Por que os latinos podem decidir as eleições dos Estados Unidos de 2024

Por Epoch Times
24/06/2024 16:35 Atualizado: 29/06/2024 15:14
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Nos EUA, democratas, independentes e republicanos podem concordar em uma coisa antes do ciclo eleitoral de 2024: eles querem o voto latino.

Jaime Florez, diretor de comunicação e alcance hispânico do Comitê Nacional Republicano (RNC), disse ao Epoch Times que o voto de comunidades latino-americanas é mais importante do que nunca em 2024.

Pessoas de origem hispânica ou latino-americana — nessa reportagem referidos como “latinos” — representam cerca de 19,1% da população do país, de acordo com dados do censo. Latinos agora superam os americanos negros nas estatísticas como o principal grupo minoritário nos Estados Unidos.

“O voto latino vai determinar quem estará na Casa Branca e quais partidos controlarão … o Congresso”, disse Rafael Collazo, diretor do UnidosUS Action Fund, ao Epoch Times. O grupo grupo é uma organização sem fins lucrativos que em maio endossou formalmente o presidente Joe Biden para a disputa pela reeleição.

Vozes de ambos os lados, esquerdo e direito, dizem que os latinos foram negligenciados em eleições passadas. Em 2024, todos estão se esforçando para garantir os votos latinos.

Observadores que falaram com o Epoch Times disseram que os latinos estão dispostos a votar em candidatos que mostrem a eles como podem fazer a diferença em suas vidas.

Poder crescente

Um relatório de abril do Pew Research Center concluiu que latinos representarão 13% dos eleitores aptos nas eleições de 2024 — mais do que o triplo do que os 4% das eleições de 1996.

De acordo com o Pew, 61% dos latinos são democratas ou tendem a alinhar-se com o Partido Democrata. Em comparação, 83% dos eleitores negros — 11% dos eleitores aptos em 2024 — são democratas ou tendem a apoiar os democratas.

Em uma avaliação de 2021 sobre eleições recentes, o Pew determinou que o ex-presidente Donald Trump conquistou 38% dos votos latinos em 2020. Em 2016, ele conquistou 28%.

De acordo com uma pesquisa do Times/Siena publicada em maio, os latinos estão divididos na disputa presidencial de 2024. Nacionalmente, 33% apoiam qualquer um dos candidatos dos principais partidos, 16% estão indecisos e 13% dizem que votarão em Robert F. Kennedy Jr.

O voto latino é essencial para a vitória nos estados de Arizona e Nevada. Segundo dados atuais do censo populacional dos EUA, um terço da população em ambos os estados é latina.

No Arizona, por muito tempo um reduto republicano, os democratas venceram em disputas estaduais nas eleições de 2020 e 2022. Emmanuelle Leal-Santillan, diretor nacional de comunicação e mídia da organização progressista Somos Votantes, disse ao Epoch Times que o papel do voto latino foi “fundamental” para essas vitórias.

Em Nevada, a pesquisa do Times/Siena descobriu que os latinos preferem o ex-presidente Trump ao presidente Joe Biden por uma margem de 10%. No Arizona, é o contrário. Em ambos os estados, o Sr. Kennedy tem mais de 13% de apoio.

image-5672149
Um homem carrega uma bandeira dos EUA e uma bandeira mexicana em um comício em Los Angeles em 1º de maio de 2019. Os latinos são agora o maior grupo minoritário nos Estados Unidos. (David McNew/Imagens Getty)

Inflação, aborto, imigração

A principal questão para os eleitores latinos em 2024 é a economia dos EUA, segundo pesquisas.

Assim como a maioria dos americanos, os eleitores de origem hispânica estão preocupados com o aumento do custo de vida. Leal-Santillan disse que latinos não se importam com o índice Dow Jones Industrial Average—eles estão preocupados com as finanças pessoais.

Na última década, os preços de habitação, automóveis, alimentos, energia e creche aumentaram significativamente. De acordo com dados do Escritório de Estatísticas Laborais dos EUA, uma agência do governo federal do país, o índice de preços ao consumidor dos EUA aumentou 22% entre abril de 2020 e abril de 2024.

Ray Mancera, vice-presidente nacional da Liga dos Cidadãos Latino-Americanos Unidos (LULAC) para a região Sudoeste, disse ao Epoch Times que as preocupações econômicas dos latinos giram em torno de questões do dia a dia: casa própria, compras e gasolina. Latinos mais velhos se preocupam com o acesso a benefícios sociais como Medicaid e Medicare; os mais jovens se preocupam com a disponibilidade de emprego.

A LULAC é a maior e mais antiga organização de direitos civis latinos dos Estados Unidos. Ela não endossou nenhum candidato na disputa presidencial de 2024, mas tende a inclinar-se para os democratas.

Em 2024, os democratas estão focando na pauta do acesso ao aborto para mobilizar eleitores. Os republicanos estão focando na imigração.

Jaime Florez, que além de liderar a comunicação dos republicanos com o público latino também trabalha com a equipe de campanha de Trump, disse que os latinos em estados fronteiriços estão “sentindo toda a crise e tragédias” relacionadas ao que ele chamou de “política de fronteira aberta” da administração Biden. Imigrantes ilegais competem por empregos, drenam recursos públicos e cometem crimes que afetam a comunidade latina, disse ele.

Monet Bacs, diretor estratégico para a Libre Initiative no Arizona, um grupo focado na conscientização de latinos a partir de uma perspectiva de centro-direita, disse ao Epoch Times que eleitores hispânicos querem uma fronteira segura e uma reforma imigratória que dê clareza política para imigrantes legais.

Collazo disse que a experiência e as pesquisas de sua organização, a UnidosUS, mostram que a imigração é complexa para os latinos.

Ele disse que muitas famílias latinas incluem tanto membros que são imigrantes ilegais, quanto cidadãos documentados. Essas famílias reconhecem a contribuição para suas economias locais do que ele chamou de membros indocumentados de longo prazo. Eles são solidários com os legítimos solicitantes de asilo, mas “querem ver um processo ordenado.”

No entanto, o Collazo disse que isso não significa que os latinos não estão preocupados com o alto número de travessias da fronteira, nem que favorecem as chamadas políticas de fronteira aberta.

Quanto ao aborto, a cultura religiosa desempenha um papel em como os latinos veem a questão. Latinos religiosos são frequentemente católicos.

image-5672150
Os membros da igreja se reúnem na Sexta-feira Santa no bairro do Brooklyn, na cidade de Nova Iorque, em 7 de abril de 2023. A maioria dos latinos religiosos são católicos. (Spencer Platt/Imagens Getty)

Mancera disse que os eleitores mais velhos provavelmente seguirão o dogma católico e se oporão a medidas para expandir o acesso ao aborto. Florez disse que as crenças religiosas impedirão os democratas de usar o aborto para motivar os latinos.

As mulheres latinas jovens e um número crescente de seus entes queridos são a favor de aumentar o acesso ao aborto por motivos econômicos e de interesse próprio, disse Collazo.

Bacs, em suas conversas com os eleitores, disse que o aborto não é uma questão prioritária para os eleitores latinos no Arizona. Leal-Santillan, que trabalha em Nevada, discordou. Ele disse que o trabalho do governo Biden sobre o acesso ao aborto é uma mensagem vencedora para os democratas.

Recursos Diretos

Tanto as campanhas de Biden quanto as de Trump estão apostando alto no Arizona e em Nevada. Ambos estiveram lá e estão enviando representantes para fazer campanha nesses estados. Além disso, ambos lançaram iniciativas de campanha especificamente para atrair latinos.

A campanha de Biden está utilizando seus consideráveis recursos financeiros para abrir escritórios voltados a alcançar eleitores latinos e a realizar campanhas publicitárias multimilionárias em inglês e espanhol. A campanha lançou a iniciativa Latinos con Biden–Harris em março.

Os representantes da campanha de Biden não responderam a tempo da publicação a um pedido de comentário do Epoch Times.

Durante sua aparição na cidade de Phoenix, no Arizona, em março, Biden foi a um restaurante mexicano e disse aos eleitores latinos que não teria vencido a eleição de 2020 sem o apoio deles.

Em seguida, o presidente destacou as baixas taxas de desemprego para latinos e esforços para ajudar pequenas empresas e reduzir a violência armada. Segundo Biden, o ex-presidente Donald Trump quer desfazer todo o trabalho de seu governo e reduzir os impostos para os mais ricos.

À medida que as questões de aborto ganharam destaque, a vice-presidente Kamala Harris visitou a cidade de Tucson, no Arizona, em abril, e culpou Trump por uma proibição total ao aborto, mesmo que temporária, no estado.

Em maio, a Jill Biden, a primeira dama, visitou o Arizona novamente. Desta vez, ela falou em uma cerimônia de formatura de uma faculdade comunitária em Mesa, um subúrbio de Phoenix.

Em 13 de junho, a campanha de Biden lançou o que chamou de campanha publicitária de “sete dígitos” em inglês e espanhol, promovendo o presidente aos eleitores latinos em estados decisivos. Os anúncios apresentam Biden falando diretamente para a câmera, junto de imagens de famílias latinas.

“Eu sei como é lutar. Eu sei que muitas famílias americanas estão lutando todos os dias para sobreviver”, diz Biden no anúncio. “É por isso que ninguém, especialmente um bilionário como Donald Trump, vai me impedir de lutar para reduzir os custos de alimentos e aluguel, porque famílias trabalhadoras merecem uma chance de prosperar.”

A campanha Latino Americans for Trump, do ex-presidente destaca como a política de imigração do governo Trump serviu aos interesses latinos. Além disso, busca convencer eleitores de que estavam financeiramente melhor sob o presidente Trump do que estão hoje.

“Com Biden, os americanos latinos foram deixados para trás, sobrecarregados com preços mais altos, taxas de juros crescentes e salários mais baixos”, disse um anúncio da Latinos for Trump em 9 de junho.

Mancera disse que os homens hispânicos às vezes apoiam o ex-presidente Trump com base em sua reputação de ação, decisão e força. Essas qualidades atraem a ideia latina de masculinidade

image-5672148
Latinos votam em uma seção eleitoral no restaurante El Gallo, em Los Angeles, em 8 de novembro de 2016. Os latinos representarão 13% dos eleitores elegíveis nas eleições de 2024, de acordo com o Pew Research Center. (David McNew/Imagens Getty)

No entanto, Mancera disse que alguns eleitores estão se desiludindo com o apelo “machista” do ex-presidente.

Collazo reconheceu que a comunidade latina inclui uma minoria significativa de eleitores republicanos. Alguns, disse ele, votam dessa forma como protesto pelo que percebem como negligência do Partido Democrata.

Em 2020, ele disse, alguns homens latinos provavelmente apoiaram o ex-presidente Trump por medo de que os políticos democratas prolongassem os lockdowns da época da COVID que os mantinham sem trabalhar. Um fator maior, segundo ele, é que latinos muitas vezes desconhecem o que qualquer político está fazendo por eles. Em sua visão, isso se deve à falta de contato direto.

Bacs disse acreditar que muitos latinos são eleitores indecisos abertos à persuasão.

Florez disse que o Partido Democrata subestima os eleitores hispânicos. Não está realizando campanhas de porta em porta, nem destacando realizações que importam para os latinos.

Com base em sua experiência no campo, Bacs disse acreditar que muitos latinos são eleitores indecisos abertos à persuasão. Ela acredita que candidatos da direita podem ter sucesso ao apelar para os valores tradicionais da comunidade latina.

Para vencer pela direita, Bacs disse que os políticos devem demonstrar como abordarão as questões dos latinos relacionadas à economia, imigração, saúde e acesso à educação.

Os republicanos, disse Florez, podem conquistar os latinos mostrando respeito, ouvindo suas preocupações e comunicando que o partido compartilha de suas aspirações.

“Você está melhor hoje do que estava há três ou quatro anos? Essa é a pergunta que as pessoas farão a si mesmas nas urnas,” disse Florez.

Em 2024, o Leal-Santillan disse que a Somos Votantes e outra organização que lidera, a Somos PAC, gastarão $57 milhões para apoiar o presidente Biden e outros candidatos democratas. Esta campanha é voltada para eleitores latinos no Arizona e em Nevada, bem como na Geórgia, Michigan, Carolina do Norte, Pensilvânia, Texas e Wisconsin.

Ele concordou com a avaliação de Bacs de que latinos precisam ouvir soluções para seus problemas econômicos.

“[Foco] no que os democratas farão para tornar a vida mais acessível para as pessoas que trabalham, e quais ferramentas os democratas estão lutando para nos ajudar a construir uma boa vida, que inclui salários mais altos, assistência médica acessível, creches acessíveis e bons empregos bem remunerados,” disse Leal-Santillan.

image-5672151
Os participantes ouvem candidatos políticos locais falarem durante um café da manhã para pequenas empresas com a Câmara Latina de Comércio, em Las Vegas, em 2 de fevereiro de 2024. Cerca de um terço da população de Nevada é latina. (Patrick T. Fallon/AFP via Getty Images)

O Fator Kennedy

A candidatura independente de Kennedy representa uma incógnita desafiadora tanto para democratas como para republicanos. As pesquisas mostram que Kennedy tem um desempenho melhor com eleitores hispânicos do que com qualquer outro grupo demográfico.

Em maio, a pesquisa Times/Siena revelou que 13% dos hispânicos disseram que votariam em Kennedy. Apenas 8% dos eleitores brancos e 10% dos eleitores negros concordaram.

Isso não é suficiente para vencer, mas é suficiente para balançar uma eleição retirando votos de outro candidato. Em 2020, Biden venceu por uma pequena porcentagem tanto no Arizona como em Nevada.

“Nosso apelo é dirigido aos eleitores para os quais o sistema não está funcionando, e isso é especialmente óbvio para os eleitores negros e latinos.” Stefanie Spear, secretária de imprensa da campanha de Kennedy

A secretária de imprensa da campanha de Kennedy, Stefanie Spear, disse ao Epoch Times que a campanha está tendo sucesso com os eleitores latinos porque fala sobre as questões que lhes interessam. Os defensores mais fervorosos do candidato independente, disse ela, são pessoas que ganham menos de US$50 mil por ano.

“Nosso apelo é dirigido aos eleitores para os quais o sistema não está funcionando, e isso é especialmente óbvio para os eleitores negros e latinos. Eles sabem que o sistema é corrupto”, disse Spear. “Isso explica o apelo de Kennedy como um cruzado contra a corrupção e para redirecionar os recursos da América para dentro.”

Florez não se mostrou animado em relação à campanha de Kennedy.

image-5672152
O candidato presidencial independente Robert F. Kennedy Jr. discursa na Convenção Nacional Libertária em Washington em 24 de maio de 2024. O apoio hispânico a Kennedy é suficiente para influenciar as próximas eleições, sugerem as pesquisas. (Kevin Dietsch/Getty Images)

Leal-Santillan fez comentários semelhantes. Se o Kennedy confirmar a candidatura, ele disse que a Somos Votantes trabalhará para informar os eleitores latinos que ele está em “sintonia” com o ex-presidente Trump em questões como aborto e imigração.

Mancera acredita que o apelo do Sr. Kennedy aos eleitores hispânicos se baseia puramente no reconhecimento do nome e na associação com o ex-presidente John F. Kennedy e o ex-procurador-geral Robert F. Kennedy.

Latinos mais velhos têm grande consideração pelo governo Kennedy, disse Collazo. O presidente Kennedy foi um defensor dos direitos civis quando a segregação ainda era comum nos Estados Unidos.

Além disso, Collazo disse que a campanha de Kennedy está explorando a frustração e desilusão que os latinos sentem em relação à política americana. Com uma forte presença nas redes sociais e aparições regulares em podcasts populares, Kennedy também está ressoando com os eleitores latinos mais jovens que não acompanham as notícias pelos meios tradicionais.

Por enquanto, é impossível dizer se o significativo apoio que Kennedy tem nas pesquisas se traduzirá em votos reais em novembro.