Ninguém, nem mesmo a Coreia do Norte, acredita que poderia ganhar uma guerra contra os Estados Unidos. Mas muito de como uma guerra se desdobraria depende de duas coisas: quem ataca primeiro e com que precisão os Estados Unidos podem identificar e neutralizar as posições de mísseis e artilharia da Coreia do Norte.
Se os Estados Unidos decidirem que a guerra é inevitável, eles podem atacar primeiro e eliminar uma grande parte do poder ofensivo norte-coreano antes que este possa ameaçar a capital sul-coreana de Seul. É quase impossível, no entanto, que os Estados Unidos e seus aliados possam destruir completamente toda sua capacidade ofensiva.
Isso significa que foguetes e disparos de artilharia atingiriam a densamente povoada capital sul-coreana. Quão grave seria o número de mortes dependeria da rapidez com que os Estados Unidos pudessem acabar com a guerra.
Um ataque preventivo combinado com um esforço bem-sucedido de decapitação para remover a liderança norte-coreana no governo e nos militares tem alguma chance de atingir isso efetivamente.
Tanto os Estados Unidos quanto a Coreia do Sul fizeram da decapitação um elemento muito divulgado de seus esforços ofensivos. Em dezembro, a Coreia do Sul dedicou US$ 310 mil em equipamentos para sua unidade de decapitação, informou o Korea Herald.
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“Os equipamentos incluem drones suicidas, drones de vigilância e metralhadoras de granadas”, disse um funcionário do Ministério da Defesa ao Korea Herald.
A Coreia do Sul aprovou um orçamento militar de US$ 39,7 bilhões em dezembro. Embora seja uma fração do orçamento militar de US$ 700 bilhões assinado por Trump em 12 de dezembro, isso ainda representa uma potente ameaça para o regime de Kim Jong-un.
Dado que ambos os países têm forças bem treinadas que se exercitam há anos para combater qualquer ataque norte-coreano e para terminar uma guerra rapidamente, é possível que eles possam sobrepujar com rapidez as forças norte-coreanas.
A inteligência seria essencial para o sucesso. Saber onde estão localizados os principais funcionários do regime, bem como a infraestrutura militar crítica e os locais de lançamento de mísseis, seria decisivo. No melhor cenário, um ataque preventivo esmagador que liquidasse os funcionários-chave do regime poderia convencer os segundos e terceiros na hierarquia a negociarem uma conclusão rápida da guerra se tivessem uma expectativa razoável de segurança.
Para que isso aconteça, os Estados Unidos e seus aliados terão de comunicar cenários plausíveis ao regime que convencesse a elite que seria melhor negociar pela paz do que lutar até o amargo fim.
A maior ameaça neste cenário é que o regime chinês estará mais inclinado a defender a Coreia do Norte se os Estados Unidos se mobilizarem primeiro.
Simplesmente assassinar Kim Jong-un ou seus generais-chave é outra possibilidade, mas apenas se os Estados Unidos acreditam que o regime não iniciará imediatamente um contra-ataque. Dado o extremo isolamento da Coreia do Norte, fazer essa avaliação é quase impossível. Por essa razão, os estrategistas de guerra dos EUA podem acreditar que o melhor curso de ação é combinar qualquer esforço de decapitação com um ataque total para limitar um contra-ataque da Coreia do Norte.
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Outro cenário poderia envolver os Estados Unidos correrem o risco de uma grande ofensiva norte-coreana num esforço para convencer Kim Jong-un de que ele não tem escolha senão desistir de seu atual programa nuclear.
Em vez de lançar um ataque completo, os Estados Unidos e seus aliados poderiam lançar uma ofensiva limitada para neutralizar o próximo teste de míssil balístico da Coreia do Norte antes do lançamento ou destruir seu submarino atualmente em construção, que se acredita ser capaz de lançar mísseis balísticos com ogivas nucleares, antes de poder ser posto em uso.
Se essa ofensiva falhar em assustar Kim Jong-un para levá-lo à mesa de negociações, a Coreia do Norte quase certamente retaliaria. O regime provou repetidamente no passado que está disposto a arriscar uma guerra.
Sob o ex-líder norte-coreano Kim Jong-il, o regime disparou cerca de 170 cargas de artilharia e foguetes na Ilha Yeonpyeong da Coreia do Sul, matando quatro e ferindo 19 em 2010. O ataque ocorreu em meio a tensões crescentes sobre reivindicações territoriais nas águas adjacentes, a revelação de uma instalação de enriquecimento de urânio da Coreia do Norte e um exercício militar sul-coreano.
No início desse ano, o regime também afundou uma corveta sul-coreana no Mar Amarelo, matando 46 marinheiros, embora a Coreia do Norte negue a responsabilidade pelo ataque.
Mas o clima atual é muito diferente de 2010. Naquela época, o regime teria muito mais convicção de que não enfrentaria uma invasão. Desta vez, ele pode não ter tanta confiança. Se Kim Jong-un estiver convencido de que uma retaliação levará à guerra e que uma guerra resultará em sua morte, ele pode tomar o curso racional e prosseguir com o diálogo.