Antes de reunião Trump-Kim, Coreia do Sul envia sinais contraditórios aos EUA

09/05/2018 13:02 Atualizado: 09/05/2018 13:02

Por Paul Huang, Epoch Times

Enquanto o mundo aguarda com esperança e ansiedade a próxima reunião entre o presidente Donald Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong-un, o presidente da Coreia do Sul Moon Jae-in tem enviado sinais contraditórios para os Estados Unidos. Agora surgiram dúvidas sobre se a administração de tendência esquerdista de Moon está comprometida em manter as tropas norte-americanas na Península Coreana e apoiar os esforços dos Estados Unidos para desarmar o regime nuclearizado de Kim.

A controvérsia começou na semana passada quando Moon Chung-in, professor da Universidade de Yonsei e conselheiro especial do presidente sul-coreano para Assuntos de Unificação, Relações Exteriores e Segurança Nacional, publicou um artigo na revista científica norte-americana sobre assuntos internacionais “Foreign Affairs”, na qual sugere que as forças militares dos Estados Unidos na Coreia do Sul provavelmente já não são mais necessárias, uma vez que um tratado de paz foi assinado.

A presença militar norte-americana é uma questão muito delicada tanto para a política interna da Coreia do Sul quanto para sua aliança com os Estados Unidos. Enquanto um segmento significativo da esquerda na Coreia do Sul quer sua redução ou remoção, o presidente Moon Jae-in, que pertence a um partido de esquerda, continua apoiando publicamente a presença de tropas norte-americanas no país.

O alvoroço causado pelo artigo foi tal que Moon Chung-in imediatamente se retratou da declaração e disse que ainda apoia a presença de tropas norte-americanas. A Casa Azul da Coreia do Sul também teve de enviar seu assessor de segurança nacional Chung Eui-Yong para os Estados Unidos, o qual se reuniu com seu homólogo norte-americano, John Bolton, em 4 de maio, e rejeitou publicamente as negociações sobre uma possível redução das tropas norte-americanas.

A visita de Chung, no entanto, ironicamente coincidiu com uma viagem de Moon Chung-in aos Estados Unidos. Apesar de insistir que não fala em nome do governo, nem representa os pontos de vista da Casa Azul, o título que detém de “assessor especial” do presidente, e o fato de de ser um amigo próximo, significa que seus discursos nos Estados Unidos foram seguidos de perto pela mídia coreana e internacional.

Em um fórum realizado em 4 de maio no Conselho Atlântico, em Washington D.C., Moon tornou a rejeitar a retórica partidária e advertiu que está nas mãos de Trump fazer com que a próxima reunião com o ditador norte-coreano Kim Jong-un “funcione”.

“Se o presidente Trump não conseguir que a reunião seja um sucesso, as relações inter-coreanas voltarão à sua posição original”, disse Moon Chung-in. “Espero que o presidente [Trump] consiga que o encontro seja um sucesso para que possamos ir juntos em direção à paz, à estabilidade e à prosperidade na Península Coreana.”

Líder comunista norte-coreano Kim Jong-un (esq.) e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in (dir.), se abraçam depois de assinar a Declaração de Panmunjom durante a Cúpula Inter-coreana na Casa da Paz, em 27 de abril de 2018, em Panmunjom, na Coreia do Sul (Equipe de imprensa da Cúpula das Coreias/Getty Images)
Líder comunista norte-coreano Kim Jong-un (esq.) e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in (dir.), se abraçam depois de assinar a Declaração de Panmunjom durante a Cúpula Inter-coreana na Casa da Paz, em 27 de abril de 2018, em Panmunjom, na Coreia do Sul (Equipe de imprensa da Cúpula das Coreias/Getty Images)

Os comentários de Moon contrastam com a postura diplomática oficial da Coreia do Sul, que apoia a posição dos Estados de que a Coreia do Norte deve primeiro se comprometer com a desnuclearização para que se concretize um acordo de paz.

“A paz e a estabilidade no leste asiático dependem da completa desnuclearização da Coreia do Norte. Esperamos que a cúpula entre Estados Unidos e Coreia do Norte seja um passo concreto para essa aspiração”, disse Cho Yoon-je, embaixador sul-coreano nos Estados Unidos em 7 de maio, em um evento realizado no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais localizado em Washington.

Analistas afirmam que a declaração de Moon é indicativa dos pontos de vista de muitos da esquerda política na Coreia do Sul que minimizam a agressão do regime norte-coreano, enquanto, ao mesmo tempo, consideram a aliança com os Estados Unidos um obstáculo para que o Sul se reconcilie com o Norte.

“Obviamente, o professor Moon está considerando a pressão em voltar a apoiar Kim Jong-un, enquanto o ditador mente, e ao mesmo tempo continua em sua revisão da postura nuclear de Trump; ou seja, Trump deve dar a Kim o que ele quer, caso contrário, a cúpula será um fracasso e Kim voltará ao seu velho hábito ‘paranoico’ de ameaçar com uma guerra nuclear”, disse Sung-Yoon Lee, professor de Estudos Coreanos na Faculdade de Direito e Diplomacia Fletcher, da Universidade de Tufts.

Moon Chung-in, que é abertamente uma voz da esquerda política da Coreia do Sul, não está alheio à controvérsia, e em várias ocasiões tem estimulado a agitação com comentários feitos nos Estados Unidos. Em junho de 2017, por exemplo, ele sugeriu que um porta-aviões norte-americano deveria “manter-se afastado” da Península Coreana para reduzir a tensão com o regime norte-coreano de Kim.

O título de “assessor especial” de Moon para o presidente é um cargo honorário que não tem relação com nenhum cargo oficial e que não recebe qualquer pagamento do governo, exceto para as despesas de viagem. No entanto, os analistas questionam se a nomeação de um assessor tão controverso feita pelo presidente Moon Jae-in não seria um sinal político que a Casa Azul está tentando transmitir.

“Se ele continuar a ser o principal assessor do presidente, eu vou considerá-lo dessa forma”, disse Víctor Cha, especialista coreano do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em resposta a uma pergunta sobre se o controvertido professor realmente fala em nome do presidente Moon.

Diplomatas e estrategistas militares norte-americanos, como o secretário de Defesa James Mattis, têm dito repetidamente que “não há nenhuma divisão” entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul, e que a aliança de segurança entre os dois países com base em um tratado de defesa mútua assinado em 1953 continua firme.