Por Matheus Ferreira Lima, Epoch Times
Após a visita de Kim Jong-un à China no final de março, a desnuclearização da Coreia do Norte deixou de ser apenas uma promessa. A principal causa dessa mudança no tom do discurso, em comparação à retórica balística presente em 2017, foi a firmeza do presidente Donald Trump, que não recuou diante dos protestos da opinião pública Ocidental.
A intensificação da discursata entre Washington e Pyongyang, prenunciando o embate armado, foi um fator desestabilizador no Leste Asiático. Como resultado, os Estados Unidos desembarcaram o Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude (THAAD) na Coreia do Sul, e o Japão pôs em atividade o seu primeiro batalhão de fuzileiros navais – algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial.
O regime chinês é contra a mobilização do THAAD próximo à sua fronteira, pois especula-se que o radar do equipamento seria capaz de monitorar o espaço aéreo para além da fronteira sino-coreana.
Pequim preza pela estabilidade. Diante dos acontecimentos, para ela tornou-se inaceitável a continuidade da estratégia agressiva norte-coreana. Assim, o encontro entre Kim Jong-un e Xi Jinping foi muito mais uma convocação feita pelo credor da ditadura coreana, do que uma visita amistosa entre velhos aliados.
De acordo com a Sinoinsider, empresa de consultoria de risco político especializada em China, o regime chinês decidiu auxiliar os Estados Unidos na desnuclearização da Coreia do Norte em junho de 2017, reforçando publicamente essa intenção em novembro de 2017.
Desde o fim do ano passado, Pyongyang não fez nenhum novo teste com seus mísseis, e foi anunciada a visita à China do Secretário de Defesa dos Estados Unidos Jim Mattis.
Segundo o Dr. Harald Malmgren, economista com longa experiência em questões geopolíticas, os chineses também reduziram a ajuda de bens de primeira ordem aos norte-coreanos, além de terem ameaçado invadir Pyongyang, caso necessário.
Recuando para avançar
No entanto, pecam pela ingenuidade aqueles que acreditam que a China cede completamente ao desejo de Donald Trump. Como afirma ainda o Dr. Malmgren, o líder chinês exigiu que a trégua entre as Coreias seja transformada em armistício – cessando a guerra entre os dois países e abrindo caminho para a assinatura de um tratado de paz.
O fim das hostilidades acabaria com a justificativa da presença norte-americana na Península Coreana, o que agradaria não só à China e à Coreia do Norte, como também à esquerda sul-coreana, que possui um passado anti-americano e pró-Pyongyang.
Para os analistas da Sinoinsider, agora que Kim Jong-un silenciou sua bravata belicosa, Xi Jinping também usará a cooperação norte-coreana para barganhar um alívio às tarifas impostas por Donald Trump a produtos chineses.
Para conseguir essa vitória, é possível que o presidente norte-americano esteja disposto a atender às demandas chinesas. Desnuclearizar pacificamente a dinastia Kim colocaria o bilionário norte-americano no rol dos maiores governantes de seu país.
No entanto, é improvável que, ao se retirar da Coreia do Sul, os Estados Unidos simplesmente diminuam sua presença no Leste Asiático. A cooperação chinesa foi conseguida através de manobras agressivas, relaxar agora apenas devolveria a situação ao antigo status quo.
Assim, caso o armistício seja assinado e a retirada ocorra, restará saber se o Japão aceitará uma maior presença militar norte-americana em seu território. A expansão da presença militar chinesa no Pacífico pode ser o fiel da balança que convença a opinião pública nipônica a aceitar o aumento do efetivo militar estrangeiro no Japão.
Talvez o maior vencedor desse embate seja a esquerda sul-coreana. Um tratado de paz entre as duas Coreias coroaria o governo de Moon Jae-in, provavelmente garantindo sua reeleição. Para o futuro da Coreia do Sul, esse acontecimento pode ter desdobramentos negativos, devido ao viés autoritário que o atual governo vem demonstrando e de seu passado ligado ao Juche.
No entanto, ao contrário do que Moon Jae-in e seus aliados desejam, a China não permitirá que a questão da reunificação seja levada à mesa. Uma Coreia unida, no longo prazo, torna-se um forte concorrente regional, algo que Pequim deseja evitar.
Para a Coreia do Norte restará o alívio das sanções, o restabelecimento da ajuda humanitária e a reativação do Parque Industrial de Kaesong, caso ela finalmente encerre o seu programa nuclear. Os ganhos garantirão a continuidade da dinastia Kim, descarregando a pressão interna e externa. Esses proveitos superam de longe a perda de seu arsenal nuclear.
No entanto, caso seja apresentado à Donald Trump outro plano vazio de desnuclearização na reunião de cúpula prevista para o meio do ano, podemos esperar a continuidade da estratégia de pressão máxima sobre o grupo asiático.