Ex-líder do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin, responsável pela perseguição ao Falun Gong, morre aos 96 anos

Jiang foi o principal líder do PCCh entre 1993 e 2003. Ele faleceu devido a leucemia e falência múltipla de órgãos

Por Frank Fang
30/11/2022 12:33 Atualizado: 30/11/2022 14:42

O antigo líder do partido comunista Chinês (PCCh), Jiang Zemin, que pessoalmente iniciou uma das perseguições religiosas mais brutais dos tempos modernos, morreu aos 96 anos, segundo a mídia estatal chinesa.

Jiang foi o principal líder do PCCh entre 1993 e 2003. Ele faleceu devido a leucemia e falência múltipla de órgãos, às 12:13, horário local de Xangai – a cidade onde ele havia sido prefeito. 

Jiang Zemin deixa o legado de um dos maiores violadores de direitos humanos da história, responsável por incontáveis mortes associadas a seu papel central em lançar a perseguição ao Falun Gong em 1999. 

 

Um policial chinês aborda um praticante do Falun Gong, na Praça da Paz Celestial, em Pequim, enquanto ele segura uma faixa com os caracteres chineses de “verdade, compaixão e tolerância”, os princípios fundamentais do Falun Gong (Cortesia de Minghui.org)

Carreira Política

Jiang nasceu em 17 de Agosto de 1926, em Yangzhou, na província de Zhejiang. A região fica a nordeste do grande centro comercial de Xangai.

Segundo Jiang, ele foi adotado por seu tio quando tinha 13 anos de idade. O tio era um “herói comunista”, que morreu enquanto lutava contra o exército japonês na Segunda Guerra Mundial. Historiadores são céticos quanto à versão que Jiang conta da própria história. É óbvio que ele queria se distanciar de seu pai, Jiang Shijun. O pai de Jiang Zemin foi ministro no governo fantoche estabelecido pelos japoneses, quando o Japão ocupou a China na década de 1940, o que foi considerado traição. 

Segundo a biografia de Jiang Zemin, no jornal de propaganda do partido comunista chinês, o “People ‘s Daily”, ele se juntou ao partido em 1946, enquanto estudava na Universidade Jiao Tong, de Xangai. 

O People ‘s Daily diz que em 1956, Jiang Morou na Rússia, trabalhando como trainee no Stalin Automobile Works. Entretanto, houveram especulações de que Jiang se uniu ao escritório da KGB (a polícia secreta russa) para o extremo oriente, enquanto recebia treinamento em Moscou. 

Ele se tornou prefeito de Xangai e vice-secretário do Comitê do Partido Comunista de Xangai, em 1985 e juntou-se ao Politburo do Comitê Central em 1987. 

Jiang ascendeu ao poder em 1989, logo após Deng Xiaoping, então líder, mandar tanques e tropas para esmagar os protestos pró-democracia que eclodiam na Praça da Paz Celestial, em Pequim. 

Apenas algumas semanas após o massacre, Jiang foi promovido a Secretário Geral do Partido, o líder do regime, substituindo Zhao Ziyang – que era receptivo ás manifestações dos estudantes. 

Muitos acreditam que Jiang, promovido repentinamente quando estava prestes a se aposentar como chefe do partido em Xangai, foi o maior beneficiado da repressão militar na Praça da Paz Celestial, a qual estima-se ter assassinado milhares de manifestantes desarmados. 

Em 1990, Jiang assumiu o controle do exército após Deng anunciar sua resignação. Três anos mais tarde, Jiang adquiriu também o título de Chefe de Estado. 

Durante seu mandato, Jiang frequentemente ostentou seus feitos, incluindo a transferência de soberania de Hong Kong dos britânicos, em 1997, e colocar a China na Organização Mundial do Comércio, em 2001. 

Contudo, o que Jiang nunca mencionou foram os muitos dissidentes chineses que foram presos. A repressão atingiu um novo patamar em 1999, quando Jiang iniciou a perseguição à prática espiritual Falun Gong. 

A campanha política brutal também fez de Jiang o primeiro líder chinês a receber processos judiciais enquanto ainda estava no cargo. Em 2009, Jiang e quatro altos-oficiais do PCCh, foram indiciados por crimes de genocídio e tortura contra o Falun Gong na corte nacional da Espanha. 

Em 2003, três grupos de apoio ao Tibete entraram juntos com uma ação criminal no Tribunal Superior de Justiça da Espanha, acusando Jiang e Li Peng, o líder aposentado e chefe-de-parlamento aposentado, respectivamente, de cometer genocídio e crimes contra a humanidade no Tibete. 

Uma Perseguição Arrebatadora

Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, consiste de ensinamentos morais baseados nos valores universais de Verdade, Compaixão e Tolerância, junto de exercícios de meditação. Desde que foi introduzido na China em 1992, a prática se tornou extremamente popular. Estima-se que tenha atraído entre 70 milhões e 100 milhões de praticantes na China ao fim da década de 1990. 

Em 10 de junho de 1999, antecipando a campanha anti-Falun Gong, Jiang deu ordens diretas para estabelecer uma organização partidária extralegal, com o objetivo de coordenar e dirigir a repressão por meio de filiais nacionais. Essa organização ficou conhecida como Escritório 610 desde sua criação, em 10 de junho, sua estrutura e funções eram comparáveis ​​às da infame Gestapo, na Alemanha nazista.

Jiang declarou que eliminaria o Falun Gong em três meses, visando a reputação dos praticantes, confiscando suas riquezas e atacando-os fisicamente. Os praticantes assassinados em consequência de perseguições deveriam ser declarados como vítimas de suicídio e cremados imediatamente, sem identificação. O regime chinês mobilizou todos os recursos disponíveis – incluindo tribunais, departamentos de propaganda, instituições culturais e políticas e escolas – em seu esforço para destruir o Falun Gong.

A filha, Li Xiaohua, e a mãe, Ju Reihjong, participam de uma vigília à luz de velas para homenagear as vítimas da perseguição de 23 anos ao Falun Gong na China, realizada no Monumento de Washington em 21 de julho de 2022. Ju segura uma foto de seu marido e do pai de Li, Li Delong, que morreu na perseguição (Samira Bouaou/Epoch Times)

A mídia estatal – televisão, rádio, jornais e, posteriormente, a internet – em todos os níveis serviu ao PCCh para produzir notícias falsas caluniando os ensinamentos do Falun Gong, difamando seu fundador e desumanizando seus adeptos. A campanha de ódio fabricou muitas farsas, como as “1.400 mortes” supostamente causadas pela prática do Falun Gong, a autoimolação encenada na Praça da Paz Celestial e a afirmação de que o Falun Gong seria uma ameaça ao Partido orquestrada por “forças anti-China” no exterior.

O PCCh também estendeu sua propaganda ao exterior para demonizar o Falun Gong e politizar o assunto. Muitos meios de comunicação internacionais repetiram as narrativas elaboradas pelo PCCh para difamar o Falun Gong, levando efetivamente a perseguição ao cenário global ao levar o público a ver com maus olhos ou sentir hostilidade em relação à prática.

O regime chinês sob a liderança de Jiang fez uso liberal de violência extrema, propaganda constante e táticas de lavagem cerebral em sua tentativa de forçar os praticantes do Falun Gong a escolher entre sua fé ou suas vidas. Ao longo da perseguição, milhões de pessoas foram presas ou mantidas em campos de trabalhos forçados, centros de detenção, hospícios, centros de reabilitação de drogas ou prisões não oficiais por se recusarem a desistir de suas crenças.

Grupos de direitos humanos documentaram mais de 100 métodos de tortura usados ​​pelas autoridades chinesas para perseguir o Falun Gong, bem como o uso de substâncias tóxicas que danificam os nervos. Muitos praticantes morreram, foram mutilados ou enlouqueceram como resultado desse abuso.

Praticantes de Falun Gong participam de uma manifestação realizada no National Mall, em Washington, em 21 de julho de 2022. Eles comemoram o 23º aniversário do início da perseguição do regime chinês ao grupo espiritual Falun Gong (Samira Bouaou/Epoch Times)

O número de mortes causadas pela perseguição é difícil de estimar, devido à dificuldade de transmissão de informações para fora da China continental. O Minghui.org, um site baseado nos Estados Unidos fundado por praticantes do Falun Gong para documentar a perseguição, confirmou e verificou a morte de 4.828 pessoas nas mãos das autoridades por se recusarem a abandonar sua fé no Falun Gong.

No entanto, os especialistas acreditam que o número real provavelmente seja muito maior, dado que muitas mortes não são relatadas ou porque as vítimas foram assassinadas em condições de máximo sigilo – como para a extração de seus órgãos.

Além da tortura física e psicológica, o Partido Comunista de Jiang Zemin, também impôs medidas para excluir o Falun Gong da vida pública. Os adeptos foram demitidos de seus empregos, expulsos de suas escolas ou faculdades ou privados de pensões e outros benefícios sociais. Parentes de praticantes também sofreram muito, com a repressão destruindo inúmeras famílias.

Extração Forçada de Órgãos

Em 2006, uma mulher do nordeste da China que vivia nos Estados Unidos se tornou a primeira testemunha a falar sobre a extração de órgãos, quando testemunhou que seu ex-marido havia removido as córneas de milhares de praticantes do Falun Gong desde o início dos anos 2000.

Nos anos seguintes, a Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong (WOIPFG) e outros pesquisadores independentes conduziram extensas investigações e verificaram as alegações de extração de órgãos. Um investigador chamou isso de crime “nunca antes visto neste planeta”.

Em 2016, os investigadores David Kilgour, David Matas e Ethan Gutmann publicaram em conjunto um relatório de 700 páginas sobre a extração forçada de órgãos na China. Eles estimaram que os hospitais chineses realizavam de 60.000 a 100.000 cirurgias de transplante anualmente e que a principal fonte de doadores eram os praticantes de Falun Gong.

Sir Geoffrey Nice QC, presidente do Tribunal da China, entrega a sentença do tribunal em Londres, em 17 de junho de 2019 (Justin Palmer)

Em 2019, um tribunal popular independente composto por um painel de advogados e especialistas concluiu, sem sombra de dúvida, que o regime chinês, por anos extraiu e continua extraindo órgãos de prisioneiros de consciência vivos “em escala significativa” e que os praticantes do Falun Gong eram a principal fonte de suprimento de órgãos. O tribunal decidiu que isso equivalia a crimes contra a humanidade.

Influência política persistente 

Em 2002, Jiang transferiu o título de secretário do partido para Hu Jintao e o de chefe de Estado um ano depois. Mas ele manteve o cargo de chefe da Comissão Militar Central do Partido, supervisionando os militares do regime até 2004.

Mesmo depois de desistir de todos os seus cargos, Jiang continuou a exercer influência política nos bastidores por meio de seus partidários.

Muitos dos aliados de Jiang, conhecidos como a “Gangue de Xangai”, ainda estavam no exército, no judiciário, no aparato de segurança e nos governos regionais quando Xi Jinping assumiu o cargo em 2012.

Entre eles está Zhou Yongkang, ex-membro da Comissão Política do PCCh e ex-chefe do aparato de segurança interna do regime.

Em apoio a seu patrono Jiang, Zhou implementou fielmente a perseguição ao Falun Gong. Zhou, que era líder do Partido na província de Sichuan, no sudoeste da China, recompensou  financeiramente aqueles que, em prisões e campos de trabalho forçado,  torturaram ativamente os adeptos do grupo religioso, segundo o Minghui.org. Zhou provavelmente também teria um papel de liderança na facilitação da extração forçada de órgãos.

Em 2015, Zhou foi condenado à prisão perpétua por receber subornos, abuso de poder, vazar segredos de Estado, entre outras acusações. A sentença de Zhou foi retratada pela mídia estatal chinesa como uma vitória na campanha anticorrupção de Xi.

Devastação econômica

A perseguição aos praticantes do Falun Gong nas últimas duas décadas consumiu uma enorme quantidade de recursos financeiros, humanos e sociais, enquanto custou ao Estado e ao povo chinês uma fortuna incalculável.

Segundo as investigações do WOIPFG, a China gastou em média quase um quarto de sua receita anual para suprimir o Falun Gong durante os anos de pico da perseguição. Outra fonte indicou que o PCCh mobilizou recursos equivalentes a três quartos do PIB da China para manter a perseguição ao Falun Gong. Um funcionário do Ministério das Finanças da China admitiu que “a política de repressão ao Falun Gong foi sustentada por uma quantia generosa de financiamento. Sem esse dinheiro, seria impossível sustentar a repressão”.

Pessoas usam máscaras enquanto viajam por uma rua durante o clima poluído em Pequim, na China, em 18 de novembro de 2021 (Lintao Zhang/Getty Images)

Jiang mobilizou milhões de pessoas para realizar a perseguição. Os salários, bônus, pagamento de horas extras e outros benefícios atribuídos a esse grupo excederam 100 bilhões de yuans em despesas anuais.

Exemplos de outros custos associados à supressão do Falun Gong incluem o uso de recompensas financeiras para encorajar cidadãos comuns a denunciar praticantes às autoridades, a contratação de agentes estrangeiros e bandidos para perseguir e assediar comunidades do Falun Gong no exterior, compras de mídia estrangeira em língua chinesa para difamar Falun Gong e ajuda estrangeira oferecida a países em desenvolvimento, em troca de apoio ao histórico de direitos humanos da China nas Nações Unidas e em outros fóruns internacionais.

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