Na sexta-feira (22) o presidente Lula da Silva confirmou o que já era de conhecimento público, mas ofuscado no período eleitoral: as fortes relações do PT com o Partido Comunista Chinês.
A declaração de Lula ocorreu durante o encontro no Palácio do Planalto com Li Xi, membro do Comitê Permanente do Politburo e Secretário da Comissão Central de Inspeção Disciplinar do Comitê do Partido Comunista da China (PCCh), que veio ao Brasil em visita oficial.
“Para nós, brasileiros, é sempre uma alegria poder receber um país irmão, um país com quem mantemos uma relação extraordinária, não apenas do ponto de vista comercial, como também do ponto de vista político. O meu partido é o partido que tem uma forte relação com o Partido Comunista Chinês,” assista a declaração do presidente:
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“Um novo capítulo”
Li ressaltou que o retorno de Lula ao poder sinaliza “um novo capítulo” nas relações entre Brasil e China, remetendo à visita do presidente brasileiro à China em abril. À época, declarações do petista foram também motivo de controvérsia.
“A China é um exemplo de desenvolvimento para o mundo”, Lula afirmou ao falar sobre o crescimento do regime chinês, acrescentando que todos deveriam aprender com a China “para que a gente possa ser mais rico, ser mais forte, ter mais distribuição de riqueza e ter um mundo mais humano”.
Após a viagem ao gigante asiático, o presidente brasileiro passou por Portugal. Lá, quando questionado pelo canal RTP1 sobre violações de direitos humanos na província chinesa de Xinjiang — onde se estima haver mais de um milhão de muçulmanos em campos de “reeducação” — Lula pareceu atribuir o desenvolvimento econômico à repressão religiosa do Partido Comunista: “Todos os países do mundo têm problemas. Nós precisamos aprender a respeitar a autodeterminação dos povos. A China encontrou um jeito de resolver os seus problemas, e um jeito que permitiu que a China logo logo se transformasse na primeira economia do mundo”.
As atrocidades são consideradas um genocídio pelo governo americano.
“Objetivos como a paz”: um breve histórico da “máquina de matar” do PCCh
Antes do encontro de sexta-feira com o presidente Lula, a comitiva de Li Xi se reuniu com a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, na quarta-feira (20). Foi assinado um acordo com o Partido Comunista para “reforçar a coordenação diante das questões regionais e internacionais”.
Durante o encontro, a presidente do PT já havia antecipado os laços firmes com o PCCh, declarando que “Nossos partidos, assim como nossos países, têm uma trajetória de diálogo e cooperação em diversos campos, tendo como marco o respeito mútuo e a convergência em objetivos como a paz e o desenvolvimento em benefício da maioria da população, entre outros”.
Vale um contraste entre a fala da petista, e a história do Partido Comunista da China — e dos líderes que seus membros veneram até hoje.
O partido que Hoffmann afirmou ter objetivos de “paz e desenvolvimento em benefício da maioria da população” e com o qual o presidente Lula declarou ter uma “relação extraordinária, não apenas do ponto de vista comercial, como também do ponto de vista político”, é o mesmo partido que matou em tempos de paz mais do que o total dos mortos, civis e militares, da Segunda Guerra Mundial. Segundo o pesquisador R.J. Hummel, talvez o principal estudioso do assunto no Ocidente, são mais do que 76 milhões de pessoas.
O PCCh não abandonou violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade. Perseguição religiosa, aprisionamento, campos de trabalho forçado e vigilância constante são apenas alguns dos métodos do Partido para o controle da população chinesa.
Muitas vezes, a punição dispensa o devido processo legal. Entre as principais vítimas de repressão estatal estão os chamados prisioneiros de consciência, principalmente praticantes de Falun Dafa e minorias étnicas ou religiosas: uigures, cristãos, tibetanos, budistas e outros. Estas são pessoas acusadas não de crimes imaginados na maior parte do mundo; mas de manter fé de forma não avalizada pelo PCCh.
Espancamentos, humilhação sexual, estupro, choques com bastões elétricos, e injeções forçadas com drogas psicotrópicas são aplicados nestes alvos para que renunciem as suas crenças ou se submetam ao controle absoluto do Partido.
O processamento pelo judiciário também não dá sinais de normalidade. A Safeguard Defenders cita a taxa de convicção na cortes chinesas em 99.975%
Indo além, o PCCh desenvolveu uma indústria macabra a partir da perseguição de dissidentes: a extração forçada de órgãos de pessoas vivas.
Um tribunal internacional independente de Londres, o London China Tribunal, reconheceu entre 2018 e 2019, que a extração forçada de órgãos —com conivência ou participação do Partido Comunista Chinês— estava ocorrendo na China e alvejando um número substancial de vítimas por longo tempo, principalmente praticantes de Falun Dafa.
Tampouco é possível que estas informações escapem aos oficiais brasileiros. Os fatos aqui relatados já foram recebidos por organismos nacionais e internacionais mundo afora. No último relatório feito pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, foi determinado que a China é responsável por “graves violações dos direitos humanos” e possíveis crimes contra a humanidade na província de Xinjiang, onde uigures e outras minorias foram submetidas a detenção ilegal em campos de reeducação, onde são alegadamente vítimas de “tortura, violência sexual, maus-tratos, tratamento médico forçado, bem como trabalho forçado e relatos de mortes sob custódia” (pdf).
Na mais recente exposição da natureza repressiva do PCCh, em primeiro de setembro, entrou em vigor a nova legislação sobre “locais de atividade religiosa”. A medida intensifica o controle do Partido Comunista sobre as crenças ainda reconhecidas em algum grau pelo regime chinês. Em comentário, Marcos Schotgues, editor-chefe do Epoch Times Brasil, pontuou: ”A religião na República Popular da China é nominal. A única fé permitida é a fé no Estado— no Partido Comunista”.
Ambição global
A atuação do PCCh não está limitada às suas fronteiras. O Partido Comunista Chinês tem um objetivo declarado: a influência global para montar o que descreve como uma “comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade” — um futuro aos moldes do PCCh.
Nesta influência: guerra irrestrita, roubo de tecnologia e propriedade intelectual, roubo de recursos naturais — como a pesca predatória realizada em águas brasileiras — ou a estratégia de “diplomacia das dívidas”.
Frank Gaffney, presidente executivo de Center for Security Policy, disse no ano passado que poder-se-ia chamar a aproximação entre os regimes de China, Coreia do Norte, Irã e Rússia de um “Eixo do Mal”, termo antes utilizado pelo presidente americano George Bush para Iraque, Irã e Coreia do Norte.
Diante dos fatos expostos — apenas um vislumbre da atuação do PCCh — a aproximação do Brasil e o fortalecimento dos laços entre o partido governante e o Partido Comunista Chinês, afasta o Brasil de liberdade e democracia e o aproxima desse “Eixo do Mal”.
Conforme indicado pelo presidente Lula e por Gleisi Hoffmann, isso está além do ponto de vista comercial. Trata-se de “coordenação em objetivos”.
Edição: Marcos Schotgues
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As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times