Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Mais de dois anos e meio após a invasão russa no leste da Ucrânia, as forças de Moscou assumiram a iniciativa na região leste de Donbas, cujo controle total continua sendo um dos principais objetivos da Rússia.
Enquanto isso, Kiev foi colocada na defensiva e continua enfrentando sérias escassez de mão de obra e equipamentos militares.
Nos últimos dois meses, as forças russas avançaram rapidamente e tomaram várias posições estratégicas em Donbas, levantando a questão: a Rússia está prestes a vencer a guerra?
Embora a maioria dos observadores ocidentais reconheça que a Rússia está avançando constantemente em Donbas, eles rapidamente rejeitam a ideia de uma vitória iminente russa na Ucrânia.
“Eu não acho que os russos estejam prestes a vencer tão cedo”, disse Robert Peters, analista de políticas de defesa da Heritage Foundation, um think tank baseado em Washington, ao Epoch Times.
“Mas a Ucrânia também não está”, acrescentou Peters, que anteriormente atuou como analista civil de políticas no Departamento de Defesa dos EUA.
O embaixador Matthew Bryza, ex-funcionário da Casa Branca e do Departamento de Estado, concordou.
“A Rússia pode estar prestes a conquistar um ganho significativo em Donbas ao capturar [a cidade de] Pokrovsk”, disse ele ao Epoch Times.
“Mas está longe de encerrar sua guerra contra a Ucrânia por meio de ação militar”, afirmou Bryza, que faz parte do conselho da Jamestown Foundation, um think tank de Washington dedicado a questões de políticas de defesa.
“Enquanto isso”, acrescentou, “a Ucrânia parece comprometida em continuar lutando, apesar da grave escassez de mão de obra”.
Perda de terreno em Donbas
Sete meses após a invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, Moscou efetivamente anexou Donbas — que compreende Donetsk e Luhansk — junto com outras duas regiões do sudeste da Ucrânia.
Atualmente, a Rússia considera todas as quatro regiões como território da Federação Russa.
De acordo com estimativas recentes citadas pela Reuters, as forças russas atualmente controlam 60% de Donetsk e 98,5% de Luhansk.
Kiev, por sua vez, prometeu recuperar os territórios perdidos pela força das armas, juntamente com a região da Crimeia, no Mar Negro, que a Rússia anexou em 2014.
Desde o início de agosto, as tropas russas avançaram rapidamente para o oeste, ao longo da linha de frente de aproximadamente 160 quilômetros de Donetsk, conquistando uma série de posições estratégicas das forças ucranianas em retirada.
Agora, elas parecem estar prontas para capturar a cidade de Pokrovsk, um importante centro de transporte ucraniano, frequentemente descrito na mídia russa como o “portal para Donetsk”.
Segundo Tim Ripley, um proeminente analista de defesa britânico, a Rússia está utilizando uma estratégia antiga, na qual as tropas inimigas são flanqueadas antes de serem encurraladas em “caldeirões” inescapáveis.
As forças russas em Donbas, disse Ripley, “estão conduzindo uma série de operações de cerco para forçar os ucranianos a recuar ou correr o risco de serem cercados”.
“Toda vez que uma brigada ucraniana — cerca de 2.000 ou 3.000 soldados — é cercada, ela precisa se retirar e abandonar uma grande quantidade de equipamentos”, afirmou ele ao Epoch Times.
“Isso continua acontecendo”, acrescentou Ripley, editor do Defense Eye, um serviço de notícias online dedicado a questões de segurança, e autor de Little Green Men: The Inside Story of Russia’s New Military Power.
No dia 3 de outubro, o general Oleksandr Syrskyi, comandante das forças armadas de Kiev, ordenou o reforço das defesas nos aproximadamente 40% de Donetsk que ainda estão sob controle da Ucrânia.
A medida veio um dia depois que as tropas ucranianas se retiraram da cidade de Vuhledar, em Donetsk, que, segundo o Ministério da Defesa de Moscou, foi “libertada” pelas forças russas.
Segundo o comando militar oriental de Kiev, a retirada foi realizada para evitar o cerco e “preservar o pessoal e os equipamentos militares”.
A queda de Vuhledar foi apenas o mais recente de uma série de avanços russos.
No início de setembro, as forças russas capturaram a vila de Memryk, a sudeste de Pokrovsk, junto com quatro outros assentamentos próximos.
Uma semana depois, elas supostamente tomaram a cidade de Ukrainsk, em Donetsk, seguidas logo depois pela cidade de Makiivka, na vizinha Luhansk.
De acordo com Peters, a linha de frente em Donetsk é “reminiscente da Primeira Guerra Mundial”, com as forças ucranianas gradualmente cedendo terreno antes de “ir para outra linha defensiva”.
Ambos os lados, afirmou Peters, “estão sofrendo muitas baixas por ganhos mínimos”.
Entretanto, uma ofensiva ucraniana transfronteiriça na região de Kursk, no oeste da Rússia, lançada por Kiev no início de agosto, não conseguiu desacelerar o avanço russo.
Desde que tropas ucranianas, desesperadamente necessárias, foram transferidas de Donbas para Kursk, alguns analistas ocidentais descreveram a ofensiva transfronteiriça como um “erro estratégico”.
Quando questionado se concordava com essa avaliação, Bryza afirmou: “Ainda é cedo para dizer”.
“Outros comentaristas ocidentais acreditam que a incursão em Kursk foi um movimento astuto”, disse Bryza.
Além disso, ele acrescentou, a ofensiva transfronteiriça “dá a Kiev uma certa vantagem, caso Moscou decida agora buscar um cessar-fogo”.
No entanto, continuou Bryza, “não há muitas evidências de que [o presidente russo Vladimir] Putin esteja ansioso por tal negociação, já que ele colocou a economia russa em uma postura de guerra, sugerindo que planeja operações militares sustentadas”.
Exército de 1,5 Milhão de Homens
A Ucrânia, com uma população de cerca de 38 milhões — menos de um terço da da Rússia —, também continua enfrentando graves problemas de escassez de pessoal.
Em dezembro passado, Zelenskyy disse que o exército ucraniano provavelmente precisaria de 500 mil novos recrutas para atingir seus objetivos de guerra.
Em abril, ele reduziu a idade de alistamento de 27 para 25 anos, enquanto um relatório recente do Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA colocou a idade média dos soldados ucranianos em 40 anos.
Na Rússia, no mês passado, Putin ordenou o aumento do tamanho do exército russo em 180 mil soldados — para um total de 1,5 milhão de militares ativos.
Essa foi a terceira vez que a Rússia ampliou o tamanho de seu exército desde o início do conflito, em 2022.
Se realizada, a medida transformaria o exército permanente da Rússia no segundo maior do mundo, atrás apenas da China.
De acordo com Peters, a vasta disparidade no número de tropas significa que a Rússia “venceria uma guerra de desgaste, em última análise, já que eles não se importam em sofrer baixas humanas”.
“Mesmo assim, como seria uma vitória?” ele disse. “É improvável que seja a absorção total da Ucrânia, ou mesmo [a instalação de um governo pró-Rússia] em Kiev”.
Dificuldade em determinar as taxas de baixas
Determinar as taxas de baixas é notoriamente difícil, já que ambos os lados tendem a exagerar as perdas do inimigo, ao mesmo tempo em que minimizam as próprias.
No dia 4 de outubro, o Estado-Maior das forças armadas ucranianas estimou o número total de baixas russas em quase 658 mil desde o início do conflito. Em fevereiro, o Ministério da Defesa do Reino Unido estimou o número de mortos ou feridos russos em 350 mil.
Por sua vez, o Ministério da Defesa da Rússia, em abril, estimou o número total de baixas ucranianas em pouco menos de meio milhão desde o lançamento do que Moscou chama de “operação militar especial”.
Zelenskyy, em fevereiro, afirmou que o número de mortes de soldados ucranianos era de 31 mil.
O Epoch Times não conseguiu verificar independentemente os números de baixas divulgados por ambos os lados.
Mas enquanto as taxas de baixas são difíceis de determinar, pelo menos para observadores externos, os números muito superiores das tropas russas sugerem que Kiev continua “longe da vitória”, disse Peters.
“Não tenho ideia de como seria uma vitória ucraniana que incluísse a libertação total [dos territórios controlados pelos russos] sem o uso de armas nucleares russas”, afirmou ele.
“Resumindo”, disse Peters, “não vejo um caminho para a vitória de nenhuma das partes tão cedo”.
A Reuters contribuiu para este artigo.