Ataque em Londres mostra como Reino Unido está exposto ao terror

08/04/2017 07:00 Atualizado: 07/04/2017 16:09

Cinquenta feridos e quatro mortos, incluindo um policial desarmado nas portas do Parlamento, tudo por causa de um homem de 52 anos com um passado violento e criminoso que nasceu na Inglaterra e depois se converteu ao Islã.

A importância do ataque em Westminster, no dia 22 de março, é vivamente contestada, com alguns apontando que o número de mortes devido ao terrorismo caiu dramaticamente nas últimas décadas. Mas outros observam que são os ataques que não acontecem, pois são frustrados pela rede de segurança estatal, que realmente revelam a ameaça terrorista islâmica no Reino Unido.

O Reino Unido tem os mais amplos poderes de vigilância e segurança no mundo ocidental e um polêmico programa de desradicalização que exige que cerca de 400 mil funcionários na linha de frente denunciem aqueles que mostram sinais de extremismo.

Will Geddes, um especialista em contraterrorismo na indústria de segurança, disse que 13 ataques terroristas islâmicos foram impedidos nos últimos quatro anos. Mas ele acredita que esses números se referem a grandes incidentes “de estilo parisiense” e não a ataques menores como o de Westminster.

A ameaça atual vem principalmente do grupo terrorista Estado Islâmico, da al-Qaeda e de dissidentes do norte da Irlanda, disse Geddes. “A chamada ameaça terrorista ‘doméstica’ é predominantemente do Estado Islâmico”, disse ele. “Existem cerca de três mil pessoas de interesse que os serviços de segurança têm indexado.”

A série coordenada de atentados suicidas em Londres em 7 de julho de 2005, às vezes referida como 7/7, estimulou várias estratégias contraextremistas.

O programa Prevent, iniciado em 2007, visa combater a radicalização em suas raízes. Em 2015, regulamentos foram apertados para obrigar legalmente que professores, médicos e outras pessoas de serviços de linha de frente encaminhem às autoridades aqueles identificados sob risco de extremismo.

O número de pessoas listadas aumentou rapidamente nos últimos anos, chegando a 4.611 entre julho de 2015 a junho de 2016. Entre os listados entre 2007 e 2014, cerca de 20% foram identificados como estando em risco de radicalização.

“A estratégia Prevent é vista por alguns muçulmanos como um meio de espionar as comunidades muçulmanas”, disse Helen Fenwick, professora de direito da Universidade de Durham, especializada em legislação antiterrorista.

O advento da ameaça terrorista islâmica levou ao endurecimento da legislação contra o terrorismo. Um rastro de legislação controversa remonta ao governo trabalhista de 2001, embora poderes mais controversos, como a detenção sem julgamento, tenham sido gradualmente reduzidos.

Algumas das medidas de maior alcance nunca foram usadas, disse Fenwick. “No geral, a resposta tem sido bastante cautelosa depois de 2004, e todas as medidas são ou podem ser testadas nos tribunais para satisfazer os direitos humanos”, disse ela.

Atualmente, as restrições mais extremas, ou medidas de prevenção e investigação do terrorismo (MPIT), estão sendo usadas apenas em seis pessoas, disse ela. As MPITs podem forçar um suspeito a se mudar, aderir a um toque de recolher, contatar regularmente a polícia ou participar de um programa de desradicalização.

“Os poderes de vigilância são vistos como controversos por alguns, mas, especialmente após os ataques de Westminster, [são vistos como] valiosos por muitos, pois permitem uma intervenção rápida antes de um ataque”, disse Fenwick. “Um grande número de complôs terroristas foram descobertos e os envolvidos processados, nos estágios iniciais.”

Em novembro, a Grã-Bretanha aprovou a Lei de Poderes de Investigação, às vezes apelidada de “Lei de Bisbilhotice”, que concedeu às autoridades britânicas mais acesso aos dados de comunicações do que qualquer outro governo ocidental.

Manter-se um passo à frente dos terroristas é a chave, disse Geddes. Desde os atentados de 7/7, unidades antiterroristas britânicas vão a locais de ataque em todo o mundo para aprender lições para suas próprias operações.

O Reino Unido aborda a radicalização relativamente bem, disse Geddes. A segurança do Reino Unido é a melhor do mundo na “batalha pelos corações e mentes” e não têm de lidar com os guetos segregados de Paris ou Bruxelas, disse ele.

O Reino Unido enfrentou a ameaça do Exército Republicano Irlandês (IRA) por décadas, e usou essa experiência para ajudar os Estados Unidos a moldar sua estratégia de contraterrorismo depois do 11 de setembro.

Mas o ataque de Westminster mostra a necessidade de maior segurança, disse Anthony Glees, diretor do Centro de Estudos de Segurança e Inteligência da Universidade de Buckingham. “O fato de que tivemos de depender de um policial desarmado para enfrentar um terrorista islâmico é vergonhoso”, disse ele.

Com mil cidadãos britânicos saindo do país para se juntar ao Estado Islâmico, uma nova ameaça foi adicionada, disse ele.

O MI5, o serviço britânico de inteligência interna e contraespionagem, deveria deter e entrevistar as três mil pessoas que estão sob sua vigilância e as que retornam de conflitos no estrangeiro, disse ele. “Qualquer indicação de que essas pessoas possam constituir uma ameaça à segurança nacional deveria sujeitá-las às MPITs.”

Antes do ataque de Westminster, os serviços de segurança alertaram que era uma questão de quando, e não se, um ataque aconteceria. Mas Geddes concorda com outros que disseram que a natureza amadora e em pequena escala do ataque só mostra a fraqueza do Estado Islâmico.