Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Trabalhadores de fábrica da Boeing paralisaram suas atividades após a meia-noite de sexta-feira (13), interrompendo a produção dos aviões do renomado fabricante aeroespacial após rejeitarem um novo contrato.
A Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais (IAM), o sindicato, votou com 96% a favor da greve, e 94,6% votaram contra o acordo com a Boeing na área de Seattle e no estado vizinho de Oregon.
“Nós entramos em greve à meia-noite”, disse Jon Holden, presidente do Distrito 751 da IAM, em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, após divulgar os resultados da votação, acrescentando que se trata de uma “greve por prática trabalhista desleal”.
Ele alegou que os trabalhadores das fábricas da Boeing enfrentaram “conduta discriminatória, interrogatórios coercitivos, vigilância ilegal” e que receberam “promessas ilegais de benefícios”.
A greve envolve cerca de 33.000 maquinistas da Boeing e provavelmente interromperá a produção de seus jatos comerciais mais vendidos, de acordo com o site da Boeing. Na manhã de sexta-feira, fotos e vídeos de trabalhadores em greve nas instalações da Boeing em Renton, Washington, mostravam manifestantes segurando cartazes criticando a oferta de contrato da Boeing.
“Isso é uma luta pelo nosso futuro”, disse Holden aos repórteres. Ele não informou quanto tempo a greve duraria ou quando as negociações seriam retomadas.
Disputa sobre salários e benefícios
Em um comunicado, a IAM afirmou que a ação trabalhista tem como objetivo obter “um contrato forte” que atenda às necessidades de seus membros, e que eles irão “reagrupar-se” para determinar quais ações são necessárias agora.
Os trabalhadores em greve estão buscando salários mais altos, melhores planos de saúde, um “plano de aposentadoria digno”, mais influência sobre o trabalho em horas extras e outras propostas, segundo o sindicato. Afirmou ainda que os salários da Boeing permaneceram “estagnados” nos últimos 10 anos.
A Boeing, em um comunicado divulgado no início desta semana, afirmou que ofereceu uma “proposta de contrato histórica” à IAM durante as negociações, mas o sindicato rejeitou a oferta na votação de quinta-feira.
“Escutamos o que é importante para vocês no novo contrato. E chegamos a um acordo provisório com o sindicato sobre uma oferta histórica que cuida de vocês e de suas famílias”, disse Stephanie Pope, presidente e CEO da Boeing Commercial Airplanes, em um comunicado. “A oferta de contrato oferece o maior aumento salarial geral da história, uma menor participação nos custos médicos para tornar os cuidados de saúde mais acessíveis, maiores contribuições da empresa para sua aposentadoria e melhorias para um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”.
A proposta da Boeing para o sindicato incluía um aumento salarial imediato de 11%, um plano de aposentadoria aprimorado de 401(k) (uma forma de poupança de longo prazo para a aposentadoria), uma menor participação nos custos para a melhoria dos cuidados de saúde dos trabalhadores, um “melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal” e redução de horas extras obrigatórias, além de garantias de segurança no emprego.
Boeing quer negociar
Após os trabalhadores paralisarem as atividades, a Boeing emitiu um comunicado na sexta-feira, indicando que deseja voltar à mesa de negociações para conversas.
“A mensagem foi clara de que o acordo provisório que alcançamos com a liderança da IAM não foi aceitável para os membros”, disse a Boeing no comunicado. “Continuamos comprometidos em redefinir nosso relacionamento com nossos funcionários e o sindicato, e estamos prontos para voltar à mesa e alcançar um novo acordo”.
No entanto, não está claro quando essas negociações poderão ocorrer.
A administração Biden afirmou que está em contato com ambas as partes, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, aos repórteres na quinta-feira. “Vamos incentivar ambas as partes a negociar dessa forma, com boa fé e alcançando um contrato sólido”, afirmou.
O que isso significa
Os maquinistas em greve montam o 737 Max, o avião comercial mais vendido da Boeing, além do jato 777, ou “triple-seven”, e o avião de carga 767, em fábricas em Renton e Everett, Washington. A paralisação provavelmente não interromperá a produção do Boeing 787 Dreamliner, que é fabricado por trabalhadores não sindicalizados na Carolina do Sul.
O JPMorgan afirmou que a Boeing pode ajustar o ritmo com que recebe materiais.
“No mínimo, uma greve prolongada pode afetar as expectativas de crescimento dos fornecedores”, disse o analista do JPMorgan, Seth Seifman.
A última greve dos trabalhadores da Boeing, em 2008, fechou fábricas por quase dois meses e impactou a receita em cerca de US$ 100 milhões por dia. Segundo o TD Cowen, uma greve de 50 dias pode custar à Boeing entre US$ 3 bilhões e US$ 3,5 bilhões em fluxo de caixa.
A CFM, fornecedora exclusiva de motores para o 737 MAX, disse que não houve impacto imediato em suas operações, enquanto a Southwest Airlines afirmou que permanece em estreita comunicação com a Boeing, acrescentando que, no início deste ano, tomou medidas para lidar com possíveis interrupções nas entregas.
Boeing sob fogo
A greve marca mais um revés para a Boeing em um ano repleto de desenvolvimentos custosos. A empresa tem lutado para aumentar a produção nos últimos meses e fortalecer sua reputação após uma série de incidentes de segurança de grande destaque nos últimos anos.
No início deste ano, um painel de porta de um Boeing 737 MAX operado pela Alaska Airlines se desprendeu em pleno voo, deixando um grande buraco no avião, o que levou a Administração Federal de Aviação (FAA) a exigir que a Boeing apresentasse uma resposta sobre como lidaria com os problemas de controle de qualidade apontados pela agência.
“A Boeing deve se comprometer com melhorias reais e profundas”, disse o administrador da FAA, Mike Whitaker, em um comunicado em agosto. “Fazer mudanças fundamentais exigirá um esforço contínuo da liderança da Boeing, e vamos responsabilizá-los em cada etapa do caminho”.
A Reuters e a Associated Press contribuíram para este artigo.