Analistas dizem que moeda latino-americana universal proposta pelo Brasil ‘não é realista’

Por Autumn Spredemann
28/01/2023 16:39 Atualizado: 28/01/2023 16:39

Planos para uma moeda única na América Latina ressurgiram depois de mais de uma década em 23 de janeiro, quando o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a iniciativa em uma conferência bilateral em Buenos Aires.

O presidente brasileiro – comumente conhecido como Lula – apresentou a ideia como um meio para a Argentina e o Brasil acabarem com sua dependência do dólar americano.

Até agora, a proposta de Lula recebeu mais críticas do que elogios.

Analistas regionais não veem nenhum benefício econômico em uma moeda compartilhada para o Brasil. Além disso, alguns dizem que a iniciativa “não é realista” e acreditam que uma moeda universal não é possível em meio a duras realidades como altas taxas de inflação e falta de cooperação governamental.

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O presidente mexicano Andres Manuel Lopez Obrador fala durante o briefing diário no Palácio Nacional na Cidade do México, México, em 28 de junho de 2022. (Hector Vivas/Getty Images)

Durante a coletiva, Lula disse que inicialmente as notas seriam usadas especificamente para o comércio entre Brasil e Argentina. Embora o presidente brasileiro tenha mencionado querer estender o alcance a outros países da região eventualmente.

“Nossos ministros da Fazenda, cada um com sua equipe econômica, podem nos fazer uma proposta de comércio exterior e transações entre os dois países que sejam feitas com uma moeda comum, a ser construída com muito debate e muitas reuniões”, disse Lula à imprensa.

Entre o grupo crescente de céticos estão outros líderes socialistas na América Latina.

Declaração ideológica

“Nós não concordaríamos. Por muitas razões, temos que continuar mantendo o dólar [americano] como referência”, disse o presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, durante entrevista coletiva diária em 24 de janeiro.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, expressou seus pensamentos sobre o tema durante uma visita oficial à Colômbia em agosto passado.

O chefe de Estado chileno disse que, embora esteja “disponível” para discutir o tema de uma moeda única na América Latina, alertou que “muito progresso” deve ser feito primeiro.

“Esses mecanismos específicos são muito complexos… são processos de longo prazo e temos muito a avançar antes”, disse Boric.

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O recém-eleito presidente Gabriel Boric fala com a mídia após reunião com o presidente do Chile, Sebastian Piñera, no Palácio Presidencial La Moneda, em Santiago, Chile, em 20 de dezembro de 2021. (Marcelo Hernandez/Getty Images)

O ministro da Fazenda do Chile, Mario Marcel, foi rápido em responder à proposta de Lula em 23 de janeiro.

“No momento, estamos confortáveis em ter nossa própria política monetária e fiscal, que têm sido especialmente úteis para começar a reduzir a inflação neste ano.”

O Brasil é a maior economia da América Latina e atualmente luta contra a inflação, a divisão política, a pobreza e as crescentes taxas de criminalidade.

Posteriormente, a visão de Lula para uma moeda universal não agradou ao público brasileiro.

“Não é uma medida popular. É especificamente [projetado] para beneficiar economias falidas na América Latina. Como isso ajuda o Brasil?” disse o economista e analista político Paulo Figueiredo ao Epoch Times.

No Brasil, seu país natal, Figueiredo já viu sua cota de políticas econômicas. Ele diz que a proposta de Lula é mais uma “declaração ideológica do que uma realidade”, acrescentando que tem “um pouco de tema antiamericano por trás também”.

‘Qual é o ponto?’

Ele observou que a razão pela qual os países latino-americanos mantêm reservas de dólares americanos e também os usam para o comércio é que é uma moeda confiável e versátil.

Com isso em mente, ele fez a pergunta: “Então, por que criar uma moeda comercial apenas para a Argentina e o Brasil? Qual é o objetivo?

Figueiredo diz que é porque Lula quer fazer uma declaração de que o Brasil pode se manter sozinho sem ajuda dos Estados Unidos. Por ser a maior economia, ele acrescentou que sempre foi uma política de Lula ajudar nações socialistas em dificuldades.

“É uma política de Lula financiar economias latino-americanas falidas.”

Ignorando a Realidade

Quando o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez anunciou a criação de uma moeda eletrônica universal para a região em 2009, teve o apoio de todo um bloco comercial de nações da América Latina e do Caribe.

Naquele ano, Chávez elogiou a nova unidade monetária como a resposta da região à crise financeira de 2008 que atingiu os Estados Unidos.

Chávez pediu aos países vizinhos que parassem de armazenar reservas de dólares americanos e chamou a crise de 2008 de “fim do capitalismo”.

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O ditador venezuelano Nicolas Maduro passa por um retrato do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez em Caracas em 14 de janeiro de 2019 (Federico Parra/AFP/Getty Images)

Treze anos depois, a região esqueceu a ostentação do ex-presidente venezuelano de ter uma moeda comum circulando no início de 2010. Desde então, o cenário econômico da América Latina mudou drasticamente, mas Lula – que foi presidente do Brasil em 2009 – mantém firme a visão original de Chávez.

Embora Lula tenha voltado ao cargo em um clima político e econômico muito diferente. A divisão política na América Latina nunca foi tão profunda. Cada vez menos pessoas estão dispostas a tolerar a retórica de esquerda sem resultados definíveis.

Já se foi o auge da “maré rosa” para os líderes socialistas. Populações civis cada vez mais voláteis foram rápidas em derrubar presidentes que não cumprem suas promessas nos últimos anos.

Um analista argentino que preferiu ser identificado pelo primeiro nome, Chris, disse ao Epoch Times que “a proposta de Lula não é nada realista”.

Morando em Buenos Aires, Chris assistiu à queda da economia de seu país em tempo real nos últimos 12 meses. Com base nas diferenças drásticas entre os países latino-americanos e seus governos, é um pesadelo político, de acordo com Chris.

Assim como a população, os políticos da região também se tornaram muito mais polarizados.

Chris diz que quando um novo presidente argentino assume o cargo, a primeira ordem do dia é desfazer ou mudar as políticas feitas pelo governo anterior.

Isso por si só torna improvável o nível de cooperação e integração necessário para criar uma moeda universal entre a Argentina e o Brasil.

“Demorou décadas para a Europa implementar o euro e a maioria das economias já era forte”, disse Chris.

Figueiredo concordou, dizendo: “A economia é consequência. Para ter uma economia forte, você precisa de um país com um estado de direito forte. Neste momento, o Brasil está do lado oposto disso.”

 

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