Análise: Coreia do Norte busca uma saída para sanções

Não é a primeira vez que a Coreia do Norte sai em busca de um acordo com Washington

07/03/2018 22:30 Atualizado: 08/03/2018 11:29

Por Matheus Ferreira Lima, Epoch Times

O mundo suspirou aliviado após a delegação presidencial da Coreia do Sul anunciar que Kim Jong-Un está disposto a negociar um fim à tensão norte-sul. Depois de um 2017 atribulado, em que mísseis balísticos e tweets agressivos foram disparados, esse discurso de paz nos deu a impressão de que a atmosfera está menos carregada de intenções beligerantes.

Mas até que ponto esses intentos cordiais são verdadeiros? Não é a primeira vez que a Coreia do Norte sai em busca de um acordo com Washington. Desde a década de 1990, os Estados Unidos enviaram bilhões de dólares em ajuda humanitária, para que Pyongyang pusesse um fim ao seu programa de desenvolvimento de armas nucleares.

Como a retórica agressiva do ditador norte-coreano e os lançamentos de mísseis provam, os acordos não foram honrados pelo país asiático. Mais que isso, não só a Coreia do Norte agiu dissimuladamente, como a Rússia e a China ajudaram a sustentar o seu pequeno aliado, apesar de terem votado favoravelmente às sanções no Conselho de Segurança da ONU.

Quais cartas estão sobre a mesa?

Os Estados Unidos insistem que qualquer acordo passa pelo fim do arsenal nuclear de Pyongyang. Já a Coreia do Norte, por sua vez, defende a desnuclearização de toda a península coreana, o que provavelmente significa o fim da presença militar norte-americana na região.

A delegação sul-coreana não revelou detalhes do encontro, mas afirma ter conversado sobre a oferta de realizar uma reunião de cúpula com o país ao norte, a ser realizada em abril. Ainda nesse mês, os sul-coreanos se reunirão com Donald Trump e com o governo japonês para discutir a situação.

(Casa Azul/Getty Images)
(Casa Azul/Getty Images)

A atual Casa Azul é favorável a uma reunificação pacífica entre as coreias. Alguns setores do governo também são favoráveis à retirada das tropas norte-americanas – por “coincidência”, esses indivíduos possuem um passado ligado ao Juche.

A redução da presença militar dos Estados Unidos na Ásia favorece não só o governo da Coreia comunista, como também atende aos interesses da China e da Rússia, as quais competem por zonas de influência ao redor do globo com o país ocidental.

Os possíveis desdobramentos

Em um primeiro momento, Kim Jong-Un deve tentar repetir os feitos de seu pai: negociar a suspensão das sanções e a doação de uma ajuda humanitária generosa, para aliviar a pressão política que a extrema pobreza causa sobre seu governo. Em troca, prometeria o fim ou paralisação do programa de desenvolvimento de armas nucleares.

Podemos contar com a China e a Rússia para se juntar a esse coro. É do interesse de ambos os países a estabilidade do seu aliado. E caso finalmente ocorram mudanças políticas, que essas mudanças sejam sem solavancos.

Quanto à Coreia do Sul, Moon Jae-in e seus aliados políticos possuem um passado marcado por favorecimentos à ditadura do Juche. Desde o início de seu mandato, Moon tenta reviver o parque industrial de Kaesong, que, enquanto esteve ativo, foi fonte de renda para o governo em Pyongyang. É de se esperar que o governo sul-coreano defenda uma posição similar.

(Michail Limetyeva/AFP/Getty Images)
(Michail Limetyeva/AFP/Getty Images)

No entanto, se as negociações tomarem esse rumo, a dinastia Kim mais uma vez terá a oportunidade de ludibriar o Ocidente, obtendo todos os benefícios sem precisar dar nada em contrapartida. Mas como os últimos acontecimentos dão a entender, Washington não está disposto a aliviar a pressão sobre a Coreia do Norte.

No dia 5 de março, o Departamento de Estado dos Estados Unidos impôs novas sanções à ditadura norte-coreana. Com base no Chemical and Biological Weapons Control and Warfare Elimination Act, Washington impôs restrições à venda de tecnologia, armas e outros bens considerados relevantes para a segurança nacional. A sanção teve como motivo o assassinato de Kim Jong-Nam, meio irmão de Kim Jong-Un, morto na Malásia em 2017.

Assim, para não enfraquecer sua estratégia, Donald Trump continuará a pressionar a Rússia e a China, de forma a minar o amparo que esses dois países dão à ditadura comunista. Em 2017, o governo norte-americano conseguiu que os chineses expulsassem as empresas norte-coreanas instaladas em seu território, além de proibir que norte-coreanos fizessem operações financeiras em bancos chineses.

O desejo de iniciar negociações e a interrupção do lançamento de mísseis balísticos são o resultado da estratégia de isolamento, iniciada por Donald Trump. No longo prazo, essa operação pode causar danos irreversíveis à estabilidade política na Coreia do Norte.

Dessa forma, sustentá-la durante as negociações, para que Kim Jong-Un não consiga fugir para a zona confortável das promessas não cumpridas, deve ser o foco do presidente dos Estados Unidos. Por isso, o alívio das sanções deve estar ligado a medidas concretas e verificáveis de que Pyongyang está cumprindo sua parte da barganha.

A dúvida que resta é sobre quanta força Donald Trump terá para levar adiante sua agenda. Seu calcanhar de Aquiles é justamente a opinião pública estadunidense. A Rússia ajudará sua aliada com mais uma de suas operações ativas, criando outro incêndio político para a Casa Branca?