Um recente ataque de mísseis dos EUA numa base aérea síria pode ter revelado uma fraqueza crucial no sistema avançado de defesa da Rússia, o S-400, segundo especialistas.
Sob as ordens do presidente Donald Trump, no dia 7 de abril, dois destroieres dos EUA posicionados no Mar Mediterrâneo lançaram 59 mísseis de cruzeiro Tomahawks visando à base aérea síria de Shayrat. O bombardeio foi em resposta a um ataque com armas químicas pelo regime sírio de Assad, que deixou mais de 80 mortos numa área controlada por rebeldes.
O ataque norte-americano com Tomahawks destruiu mais de uma dúzia de bombardeiros e hangares sírios. No entanto, durante o evento, de acordo com várias fontes, os sistemas de defesa aérea da Síria e da Rússia permaneceram em silêncio.
O S-400, um sistema projetado para interceptar mísseis e outras aeronaves, é o mais recente e avançado sistema de defesa aérea da Rússia. O Kremlin anunciou em novembro de 2015 que estava implantando o S-400 em dois locais na Síria; um em Latakia, onde a Rússia tem uma base aérea, e outro em Tartus, para proteger uma base naval russa de importância estratégica crucial.
A ataque de 7 de abril pode ter sido o primeiro engajamento entre o sistema russo S-400 e os mísseis Tomahawks dos EUA, que estão em serviço desde 1983. Antes de 7 de abril, a mídia estatal russa se gabava de que o S-400 poderia repelir ataques de aviões, drones e mísseis de cruzeiro, incluindo os Tomahawks dos EUA.
O S-400, que evoluiu a partir do sistema de mísseis S-300, tem sido amplamente divulgado como capaz de repelir ataques num alcance de quase 400 quilômetros. Em contraste, a margem publicitada do sistema comparável dos EUA, o Sistema de Defesa Aérea e de Mísseis Patriot, fabricado pela Raytheon, é conservadoramente estabelecida como não mais do que 160 km.
Antes do ataque de 7 de abril, autoridades russas e comentaristas alegaram que o alcance do S-400 seria suficiente para cobrir todo o território da Síria.
Este alcance anunciado é provavelmente irrealista, com os especialistas apontando que os sistemas de defesa aérea como o S-400 só podem atingir seus alcances máximos quando engajando alvos em altitudes elevadas.
Fu S. Mei, um especialista em assuntos militares e de segurança baseado em Nova York, diz que é difícil para os sistemas terrestres antiaéreos detectarem e engajarem mísseis de cruzeiro de baixa altitude, como os Tomahawks.
Ao voar em altitudes muito baixas, cerca de 15 a 30 metros, os mísseis de cruzeiro como Tomahawks podem fugir à detecção pelos radares dos sistemas antiaéreos mais avançados, até que apareçam no horizonte.
“Toda essa conversa de que asseguramos todo o espaço aéreo sírio é conversa fiada”, disse Pavel Felgenhauer, um analista militar baseado em Moscou, citado pela Radio Free Europe.
“Você pode mais ou menos defender um perímetro de cerca de 40 quilômetros”, disse ele. As cidades portuárias do Mediterrâneo de Latakia e Tartus estão localizadas a mais de 95 km da base aérea de Shayrat, que por sua vez está afastada da costa no interior do país.
Mesmo com um alcance de apenas 40 km, os dois sistemas S-400 em Latakia e Tartus deveriam ter sido capazes de cobrir a maior parte da costa síria. Contudo, de acordo com relatos oficiais norte-americanos, quase todos os Tomahawks disparados dos dois destroieres dos EUA no Mar Mediterrâneo abriram caminho para a base aérea de Shayrat sem interceptação.
Embora detalhes sobre a rota de voo dos mísseis ainda não tenham sido revelados, com base em mapas da região, os Tomahawks poderiam ter voado pelo espaço aéreo do norte do Líbano para contornar o raio de detecção e engajamento dos sistemas S-400. Esse desvio é facilmente alcançável, uma vez que todas as variantes dos mísseis Tomahawks têm alcance de mais de 1000 km.