Armas nucleares da Coreia do Norte estão relacionadas à rede de Estados hostis

13/11/2017 22:31 Atualizado: 16/11/2017 17:08

O programa de armas nucleares da Coreia do Norte não pode ser encarado apenas como resultado das ações de apenas um Estado hostil. Muitos de seus projetos possuem a marca de financiamento estrangeiro, a tecnologia é fornecida por outros países, e tudo isso é parte de uma rede de países hostis que estão, coletivamente, aprimorando o potencial de seu armamento nuclear.

O regime comunista na Coreia do Norte está trabalhando em conjunto com o Irã, Síria e Paquistão, para desenvolver armas nucleares e armamento químico. A Rússia e outros países forneceram tecnologia para ajudar no desenvolvimento das armas nucleares, e o Partido Comunista Chinês facilitou e deu apoio geral ao projeto.

“O que a China fez foi criar uma rede maligna de cooperação e disseminação”, disse Richard Fisher, membro sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia (International Assessment and Strategy Center). “Os chineses ajudaram, em diferentes graus, o Paquistão, o Irã e a Coreia do Norte”.

O Partido Comunista fornece tecnologias diferentes a cada país, como forma de auxílio ao programa de desenvolvimento de armas nucleares. E, por sua vez, a Coreia do Norte, o Paquistão e o Irã compartilham entre si essa tecnologia e os avanços que fizeram.

“Os chineses precisam fazer apenas contribuições materiais discretas, mas, no fim, todos os três se beneficiarão disso”, Fisher completou.

O ex-líder do Partido Comunista Jiang Zemin estimulou e, através de sua facção política, manteve relações com a Coreia do Norte. Os laços entre o atual líder chinês, Xi Jinping, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, estão relativamente abalados, e Xi sinalizou ao governo Trump que ele irá apoiar sanções mais duras contra a Coreia do Norte.

Informações sigilosas vazadas do Departamento de Estado, de 24 de fevereiro de 2010, revela que, em 2005, a Coreia do Norte enviou 19 mísseis balísticos para o Irã, que deram, pela primeira vez, ao Irã a capacidade de atingir as capitais ocidentais da Europa.

O míssil Hwasong-10, também conhecido com BM-25 ou Musudan, foi visto pela primeira vez em uma parada militar norte-coreana, em outubro de 2010. O governo norte-coreano o testou em junho de 2016. De acordo com o Centro Internacional de Avaliação e Estratégia, o míssil balístico de médio alcance tem um raio de operação de 3218,6 km. O seu projeto foi baseado nos mísseis soviéticos SS-N-6, lançados por submarinos.

Fisher observou que, quando o Irã testou recentemente um míssil balístico, muitos especialistas bélicos acreditaram se tratar do lançamento de um BM-25, apesar de ele acrescentar que as imagens não eram nítidas o suficiente, para se concluir definitivamente.

Após o Irã disparar o míssil, o presidente Donald Trump escreveu em seu Twitter, no dia 23 de setembro: “o Irã acabou de testar um míssil balístico capaz de alcançar Israel. Eles estão trabalhando com a Coreia do Norte. Grande acordo esse que fizemos!”

De acordo com Fisher, “a Coreia do Norte e o Paquistão estão trabalhando juntos. A Coreia do Norte e o Irã cooperam no desenvolvimento de mísseis. A China também continua a ser uma fonte em potencial de recursos”.

“É incrivelmente bizarro”, ele acrescentou, “que um país tão paupérrimo quanto a Coreia do Norte tenha um programa tão sofisticado e amplo de armamento estratégico”.

Aliança nuclear secreta

Essa rede de países hostis trabalham em estreita colaboração, em projetos de desenvolvimento de armas nucleares. A Coreia do Norte é apenas um dos atores neste sistema, Bruce Klingner ressaltou em uma audiência em março de 2014, no Subcomitê de Ásia, do Comitê de Relações Exteriores da Casa dos Representantes. Bruce é investigador sênior da The Heritage Foundation.

Klingner disse que os analistas “repetidamente subestimaram os projetos de mísseis nucleares da Coreia do Norte”, acreditando que esse país atrasado seria incapaz de tais avanços tecnológicos. Ele observa que, contudo, esse tipo de análise ignora o compartilhamento de pesquisa entre a Coreia de Norte e outros países.

Como exemplo, ele citou o longo relacionamento que a Coreia do Norte tem com o Paquistão, no desenvolvimento nuclear e de mísseis balísticos. Também apontou que o governo em Islamabade já possui ogivas nucleares e mísseis capazes de carregá-las.

Parte do acordo que a Coreia do Norte tem com o Paquistão, Klingner contou, é a ajuda crucial que os cientistas norte-coreanos dão ao projeto de mísseis de Islamabade. Por sua vez, o Paquistão forneceu à Coreia do Norte conhecimento, tecnologia e componentes de armas nucleares baseadas em urânio.

Para exemplificar a aliança, Klingner citou uma troca que veio a público em março de 2004, na qual “A. Q. Khan, o pai do programa de armas nucleares do Paquistão, forneceu um acordo a Pyongyang, fornecendo centrífugas, projetos de ogivas e combustível nuclear”. Em troca pelo apoio paquistanês, a Coreia do Norte deveria auxiliar Islamabade a miniaturizar uma ogiva nuclear a ponto dela caber em um míssil Ghauri.

Klingner disse também que o projeto da ogiva pode ser o mesmo que Khan forneceu à Líbia, transação revelada em fevereiro de 2004, e continha “instruções detalhadas, passo-a-passo, sobre como produzir uma ogive nuclear de origem chinesa, a ser usada no míssil norte-coreano No Dong”.

Ele também citou que a Coreia do Norte não hesitou em fornecer à Síria “tecnologia de armas nucleares e químicas” e, de maneira parecida, trabalhou em conjunto com o Irã em seu programa de mísseis nucleares – além de auxiliar o Irã a suprir, com armas, os grupos terroristas Hamas e Hezbollah.

De acordo com William Triplett, veterano da comunidade de inteligência norte-americana e integrante do governo Ronald Reagan, é importante se lembrar que, quando a Coreia do Norte obtém arma ou tecnologia estrangeira, alguém está pagando por isso, e alguém está ajudando com o transporte.

Triplett afirmou que, quando se transporta equipamento militar entre a Coreia do Norte e o Irã por via aérea, “você não conseguiria voar de Pyongyang até Teerã sem parar em um aeroporto militar na China”.

Em 1970, ele acrescentou, os Estados Unidos venderam um 747-F, avião cargueiro, ao Irã, também venderam os aviões C-130 ao Irã e ao Paquistão. Essas aeronaves foram vistas nos aeroportos norte-coreanos.

Ele também comentou sobre relatórios de agosto que afirmam que ou a Ucrânia ou a Rússia vendeu motores de foguetes para a Coreia do Norte. “Seja lá o que tenha sido, alguém teve que pagar por eles e, além disso, transportá-los do ponto A para o ponto B”, ele disse.

Outra questão importante para se ter em perspectiva, Triplett comentou, é que, enquanto o regime norte-coreano é extremamente pobre e muitos de seus cidadãos estão passando fome, cada míssil lançado custa ao país em torno de US$ 30 milhões. “Todo esse aparato é caro. Alguém está pagando por ele”, ele disse, acrescentando que “todas as estradas” levam ao Partido Comunista Chinês.

Recentemente a China concordou em impor sanções à Coreia do Norte, contudo, no passado, foi um dos principais fornecedores de armas e tecnologias para o Irã, Paquistão e Coreia do Norte.

O Partido Comunista Chinês vê a Coreia do Norte como um testa de ferro encarregado de se envolver em uma pseudo-Guerra Fria com os Estados Unidos, segundo Fisher. Para ele, o Partido Comunista também usa, para o mesmo fim, outros Estados hostis.

“A China transformou o Paquistão em um Estado com mísseis balísticos, para ajudá-la a neutralizar a Índia, e transformou o Irã em um Estado com mísseis balísticos, para também se beneficiar dessa instabilidade”, ele acrescentou. “A China conseguiu se tornar um dos maiores fornecedores de armamento para o Oriente Médio, porque os outros países querem ser capazes de se defender do Irã – que se tornou poderoso com a ajuda da China”.

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