A tendenciosidade da grande mídia contra o presidente estadunidense Donald Trump levou-a a ignorar ou perder de vista a mudança mais dinâmica da política externa americana em um século, implementada pelo presidente este ano.
A decisão do presidente de sair do Acordo de Paris, mais tarde seguida por sua publicação da Estratégia de Segurança Nacional de 2017, faz parte de uma grande estratégia da gestão Trump para garantir e melhorar a posição dos Estados Unidos num mundo de nações concorrentes.
Seu objetivo é parar o declínio do poder e do prestígio americanos causados pela adesão das gestões anteriores ao mundo dos sonhos desmoronados do progressismo e do globalismo wilsoniano. A estratégia pode ser chamada de “Doutrina Trump”.
Guerra econômica
Poderes hostis à América nunca subscreveram ao dogma do globalismo de que todas as nações podem trabalhar juntas por meio de negociações pacíficas. Esses poderes estão usando a competição econômica para fortalecer as economias de suas nações e dominar suas regiões geográficas.
Atualmente, existem três competidores no grande jogo de hegemonia regional do século 21: os Estados Unidos (que anteriormente nem sabiam que a competição estava ocorrendo), a República Popular da China e a Federação Russa.
O colapso econômico da União Soviética e sua dissolução pacífica em 1989 levaram muitos analistas políticos ocidentais míopes a declararem “o fim da história”. Nenhum deles notou, no entanto, que a China, o maior Estado comunista do mundo, não tinha entrado em colapso e tinha na verdade aprendido uma valiosa lição da antiga União Soviética, com a qual compartilha a herança comum do marxismo e do leninismo.
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O líder chinês Deng Xiaoping e seus sucessores formularam e refinaram o “capitalismo com características chinesas” (CCCC) como o mecanismo econômico para impulsionar a China para a hegemonia asiática.
Simultaneamente, a Federação Russa, sucessora da União Soviética, adotou um capitalismo de fronteira implacável para reafirmar sua hegemonia sobre as ex-repúblicas soviéticas.
Os Estados Unidos não enxergaram um desafio militar e qualquer problema econômico, então simplesmente recuaram de competir com essas nações. Os industriais americanos e europeus entregaram a gestão de suas empresas em nível global aos engenheiros financeiros e eliminaram de seu planejamento qualquer consideração sobre as consequências de suas ações.
Os governos americanos e, em menor medida, os governos europeus observaram em silêncio a globalização das finanças, a culminância da globalização e do progressismo. Tanto a Europa como os Estados Unidos aceitaram a China como igual na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Mas a China aproveitou totalmente o recuo do Ocidente da concorrência econômica para avançar o objetivo de duas frentes do CCCC. Um dos objetivos é adquirir e controlar uma oferta suficiente de recursos naturais críticos que possibilitem o crescimento e o domínio econômico chinês. O outro é permitir que o capitalismo de mercado chinês compita internamente pelo crescimento econômico e pelo desenvolvimento para alcançar os Estados Unidos.
A Rússia simplesmente reafirmou o controle por meios econômicos e militares em seu “exterior próximo” na Ásia Central e Ocidental. Na Europa, a Rússia encontrou resistência de uma Ucrânia agora independente, mas ela continua, como tem sido durante séculos, a ser o hegemon que domina a política ucraniana.
Um novo jogador
Sob Trump, os Estados Unidos finalmente reconheceram o desafio e se preparam para reagir. Ele reconheceu o imperialismo dos recursos como uma grande ameaça econômica para a hegemonia americana no Ocidente, e está agindo de acordo com esse reconhecimento.
Ao se retirar do Acordo de Paris, os Estados Unidos não estão mais vinculados por padrões industriais incapacitantes, determinados em parte pelos maiores poluidores do mundo. Em particular, os metais estruturais da nossa civilização, ferro e alumínio, não podem ser produzidos a partir de seus minérios ou sucata sem a aplicação contínua de grandes quantidades de eletricidade.
A China continua a construir fábricas de carvão e energia nuclear, afirmando que tem o direito de “recuperar o atraso” com os países “desenvolvidos”, mesmo que agora seja o maior produtor mundial, não apenas de metais estruturais, mas de 60% de todos os metais.
A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris fortalece a nossa capacidade de manter a nossa geração de base de combustíveis fósseis e nucleares e nos permite expor e ignorar a hipocrisia chinesa. A Rússia, entretanto, continua a ser a principal mineradora e fundidora mundial de ligas metálicas para as necessidades modernas de armazenamento estrutural e de energia, sem sequer considerar o Acordo de Paris.
A menos que os Estados Unidos se reafirmem rapidamente e restabeleçam um fornecimento seguro e suficiente de metais e materiais de tecnologia crítica, ele dependerá da indústria tecnológica chinesa para bens de consumo e inclusive para necessidades militares até o final da próxima década.
A Estratégia de Segurança Nacional reconhece que, para competir com a China e a Rússia, devemos em primeiro lugar atender às nossas próprias necessidades de produção contínua de energia. Uma ordem executiva emitida em 20 de dezembro exige identificar matérias-primas industriais críticas e reverter o problema da dependência do país das importações para quase todos os insumos civis e militares. Também mostra que Trump compreende o problema.
Trump procura reavivar a segurança americana com a autossuficiência nos materiais críticos que mantêm e aumentam a qualidade da vida doméstica americana e nossa segurança contra interferências estrangeiras.
O modelo americano do Vale do Silício, projetado pelo capital globalista, falhou. Projetar produtos em Palo Alto mas construí-los na Ásia por causa de “baixos custos trabalhistas” é uma ilusão. Isso ignora o fato de que – deixando de lado os problemas da dívida – no âmbito do CCCC, a China construiu uma economia competitiva com base na aquisição direta das matérias-primas necessárias e críticas para manter uma economia de fabricação moderna de alta tecnologia. Não é a mão-de-obra de baixo custo que dá vantagem à China; é a abordagem holística para manter uma vantagem competitiva promovida pelo CCCC.
Tomar a China como tarefa para a sua política comercial de inovação-mercantilista é outro pilar da Doutrina Trump, segundo o qual ele iniciou uma investigação do roubo chinês de propriedade intelectual nos termos da seção 301 da Lei de Comércio de 1974.
Os militares dos Estados Unidos são dominantes no mundo de hoje. A Rússia tem a segunda força militar mais poderosa, e a China está em terceira mas não muito distante. Mas no nacionalismo econômico e no imperialismo dos recursos, a China está fazendo o maior esforço.
Sem reconhecer a competição pela hegemonia econômica e as mudanças políticas que Trump está implementando, haveria pouca esperança para a América continuar sendo o país mais próspero do mundo. Com a Doutrina Trump, pelo menos há uma competição realista.
Jack Lifton é um membro sênior do Instituto de Análise de Segurança Global e diretor da Technology Metals Research.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.