Parecidos, mas nem tanto. Como são as relações comerciais entre os países do BRICS?
Muito do destaque do BRICS deve-se ao seu desempenho econômico nos últimos anos, mas uma simples conferida no crescimento anual desses países é o suficiente para arrefecer um pouco a euforia que se criou em torno. Veja o crescimento do PIB (em pontos percentuais) entre 2005 e 2016:
A partir de um auge de crescimento em 2010, é possível notar que os emergentes do BRICS perderam bastante o ímpeto nos últimos anos – mesmo China e Índia, que mantiveram taxas notáveis, demonstraram uma desaceleração no ritmo de expansão. Ou seja, mesmo na economia, onde os BRICS possuem o maior destaque relativo frente aos demais países do mundo, não foi observada uma consistência que estivesse à altura das ambições políticas de seus integrantes.
Analisando a composição econômica de cada um dos países do BRICS, observam-se também perfis nitidamente distintos que podem fornecer explicações para o declínio econômico de Brasil, Rússia e África do Sul. Vejamos a composição da pauta de exportação dos cinco países em 2015 e comparar com os dados de dez anos antes:
Note-se que a economia da China, já em 2005, tinha como base eletrônicos, itens de maior valor agregado quando comparados com produtos agrícolas; ademais, a China manteve ao longo desse tempo um grau razoável de diversificação da economia, permitindo explorar variados mercados consumidores. A Índia também apresenta uma diversificação na sua pauta de exportações, com participações importantes de têxteis e medicamentos; muito embora o volume exportado seja significantemente menor que o da China, a Índia ainda exporta mais que o Brasil, por exemplo.
Veja agora a falta de diversificação nos demais três membros do BRICS. Enquanto China e Índia caminham para consolidar a produção de bens de maior valor agregado, o Brasil tem se especializado na sua principal vantagem comparativa – agronegócio e commodities – cujas exportações impressionam pelo volume, mas não pela geração de valor. A atrofia da indústria nacional de máquinas e equipamentos nos últimos anos fica evidente nas figuras.
A pauta de exportações da Rússia elimina quaisquer dúvidas acerca de sua especialização como fornecedora de energia, com sua economia fortemente dependente do petróleo e do gás natural, com uma participação subalterna do comércio de minérios e produtos químicos. O fato de ser o principal fornecedor de energia para a Europa Ocidental confere à Rússia importantes fichas na barganha política, mas também aumenta a vulnerabilidade de sua economia a qualquer oscilação mínima no mercado mundial de petróleo e gás.
Por fim, para o caso da África do Sul, também se observa uma especialização na exportação de combustíveis fósseis e minérios, mas com a participação decisiva do setor de bens supérfluos (não-essenciais): ouro, diamantes e metais preciosos, os quais possuem alto valor agregado, porém nem de longe possuem a importância do petróleo, o qual ainda é essencial para a produção econômica mundial. Diamantes e ouro, por outro lado, são bens de luxo cuja demanda pode cair rapidamente em tempos de recessão. Nesse contexto, o encolhimento do crescimento da África do Sul parece ter sido inevitável.
E em relação às relações bilaterais? Será que, entre si, os membros do BRICS trabalham juntos em prol do crescimento mútuo? Ou será que o BRICS tem mais significado para alguns integrantes do que para outros? Vamos ver a participação relativa de cada membro do BRICS no comércio dos demais países do grupo:
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Veja o peso de cada economia do BRICS na pauta de exportação da China, por exemplo: Somados, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul são destinos de apenas 5,95% das exportações chinesas e são origem de 7,11% das importações chinesas. É possível ver que países como Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Alemanha possuem um peso muito maior na economia chinesa.
Vamos agora observar o peso da China na balança comercial dos outros países do BRICS, e a assimetria fica evidente:
• Brasil: 18% das exportações e 18% das importações
• Rússia: 9,8% das exportações e 19% das importações
• Índia: 4,2% das exportações e 16% das importações
• África do Sul: 13% das exportações e 19% das importações
Vamos ver a magnitude desses mesmos dados dez anos antes (2005): note que o mesmo cenário já se desenhava desde aquela época – a China possuindo um peso maior na economia dos outros quatro países do que o contrário; ao longo dos dez próximos anos, a importância relativa da China nos outros países do BRICS aumentou significantemente, especialmente em relação às importações:
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• Brasil: 6,6% das exportações e 7,2% das importações
• Rússia: 4,7% das exportações e 7,1% das importações
• Índia: 8,5% das exportações e 7,4% das importações
• África do Sul: 3,5% das exportações e 9,4% das importações
• Brasil, Rússia, Índia e África do Sul juntas: 3,13% das exportações e 5,82% das importações chinesas
Claramente, a China possui uma relevância diferenciada nas demais quatro economias. Por que isso acontece? Vamos investigar analisando a pauta comercial entre a China e os outros quatro países do BRICS, e podemos observar que a diferença entre os produtos exportados e importados responde a essa pergunta:
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Começando pelo Brasil — A composição das exportações brasileiras à China chega a assustar: em 2005, mais da metade das exportações eram compostas por minério de ferro e soja. O cenário em 2015 parece estar ainda mais dependente em produtos agropecuários: a soja ocupa incríveis 44% da exportação, preenchida quase que na totalidade com minério de ferro, petróleo bruto, carnes, açúcar e papel – produtos de baixo valor agregado.
Na importação, porém, o cenário é claramente outro: veja como a pauta de importações provenientes da China é muito mais diversificada. Concentrada em máquinas e eletrônicos – produtos de maior valor agregado quando comparados ao agronegócio – mas também com espaço significativo para as indústrias química e têxtil. Com isso, não é difícil entender a razão pela qual a China tem sido um parceiro comercial cada vez mais relevante para os seus “companheiros” emergentes do BRICS do que o processo inverso: a China importa de seus parceiros produtos pontuais, dependendo da vantagem comparativa de cada país, enquanto exporta variados itens para mover seu grande volume de exportações. Mais ainda, ao longo dos anos a China tem tentado se libertar de ser um exportador de itens “R$ 1,99” – produtos de baixa qualidade e fabricação insossa – e investido para produzir itens de maior valor agregado, como maquinários e automóveis.
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Como abordado anteriormente, a economia da Rússia é claramente inclinada para o fornecimento de combustíveis e energia, e o fato de esmagadores 49% de toda a exportação para a China ser de petróleo bruto deixa claro que a importância econômica da Rússia para a China é extremamente focalizada. Para as importações, porém, observa-se que a Rússia é compradora de uma grande variedade de itens, com destaque para eletrônicos e têxteis.
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A Índia fez o caminho inverso e tentou diversificar suas exportações: se em 2005 se resumia a um fornecedor de minério de ferro à China, em 2015 passou a exportar outras matérias-primas. Porém, o volume de exportações não é dos mais altos (12 bilhões de dólares em 2015), mostrando que a Índia possui uma dependência menor em relação à China, como os dados anteriores já demonstraram. Nas importações, a diversificação da economia chinesa se fez valer, novamente com grande participação de eletrônicos, acompanhado da indústria química.
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Por fim, a África do Sul demonstra uma forte dependência na exportação de minerais e combustíveis fósseis, uma tendência que cresceu com o tempo e demonstra a fragilidade de sua pauta comercial, com quase metade das exportações para seu principal parceiro comercial composta por bens de luxo. No caminho das importações, o mesmo cenário observado nos demais países do BRICS: uma grande variedade de bens importados, centrado em eletrônicos
Após constatar que o intercâmbio comercial entre os membros do BRICS possui assimetrias importantes, além das “rixas” políticas provenientes de ambições conflitantes, o que se pode dizer em relação às ações em conjunto do BRICS? O grupo se reúne anualmente em cúpulas, mas a ação em conjunto mais relevante desde 2009 é a criação em 2014 do NBD (New Development Bank), apelidada de “O Banco do BRICS”), cujo propósito é o de prover financiamento para projetos de infraestrutura para os países subdesenvolvidos e novos emergentes em potencial, contando com um capital inicial de 50 bilhões de dólares, com meta para chegar à reserva de 100 bilhões de dólares.
A criação do NBD é uma sinalização do BRICS para seus “primos pobres” de que o grupo pode vir a representar seus interesses de crescimento econômico e “entrar no centro”. O NBD é visto como um potencial “concorrente” ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e um exemplo de fortalecimento dos laços entre os países subdesenvolvidos (a chamada “cooperação Sul-Sul”). No entanto, após observar as diversas heterogeneidades dentro dos cinco países do BRICS e a falta de sincronia entre eles em agendas fora da economia – ou mesmo em assuntos relacionados à economia –, é possível dizer que o NBD é um passo importante, mas ainda muito longe de representar um “desafio” ao G-7 ou ao FMI, ou mesmo se firmar como um “símbolo” para “a ascensão dos países periféricos”.
“As próximas potências mundiais”?
Comparando a contribuição relativa dos países do BRICS no comércio entre si, constatou-se que o crescimento econômico do BRICS está nitidamente centrado na China, enquanto os outros países dependem cada vez mais do sucesso econômico chinês para sustentar seu crescimento e “correm por fora” na jornada para o “clube do centro”. Com o relativo declínio da economia chinesa, seus “companheiros” do BRICS também sentem os impactos quase que imediatamente.
Mais que isso: será que a sustentação do crescimento econômico basta para transformar os BRICS em superpotências? Certamente aumenta suas chances, mas os dados apontam que só isso ainda está longe se ser o suficiente.
Na teoria econômica, há uma distinção fundamental entre crescimento e desenvolvimento: um país precisa crescer economicamente para se desenvolver, mas o desenvolvimento exige mais que uma boa economia – ganhar dinheiro é uma coisa, distribuí-lo com eficiência é uma questão completamente diferente. Um crescimento no PIB de 10% é um número de causar inveja em qualquer país do mundo, mas um crescimento de 10% para um país como a China, com 1 bilhão e 400 milhões de habitantes, certamente não pode ser interpretado da mesma maneira do que num país com 200 milhões de habitantes, como o Brasil. O crescimento econômico da China nos anos recentes é evidente, mas será que isso se traduziu em desenvolvimento efetivo? Uma breve análise do PIB per capita (PIB dividido pelo número de habitantes) dos países do BRICS com as economias do G-7 pode clarear essa questão:
PIB per capita (2016) [Banco Mundial, 2016]:
BRICS:
• Brasil: U$ 8649,94
• Rússia: U$ 8748,36
• Índia: U$ 1709,38
• China: U$ 8123,18
• África do Sul: U$ 5273,59
G-7:
• Estados Unidos: U$ 57466,78
• Alemanha: U$ 41936,05
• França: U$ 36854,96
• Reino Unido: U$ 39899,38
• Canadá: U$ 42157,92
• Japão: U$ 38894,46
• Itália: U$ 30527,26
Fica claro que, em termos de desenvolvimento econômico, os emergentes ainda estão muito atrás do grupo dos países desenvolvidos os quais desejam alcançar. Vale lembrar que o PIB per capita é uma divisão simples do PIB pela população – ou seja, fornece a renda por habitante caso a distribuição de renda seja perfeita, o que é bem sabido que não acontece na prática. Se levarmos em consideração a desigualdade na distribuição de renda, a diferença fica ainda mais acentuada. Vamos ver como os países do BRICS se saem no chamado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um índice composto por indicadores de saúde (expectativa de vida, mortalidade infantil), educação (taxa de analfabetismo), distribuição de renda (renda per capita), dentre outros fatores. Quanto mais próximo de 1, melhor são o desenvolvimento social e qualidade de vida no país; e quanto mais próximo de 0, pior são. Veja o IDH dos países do BRICS em comparação com o G-7:
IDH (2016) [Relatório do Desenvolvimento Humano/PNUD, 2016]:
BRICS:
• Brasil: 0,754 (79º maior)
• Rússia: 0,804 (49º maior)
• Índia: 0,624 (131º maior)
• China: 0,738 (90º maior)
• África do Sul: 0,666 (119º maior)
G-7:
• Estados Unidos: 0,920 (empatado em 10º maior)
• Alemanha: U$ 0,926 (4º maior)
• França: 0,897 (21º maior)
• Reino Unido: 0,909 (16º maior)
• Canadá: 0,920 (empatado em 10º maior)
• Japão: 0,903 (17º maior)
• Itália: 0,887 (26º maior)
Agora veja o IDH ajustado pela desigualdade na distribuição de renda:
IDH ajustado pela desigualdade (2016) [Relatório do Desenvolvimento Humano/PNUD, 2016]:
BRICS:
• Brasil: 0,561 (78º maior)
• Rússia: 0,725 (38º maior)
• Índia: 0,454 (97º maior)
• China: 0,543 (67º maior) [dado mais recente de 2013]
• África do Sul: 0,435 (102º maior)
G-7:
• Estados Unidos: 0,796 (19º maior)
• Alemanha: U$ 0,859 (5º maior)
• França: 0,813 (18º maior)
• Reino Unido: 0,836 (13º maior)
• Canadá: 0,839 (11º maior)
• Japão: 0,791 (21º maior)
• Itália: 0,784 (25º maior)
Os emergentes certamente chegaram mais perto dos países tradicionalmente mais desenvolvidos: hoje, os países do BRICS são, sem dúvida, atores de fundamental importância para as relações internacionais. No entanto, o que foi mostrado até agora não tem sido suficiente para dizer que esses países estão na fila imediata para se consolidarem como países do “centro”, como aconteceu com Singapura, por exemplo. Mesmo a China, que levantou as maiores expectativas e ajudou a trazer um justificado clima de otimismo para os emergentes, já demonstra sinais de vacilo na sua expansão econômica, e um eventual fracasso já não é um cenário tão inesperado como há cinco ou seis anos atrás.
O futuro do BRICS em tempos de instabilidade na política mundial
Mais que o declínio do desempenho econômico dos próprios países do BRICS, o cenário político global tem assistido à incorporação de novas variáveis que fizeram a corrida “centro x periferia” ficar relativamente em segundo plano:
No aspecto político, a agenda de segurança internacional volta com força seguindo os eventos da anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, desencadeando uma guerra civil na Ucrânia e gerando grande tensão diplomática no Leste europeu, o que culminou, por exemplo, na exclusão da Rússia do então G-8, que voltou a ser G-7. Ainda em 2014, a autoproclamação do chamado “Estado Islâmico” (ISIS) adicionou mais ingredientes à complicada geopolítica do Oriente Médio, em especial em relação à Guerra Civil Síria, palco de mais uma queda de braço entre os membros permanentes do conselho de segurança da ONU, com a Rússia e a China de um lado, fornecendo suporte ao presidente sírio Bashar Al-Assad; e os Estados Unidos, a França e o Reino Unido do outro, que apoiam a oposição, representada pela chamada “Coalizão Nacional, num cenário comparável a uma versão século XXI do “equilíbrio do terror” que dividiu o mundo na Guerra Fria (o envolvimento da Rússia com a Síria tem suas origens ainda na década de 1970).
O advento do Estado Islâmico trouxe novos focos de instabilidade na política mundial, destacando-se os recentes ataques terroristas reivindicados pelo Estado Islâmico na Europa: França (janeiro e novembro de 2015, julho de 2016), Bélgica (março de 2016), Alemanha (dezembro de 2016) e Reino Unido (maio de 2017). Investigações oficiais do atentado em Londres de junho de 2017 também apontam que o ataque foi motivado por extremismo islâmico.
Adicionando à turbulenta conjuntura da segurança internacional figuram as ameaças nucleares da Coreia do Norte, que há muito atormenta as potências mundiais. Sanções ao regime de Kim Jong-Un são numerosas e datam desde 2006, porém as tensões aumentam a cada míssil testado: Em 4 de julho de 2017, a Coreia do Norte lançou seu primeiro míssil balístico intercontinental, elevando ainda mais a “temperatura” da Península Coreana e provocando uma resposta quase que imediata do presidente norte-americano Donald Trump: “Algo terá que ser feito”.
Nesse ínterim, certamente o conselho de segurança das Nações Unidas não estará disposto a dividir suas atenções com meia dúzia de países emergentes reivindicando vagas como membros permanentes, frustrando – pelo menos em curto prazo – as pretensões de países que almejam há muito esse posto, desde países reconhecidamente “centrais”, como Japão e Alemanha, até emergentes como Brasil e Índia.
No cenário econômico, as coisas parecem ir no caminho contrário ao do que grupos como o BRICS tem se conduzido nos últimos anos: em vez de integração e coalizão, tem se assistido a um certo regresso ao protecionismo e ao isolacionismo em países-chave na economia global, com destaque para a saída do Reino Unido da União Europeia em 2016 e à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que em seu discurso eleitoral culpou as políticas de livre comércio pelo declínio da indústria norte-americana, favorecendo claramente políticas protecionistas que se estendem para além do âmbito econômico, como por exemplo a saída do acordo climático de Paris, relativo à redução da emissão de gases do efeito estufa, em junho de 2017.
Uma das principais facetas do protecionismo é construir obstáculos para produtos estrangeiros para assim “proteger” as indústrias domésticas. Para economias emergentes cujo sucesso econômico depende fortemente das exportações – em especial a China – certamente não é um cenário propício para se manter um ritmo firme de crescimento econômico. Por mais que a economia chinesa tenha um vasto alcance, qualquer eventual impasse com um parceiro de peso como os Estados Unidos certamente impactará na economia chinesa – e, “por tabela”, vários países emergentes e subdesenvolvidos, dentre os quais se inclui o BRICS.
Conclusão
Assim como os cinco países que o compõem, o BRICS enquanto coalizão política e econômica certamente é uma organização relevante nas relações internacionais de hoje. Talvez não possuam tanta relevância tanto quanto o enunciado no discurso que esses países pregam, ou tanto quanto as expectativas que foram geradas a partir deles – seja de países desenvolvidos ou de países em desenvolvimento. É infundado dizer que o BRICS “fracassou”, assim como seria um grande exagero dizer que o grupo “prosperou”. A falta de uma identidade que seja do BRICS torna difícil encarar esse grupo como um potencial “desafiante” à ordem econômica, e muito menos à ordem política mundial. Enquanto o BRICS não construir uma identidade forte o bastante para englobar as fortes diferenças que há entre seus integrantes, seu destaque estará condicionado a alguns indicadores econômicos e em eventuais contendas ou reivindicações nas arenas multilaterais de negociação internacional.
Há sempre espaço para mais uma sigla, sendo ela criativa ou não. Talvez movido pela repercussão que o “BRICS” gerou, volta e meia algum economista cunha outro acrônimo amarrando – com critérios ou não – alguns países que tem alguma ínfima chance de ganhar algum destaque internacional. MINT, ASEAN, CIVETS, MIKTA, G-77, NACAR, VISTA… a lista de siglas tende ao infinito, e, não raramente, pouco possuem de implicação prática.
A economia mostra um fenômeno chamado de “efeito de alcance”, que basicamente diz que países mais pobres tendem a crescer mais rapidamente. É fácil entender isso na prática: para alguém que ganha um salário de mil reais, um acréscimo de quinhentos reais representa um aumento de 50%; os mesmos quinhentos reais para alguém que ganha um salário de doze mil reais representa um aumento de apenas 4,16%. Por exemplo, tente adivinhar quais foram as cinco economias que apresentaram maior crescimento no PIB em 2016. Eis a resposta:
• Iraque: 11%
• Nauru: 10,4%
• Costa do Marfim: 8,75%
• Uzbequistão: 7,8%
• Etiópia: 7,56%
Fonte: Banco Mundial (2016)
Como reflexão final: será que o “INCUE” pode ser a próxima bola da vez?