Um ataque terrorista contra duas igrejas ortodoxas e duas sinagogas deixou cerca de 20 pessoas mortas no domingo (23) na república do Daguestão, no norte do Cáucaso, na Rússia, um ataque que revive os fantasmas do terrorismo jihadista em um momento em que o país está envolvido na guerra na Ucrânia.
O ataque matou um sacerdote, o segurança de uma das igrejas, dois civis e pelo menos 15 policiais que tentavam prender os agressores, cinco dos quais foram mortos, de acordo com o Comitê Investigativo Russo.
Há apenas três meses, um ataque brutal contra uma casa de espetáculos nos arredores de Moscou matou 145 pessoas, o ato terrorista mais grave cometido em solo russo desde 2004.
No entanto, o Kremlin descartou a possibilidade de uma repetição da onda terrorista que abalou o Cáucaso russo e, por extensão, o resto do país.
“A Rússia é diferente agora, a sociedade está absolutamente consolidada e manifestações terroristas criminosas como a que vimos ontem no Daguestão não têm apoio na sociedade”, argumentou o governo.
Igrejas e sinagogas, alvos de terroristas
Os ataques ocorreram poucos minutos antes das 18h locais, na cidade de Derbent, no Daguestão, considerada a mais antiga da Rússia e situada às margens do mar Cáspio.
Primeiro, os agressores atacaram a Igreja da Intercessão, onde um sacerdote de 66 anos foi morto, e depois a sinagoga Kele-Numaz, que foi consumida pelo fogo, episódio seguido de um tiroteio com a polícia.
Ao mesmo tempo, os terroristas atacaram a Catedral da Ascensão em Makhachkala, a capital do Daguestão, onde cerca de 20 pessoas se entrincheiraram e bloquearam as portas, e uma sinagoga próxima.
Além disso, atacaram vários postos policiais, tanto nessas duas cidades quanto em Sergokal. As autoridades de saúde estimam que cerca de 50 pessoas ficaram feridas, a maioria policiais, sete delas de forma grave.
Terroristas ligados a oficiais
O Comitê Investigativo Russo confirmou que as forças de segurança “liquidaram cinco indivíduos que cometeram esses crimes” e que eles foram identificados.
A imprensa, citando fontes policiais, informou que dois dos terroristas eram filhos de uma autoridade local, Magomed Omarov, chefe do distrito de Sergokal, que fica entre a capital e Derbent.
Omarov estava supostamente ciente das ideias radicais de seus filhos, que realizavam as reuniões da célula jihadista na mesquita local.
O governante, que é primo de outro dos agressores, já foi interrogado e expulso das fileiras do partido do Kremlin, Rússia Unida.
Até o momento, ninguém reivindicou a responsabilidade pelo ataque, embora os relatos iniciais da imprensa russa apontem para o envolvimento de grupos jihadistas com vínculos no exterior.
Mão estrangeira
Embora uma turba já tenha se envolvido em incidentes antissemitas quando invadiu o aeroporto e cercou um hotel em Makhachkala em outubro de 2023 em busca de cidadãos israelenses em protesto contra o bombardeio da Faixa de Gaza, as autoridades estão apontando para uma mão estrangeira.
“Considero que o que aconteceu não tem razão objetiva, é estranho para nós e é uma provocação absolutamente cínica. Foi cuidadosamente planejado de fora por nossos inimigos, financiado por eles e com o objetivo de criar divisão. Esse é o plano deles”, disse Valentina Matviyenko, presidente do Senado russo.
Parafraseando o líder Vladimir Putin, Matviyenko disse que o objetivo dos inimigos de Moscou é “dinamitar a sociedade por dentro”, atacando um dos principais alicerces da Rússia, sua diversidade étnica e religiosa.
Putin, que evita criticar as forças de segurança por sua negligência, usou o mesmo argumento em outubro de 2023 e em março no atentado à casa de espetáculos Crocus City Hall, apesar de os Estados Unidos terem alertado a Rússia de que um ataque jihadista era iminente.
A polícia então prendeu quatro jihadistas, e o Estado Islâmico (EI) reivindicou a responsabilidade pelo ataque, mas o Kremlin alegou ver uma mão ucraniana com cumplicidade ocidental desde o início, embora nunca tenha apresentado provas concretas.
A oposição e organizações de direitos humanos acusam o Kremlin de negligenciar a segurança dos cidadãos desde o início da invasão militar contra a Ucrânia.