias tornaram-se cada vez mais conflituosas, especialmente quando os birmaneses se tornaram mais nacionalistas. Na década de 1982, eles foram despojados da cidadania birmanesa, tornando-se a maior população apátrida do mundo.

Conflitos anteriores com as forças de segurança birmanesas em 2012, antes de Aung San Suu Kyi se tornar conselheira de Estado (posto equivalente a primeiro-ministro), já havia forçado milhares de Rohingya para Bangladesh. Mesmo durante sua jornada de liderança nacional, ela mostrou maior preocupação com os problemas humanitários no exterior do que na Birmânia. E, ao se tornar líder, seus objetivos tem sido principalmente melhorar a economia nacional e acabar com várias insurgências locais. Consequentemente, ela se concentrou em sugestões de desenvolvimento econômico para os Rohingya e não em restaurar sua cidadania birmanesa.

Além disso, os Rohingya violaram uma das leis básicas das minorias: eles tomaram medidas agressivas contra a maioria. Em 25 de agosto, militantes Rohingya atacaram 30 postos policiais e um Forte num ataque coordenado, matando um número de agentes de segurança.

Os migrantes Rohingya em um barco na costa da Indonésia aguardam resgate em 20 de maio. O grupo minoritário islâmico Rohingya está fugindo da perseguição na Birmânia (Januar/AFP/Getty Images)
Os migrantes Rohingya em um barco na costa da Indonésia aguardam resgate em 20 de maio. O grupo minoritário islâmico Rohingya está fugindo da perseguição na Birmânia (Januar/AFP/Getty Images)

As forças armadas birmanesas não se divertiram. Elas executaram uma resposta desproporcional tipo “olho por dente”, queimando/destruindo pelo menos 100 aldeias e, consequentemente, deslocando mais de 400.000 Rohingya através da fronteira Bangladesh-Birmânia, onde estão instalados em cidades de cabanas e precisam de praticamente todos os níveis de assistência.

Por sua parte, Aung San Suu Kyi falou com alguma simpatia, mas recusou-se a repreender o Exército birmanês, sugerindo que os Rohingya deveriam retornar. Ela ignorou uma cacofonia de apelos que vão desde ONGs até a ONU para, de fato, ceder e fornecer aos Rohingya assistência humanitária e direitos políticos.

Saturação de refugiados

Quanto aos Rohingya, há também mais de um sinal de saturação de refugiados. Além disso, embora as mídias como BBC forneçam um interminável vídeo dos Rohingya deslocados, sua situação, apesar de ser rotulada de ‘limpeza étnica’, não parece estar aos níveis do genocídio de Ruanda, nem mesmo no do fluxo interminável de barcos que afundam no Mediterrâneo com refugiados moribundos.

Por sua vez, a Casa Branca divulgou recentemente uma declaração dizendo que estava “profundamente perturbada” pela violência e, em 20 de setembro, aportou US$ 32 milhões adicionais em fundos de socorro, elevando o total dos EUA a aproximadamente US$ 95 milhões neste ano orçamentário.

Mas, diante da enorme destruição causada por furacões que atingem o Texas e a Flórida, bem como a devastação praticamente total de Porto Rico, o interesse dos Estados Unidos por refugiados birmaneses “distantes” é periférico. Se vão ajudar os estrangeiros, estes serão os mexicanos, lutando com uma série de terremotos que deixaram grandes centros populacionais, incluindo a Cidade do México, gravemente danificados.

E Aung San Suu Kyi?

Nós estamos assistindo a uma ilustração de livro didático sobre “real politik”. Enquanto ela é tecnicamente a líder da Birmânia como “primeira-ministra”, as Forças Armadas birmanesas detêm a última palavra como autoridade constitucional sobre assuntos de segurança e 25% dos assentos do Parlamento. Aung San Suu Kyi não agirá para socorrer uma minoria impopular sob o custo potencial de seu apoio doméstico vital. Ela tem parâmetros relativamente estreitos dentro dos quais pode operar.

Sua visão para a Birmânia não inclui desafios quixotescos a moinhos de vento aos quais ela é indiferente.

David T. Jones é um oficial de carreira sênior aposentado de serviço estrangeiro do Departamento de Estado dos Estados Unidos que publicou várias centenas de livros, artigos, colunas e análises sobre questões bilaterais americano-canadenses e política externa em geral. Durante uma carreira que durou mais de 30 anos, ele se concentrou em questões politico-militares, servindo como conselheiro de dois generais do Exército. Entre seus livros, está ‘Alternative North Americas ─ What Canada and the United States Can Learn from Each Other’ (‘Américas do Norte alternativas ─ o que o Canadá e os Estados Unidos podem aprender um com o outro’)

As opiniões do autor do presente artigo não representam necessariamente o posicionamento do Epoch Times

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