Estados Unidos devem persuadir o Brasil a se juntar à Aliança de Minerais para garantir metal chave para mísseis hipersônicos: Pesquisadores

Por Frank Fang
13/03/2024 15:32 Atualizado: 13/03/2024 15:32

Os Estados Unidos precisam fortalecer sua cadeia de abastecimento de nióbio, um metal chave na produção de mísseis hipersônicos, já que a China busca a preeminência tecnológica e militar, de acordo com especialistas de think tanks sediados em Washington, o Atlantic Council e o Center for Strategic and International Studies (CSIS).

Em um artigo de opinião publicado em 4 de março, Guido L. Torres, um pesquisador sênior não residente no Atlantic Council, e três pesquisadores do CSIS escreveram que o Brasil é um dos maiores produtores de nióbio, tornando-o importante para os Estados Unidos e seus aliados de mentalidade semelhante que o país sul-americano escolha se juntar à Parceria de Segurança Mineral liderada pelos EUA em vez de propostas da China. 

Os três pesquisadores do CSIS são Ryan C. Berg, Laura Delgado López e Henry Ziemer, todos os quais trabalham no Programa das Américas centrais.

“A determinação hipersônica da China tem sido notável”, escreveram os quatro pesquisadores. “Até 2018, ela havia realizado mais de 20 vezes mais testes do que os Estados Unidos. Segundo o Pentágono, os Estados Unidos ainda estão atrasados. Essa habilidade hipersônica, combinada com o controle da China sobre o nióbio, coloca os Estados Unidos em uma posição perigosa.”

O Pentágono, em seu relatório anual ao Congresso no ano passado, alertou que a China já “possui o arsenal hipersônico líder mundial”, que inclui os mísseis balísticos de médio alcance DF-17 que podem ser armados com veículos planadores hipersônicos. De acordo com o relatório, a China pretende usar armas hipersônicas como o DF-17 para mirar bases militares estrangeiras e frotas no Pacífico Ocidental.

Estabelecida em 2022, a Parceria de Segurança Mineral (MSP) é uma colaboração entre 14 nações e a União Europeia sobre mineração, extração, processamento e refino de minerais críticos. Os países incluem Austrália, Canadá, Estônia, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos.

Em fevereiro, o secretário de Estado Antony Blinken se encontrou com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, no Brasil. De acordo com um comunicado do Departamento de Estado, o Sr. Blinken “ressaltou a importância de fortalecer a cooperação em minerais críticos com o Brasil, incluindo por meio da Parceria de Segurança Mineral”.

“A inclusão do Brasil o tornaria o primeiro país latino-americano a entrar na parceria, sinalizando sua liderança regional e aumento de estatura internacional”, escreveram os pesquisadores. “A integração do Brasil a essa parceria é particularmente estratégica, considerando suas substanciais reservas de nióbio, além de suas outras jazidas minerais críticas. Essa medida adicionaria uma camada robusta de segurança contra possíveis interrupções no fornecimento.”

Ligas de nióbio

Uma liga de nióbio conhecida como C-103 – que é uma mistura de cerca de 89 por cento de nióbio, 10 por cento de háfnio e cerca de 1 por cento de titânio – tem sido usada na indústria aeroespacial, já que a liga pode suportar altas tensões em temperaturas extremamente altas.

A liga C-103 tem sido o material escolhido para o bocal de foguetes há décadas, desde o programa espacial Apollo até os foguetes Falcon de Elon Musk. Agora, a mesma liga é um material chave para o desenvolvimento de veículos hipersônicos, que viajam a cinco vezes a velocidade do som.

Relatório: tecnologia dos EUA impulsiona mísseis hipersônicos da China

China tested hypersonic glide vehicles dropped from a balloon in 2018, according to Chinese state broadcaster CCTV. (Screenshot via CCTV)
A China testou veículos planadores hipersônicos lançados de um balão em 2018, de acordo com a emissora estatal chinesa CCTV. (Captura de tela via CCTV)

Os Estados Unidos dependem fortemente de importações para suprir suas necessidades de nióbio. De acordo com dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), não houve produção significativa de minas de nióbio nos Estados Unidos desde 1959.

Em 2023, os Estados Unidos importaram 9.400 toneladas de nióbio, com o Brasil respondendo por 66 por cento da importação e o Canadá por 26 por cento, segundo o USGS. A agência também observou que o Brasil, com as maiores reservas de nióbio do mundo, exportou 50.556 toneladas de nióbio de janeiro a agosto de 2023, a maioria das quais foi para a China, seguida pelos Países Baixos e Singapura.

Os pesquisadores observaram que a dependência dos Estados Unidos do Brasil e do Canadá “expõe os Estados Unidos a consideráveis vulnerabilidades de segurança nacional e econômica”.

Enquanto isso, a China avançou no mercado de nióbio do Brasil. Segundo os pesquisadores, cinco empresas chinesas adquiriram uma participação de 15 por cento na produtora brasileira de nióbio CBMM em 2011, e outra empresa chinesa garantiu a propriedade das minas de nióbio em 2016. Até 2020, entidades chinesas tinham controle de cerca de 26 por cento da produção de nióbio do Brasil, acrescentaram os pesquisadores.

“A influência da China sobre a produção de nióbio do Brasil está em conformidade com um padrão de crescente propriedade e influência sobre a indústria de mineração regional, uma tendência com substanciais implicações ambientais, políticas e de segurança”, escreveram os pesquisadores.

“Tais táticas poderiam forçar nações a fazer compromissos diplomáticos, ceder vantagens comerciais ou lidar com dilemas econômicos, solidificando assim a posição geopolítica da China.”

Se o Brasil decidir se juntar à MSP, isso poderia ser “instrumental para mitigar a influência dominante da China no mercado de nióbio”, segundo os pesquisadores.

Recomendação

Os pesquisadores também ofereceram outras recomendações. Eles disseram que o projeto Elk Creek em Nebraska “representa um passo louvável para abordar essa vulnerabilidade domesticamente”.

O projeto Elk Creek está sendo desenvolvido pela NioCorp Developments Ltd. Uma vez concluído, será a única instalação de mineração e processamento da América do Norte a produzir nióbio, escândio e titânio, de acordo com o site da empresa.

O CEO da NioCorp, Mark A. Smith, está agendado para falar durante a Cúpula SAFE em Washington, que será realizada em 12 e 13 de março. Ele falará no primeiro dia durante uma sessão intitulada “Paralisando a América sem Disparar um Tiro: A Extrema Alavanca dos Minerais Críticos da China”.

O Canadá, que possui as segundas maiores reservas de nióbio do mundo depois do Brasil, é um “parceiro ideal” para os Estados Unidos, disseram os pesquisadores, já que os vizinhos poderiam facilitar joint ventures na exploração e desenvolvimento de nióbio.

Os pesquisadores acrescentaram que medidas também devem ser tomadas para expandir as reservas de nióbio e de outros minerais estratégicos no estoque de defesa nacional.