Ativistas denunciam onda de prisões em Cuba para evitar protestos

30/06/2020 19:10 Atualizado: 30/06/2020 19:10

Por EFE

Havana, 30 jun – Ativistas e jornalistas cubanos independentes denunciaram nesta terça-feira uma onda de detenções arbitrárias e prisões domiciliares pelas forças de segurança para neutralizar os protestos contra o racismo e a violência policial.

O conhecido líder dissidente José Daniel Ferrer e os artistas Tania Bruguera e Luis Manuel Otero Alcántara, entre outros, foram presos após saírem de suas casas e estão desaparecidos, de acordo com a família e amigos.

Tania Bruguera, uma das artistas mais reconhecidas internacionalmente e conhecida por expressar abertamente sua oposição ao governo, está sumida e sem sinal de celular desde que foi detida, no começo do dia, segundo informações passadas à Agência Efe pela irmã, Déborah.

No caso de Ferrer, a principal figura dissidente em Santiago de Cuba, e de Otero Alcántara, conhecido por suas performances irreverentes em Havana, foram divulgados vídeos de suas prisões, mostrando como eles foram forçados a entrar em veículos policiais.

“Até agora, estamos cientes das prisões arbitrárias em Santiago de Cuba e Havana de 12 ativistas da União Patriótica de Cuba (Unpacu) e promotores do Cuba Decide. Nossa sede e as casas dos ativistas e coordenadores também continuam sob cerco”, declarou Carlos Amel, porta-voz da plataforma Unpacu, liderada por Ferrer, à Efe.

Dezenas de outras detenções foram relatadas em redes sociais, enquanto jornalistas independentes na ilha apontaram a presença de patrulhas policiais fora de suas casas, a fim de impedi-los de comparecerem aos comícios planejados. Eles também alegam que as autoridades cortaram o sinal da internet em seus telefones.

Grupos da oposição haviam convocado uma manifestação no bairro Vedado, na parte central de Havana, além de comícios fora das delegacias de polícia em outras regiões do país, para protestar contra a morte de Hansel Ernesto Hernández, um negro de 27 anos baleado pela polícia na última quarta-feira. O óbito fez com que fossem levantadas vozes contra a violência policial e o racismo.

O governo de Cuba afirma que o agente agiu em autodefesa quando Hernández tentou atacá-lo e apontou a vítima como um criminoso habitual com múltiplos antecedentes. Contudo, a oposição questiona a veracidade da versão e afirma que há abusos policiais racistas em Cuba.

O protesto principal, em frente ao emblemático Teatro Yara, que é vigiado por dezenas de policiais, militares e agentes de diferentes departamentos do Estado cubano em trajes civis, acabou não acontecendo devido à ausência de manifestantes.