Acordo México-EUA-Canadá aponta más práticas comerciais da China

Trump, que recentemente impôs tarifas de 200 bilhões de dólares sobre produtos chineses, disse que elas têm a função de proteger os interesses dos EUA em face das más ações chinesas, como o roubo de propriedade intelectual

05/10/2018 11:37 Atualizado: 05/10/2018 11:37

Por Frank Fang, Epoch Times

O novo acordo comercial entre México, Canadá e Estados Unidos alertou a China sobre algumas de suas práticas comerciais mais ultrajantes, segundo especialistas.

Chamado Acordo México-EUA-Canadá, ou AMEC, o pacto substituirá o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês) após 24 anos. Embora o novo acordo ainda não tenha sido aprovado pelo Congresso para poder entrar em vigor, o presidente Donald Trump tem grandes esperanças de que ele permitirá que a América do Norte se torne uma “força motriz da manufatura”.

“Acho que esse acordo vai impulsionar a produtividade e a economia do Canadá e do México”, disse Frank Xie, professor de Comércio da Universidade da Carolina do Sul-Aiken, em entrevista à edição chinesa do Epoch Times.

Com o NAFTA, explica Xie, muitos produtos mexicanos vendidos no mercado norte-americano foram o resultado da montagem de componentes baratos importados de outros países, como a China. Agora, com o novo acordo, o México não poderá mais depender de componentes baratos e, como consequência, provocará um aumento na qualidade da indústria mexicana.

No NAFTA, as empresas chinesas podiam escapar das tarifas vendendo os componentes para o Canadá ou o México e, em seguida, inserindo esses produtos no mercado dos Estados Unidos sem pagar tarifas. Especialistas em comércio também apontaram que o novo acordo entre México, Estados Unidos e Canadá inclui uma cláusula que aponta para as práticas desleais da China.

A cláusula especifica que se algum dos atuais parceiros do NAFTA firmar um acordo com um país “não comercializado” como a China, os outros dois podem sair em seis meses e formar seu próprio acordo bilateral entre si, informou a agência de notícias Reuters.

Derek Scissors, especialista em China para o American Enterprise Institute em Washington, disse que a cláusula oferece aos países um veto efetivo sobre qualquer acordo comercial com os chineses.

Se isso se repete em outras negociações dos Estados Unidos com a União Europeia e Japão, deixaria Pequim isolada no sistema global de comércio.

“Tanto para o Canadá quanto para o México, existem razões para pensar que um acordo de livre comércio com a China é uma possibilidade. Não é iminente, mas esta é uma maneira muito elegante de lidar com isso”, disse Scissors em entrevista à Reuters. “Não vale a pena perder um AMEC ratificado por qualquer acordo com a China”.

Trump, que recentemente impôs tarifas de 200 bilhões de dólares sobre produtos chineses, disse que elas têm a função de proteger os interesses dos Estados Unidos em face das más ações chinesas, como o roubo de propriedade intelectual — que está atualmente estimado entre 180 milhões e 450 bilhões por ano, segundo estimativas de 2017 da Comissão de Propriedade Intelectual do National Bureau of Asian Research, uma organização de pesquisa independente.

Reações dentro da China

Embora Pequim não tenha feito declarações oficiais sobre o AMEC, a imprensa chinesa reagiu às críticas.

Wang Peng, professor da Universidade Jiaotong, em Xi’an, localizada na província de Shaanxi, noroeste da China, escreveu em um artigo publicado em 2 de outubro em Guancha, um website nacionalista chinês, que o acordo era resultado de coerção por parte de Trump com o propósito de se vingar da China.

Li Guangman, escritor freelancer e colunista do portal de opinião chinês CWZG, escreveu que o México e o Canadá são simplesmente “cadáveres que foram mortos pelo grande pacote de medidas da guerra comercial dos Estados Unidos”, e que a China” não deve mostrar qualquer simpatia para com eles [México e Canadá]”.

Li também atacou o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, e disse que o comentário de que “é um bom dia para o Canadá”, ao concordar com o AMEC, era como “confortar a si mesmo”. Li sugeriu que Pequim deveria trabalhar com outros países desenvolvidos, em vez dos Estados Unidos, e “desintegrar qualquer aliança econômica do mundo que possa atingir a China”.

Wenweipo, um jornal de Hong Kong com uma tendência pró-Pequim, publicou um artigo em 2 de outubro com o título: “Canadá e Estados Unidos: eles conseguiram o que queriam e o México é o perdedor “, argumentando que os termos do novo acordo pareciam concessões que prejudicariam a economia mexicana.

Ao contrário do NAFTA e do Acordo Trans-Pacífico, o AMEC impõe regras mais estritas para a origem de veículos e peças automotivas. Ou seja, os fabricantes de automóveis não sofrerão tarifas se 75% das peças que compõem seus carros forem fabricadas no Canadá, no México e nos Estados Unidos, um aumento em comparação com os 62,5% do NAFTA.

Além disso, o acordo exige que, para que um veículo não tenha que pagar tarifas, 40% dele deve ser fabricado por trabalhadores que ganham um mínimo de 16 dólares por hora.

Colaborou: Agência Reuters