Apagões chegam a Havana em nova etapa da crise energética cubana

01/08/2022 22:34 Atualizado: 01/08/2022 22:34

Por Juan Carlos Espinosa, EFE

Após ter conseguido evitar os cortes por sua condição de centro político e econômico e por ter sido o maior polo dos protestos no ano passado, Havana começou a sofrer nesta segunda-feira apagões diários programados, o que representa uma nova etapa na crise energética de Cuba.

O regime cubano admitiu que a situação energética da ilha não será resolvida no curto prazo e reconheceu que o problema está gerando forte desconforto na sociedade.

“Isso nos dói, nos incomoda que a população tenha que passar por esta situação”, disse o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, no seu último discurso ao Parlamento.

Desde março, os cortes vêm se intensificando na ilha e nas últimas semanas houve pequenos protestos em várias partes do país com os apagões como motivo.

Nos últimos quatro meses, a estatal União Elétrica (UNE) avançou quase diariamente nos cortes de energia em diversas áreas.

A empresa anunciou déficits que às vezes ultrapassam 20% da capacidade máxima de geração nos horários de pico.

Em alguns casos, moradores de diferentes províncias do país denunciaram cortes de mais de dez horas por dia nas redes.

O problema energético é de particular preocupação para o regime cubano devido à sua sensibilidade. Desde maio, a presidência informa todas as manhãs sobre a disponibilidade de megawatts por dia.

Protestos contra os cortes

O desconforto causado pelos apagões foi um dos motivos por trás dos protestos antigovernamentais de 11 de julho de 2021, os maiores em décadas, segundo diferentes analistas.

O país passava então por uma crise sanitária por conta da pandemia e outra crise econômica, que ainda persiste, com desabastecimento de alimentos e remédios, inflação alta e a expansão das controversas lojas que cobram apenas em moedas estrangeiras.

A isso se somaram os cortes, que impedem o uso de aparelhos de ar condicionado, fogões elétricos, compras com cartão e, se prolongados, acabam afetando as comunicações móveis e os alimentos congelados.

Os apagões geraram pequenos protestos nas últimas semanas em diferentes partes do país e foram reproduzidos em vídeos que circulam pelas redes sociais.

A imprensa oficial noticiou pelo menos dois, um na Universidade de Camagüey e outro, há algumas semanas, na cidade ocidental de Los Palacios. Nas redes sociais, cerca de meia dúzia de protestos foram notificados.

Díaz-Canel se referiu diretamente aos manifestantes “que, por convicção ou não, estão respondendo ao que a contra-revolução quer” e “ao que querem aqueles que nos bloquearam, que foram eles que primeiro causaram toda essa situação”, em alusão às sanções dos Estados Unidos.

O governo provincial de Havana anunciou na sexta-feira que a partir desta segunda-feira, pelo menos na primeira quinzena de agosto, as diferentes áreas da capital sofrerão cortes de quatro horas duas vezes por semana.

A cidade quase não havia sido afetada até então pela crise de energia. O que pesa nesse caso, segundo analistas, é sua condição de centro governamental, turístico e econômico, e a memória de que Havana – o maior centro urbano do país – foi o epicentro dos protestos de 11 de julho de 2021.

Um sistema antigo

Segundo o regime, os problemas se devem, em parte, a problemas nas usinas, déficit de combustível para geração e manutenção programada.

Avarias ou fechamentos para reparos afetaram grande parte das oito usinas termelétricas terrestres do país. Um bom número delas está perto de atingir sua expectativa de vida máxima.

Além disso, desde o final de 2021, a ilha usou cinco usinas flutuantes alugadas de uma empresa turca para apoiar o sistema de produção de eletricidade desatualizado.

Cuba depende muito do petróleo estrangeiro para produzir energia (as usinas termelétricas geram dois terços da eletricidade) e seu principal fornecedor, a Venezuela, reduziu notavelmente seus envios.

O governo cubano espera reduzir essa dependência e tem um plano para que, até 2030, 37% de sua matriz energética (pouco mais de 3.500 megawatts) seja proveniente de fontes renováveis.

No entanto, no final do ano passado, o ministro de Energia e Minas, Liván Arronte Cruz, destacou que a implementação dessa política está 40% atrasada.

 

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