Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
À medida que o presidente eleito Donald Trump monta sua segunda administração, a influência do Vale do Silício se torna mais evidente do que nunca.
Entre as iniciativas está o Departamento de Eficiência Governamental, ou DOGE, uma comissão temporária dedicada à redução de desperdícios e custos no governo, liderada pelos empresários Elon Musk e Vivek Ramaswamy. Como muitos outros na equipe de Trump em 2024, Musk começou sua trajetória na chamada “Máfia do PayPal”, ao ingressar na empresa de tecnologia financeira em seus estágios iniciais.
Outro cofundador do PayPal, o capitalista de risco e teórico político Peter Thiel, foi mentor do também capitalista de risco e vice-presidente eleito JD Vance.
David Sacks, outro membro da Máfia do PayPal, será o novo responsável pela Casa Branca para criptomoedas e inteligência artificial.
Ao mesmo tempo, Paul Atkins, conhecido por sua postura favorável ao setor de criptomoedas, assumirá a liderança da Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês), o que provavelmente alterará o ambiente regulatório mais restritivo implementado pelo atual presidente da SEC, Gary Gensler.
Nas semanas após a eleição de Trump, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, e o CEO da Apple, Tim Cook, viajaram até Mar-a-Lago para jantar com o presidente eleito.
Muitos influentes do setor tecnológico estão animados com o que veem.
“O setor de tecnologia, sem dúvida, foi o que mais gerou valor nas últimas duas décadas porque atraiu as pessoas mais inovadoras e capazes do país, particularmente a Máfia do PayPal”, disse Augustus Doricko, fundador da startup de modificação climática Rainmaker, em mensagem ao Epoch Times.
“Obviamente, deveríamos querer essas pessoas no governo”.
Mark Andreessen, cofundador da empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, foi um dos maiores doadores do super PAC pró-Trump Right for America.
“As Big Techs passaram uma década fazendo de tudo para ser o melhor aliado progressista possível. Eles foram tratados com total desprezo, criticados diariamente e crucificados em troca. É necessário um repensar completo”, escreveu Andreessen na plataforma X (antiga Twitter).
Há também ceticismo, inclusive de vozes pró-Trump.
Kevin Lynn, do U.S. Tech Workers, um grupo ativista para os americanos afetados pela terceirização, teme que o Vale do Silício possa pressionar o presidente eleito a suavizar suas políticas de imigração.
Ele chamou a atenção para a aparição de Trump em junho no “All-In Podcast” de Sacks, um influente fórum de discussão no Vale do Silício.
Durante o podcast, Trump sugeriu que os universitários não-cidadãos e mesmo os recém-formados deveriam receber green cards para fornecer trabalhadores qualificados para empresas americanas.
“A realidade é que temos os trabalhadores. Apenas os deixamos à deriva”, disse Lynn ao Epoch Times, observando que programas de visto, como o O-1, já existem para imigrantes verdadeiramente excepcionais.
Lynn questiona se a transição influenciada pelo setor de tecnologia atenderá aos interesses dos americanos que trabalham no setor.
“Tudo o que estou vendo tem me tranquilizado. O que estou ouvindo, no entanto, é o que me preocupa”, afirmou Lynn.
Outras nomeações, incluindo Stephen Miller, Tom Homan e Jamieson Greer, protegido de Robert Lighthizer, aumentam a confiança de Lynn na administração que está se formando.
“Você tem que dar ao presidente o benefício da dúvida. Quero dizer, ele literalmente tomou um tiro por nós”, concluiu.
Conexões tecnológicas e laços com Thiel se multiplicam
A lista de nomeados por Trump com experiência ou ligações estreitas com o mundo da tecnologia é longa. Essas seleções são posteriores a um processo de transição supostamente moldado por muitos especialistas em tecnologia, incluindo o investidor e ex-aluno do PayPal Joe Lonsdale, o ex-diretor de tecnologia dos EUA Michael Kratsios e Andreessen, entre outros.
Jacob Helberg, escolhido por Trump para o cargo de subsecretário de Estado para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente, atuou como conselheiro do CEO da Palantir, Alex Karp. Thiel, que também foi cofundador dessa empresa de software, é responsável pelo desenvolvimento do produto de defesa e inteligência Palantir Gotham. Helberg é casado com Keith Rabois, outro membro da chamada “Máfia do PayPal”.
Jared Isaacman, empreendedor do setor espacial e fundador da processadora de pagamentos Shift4 Payments, foi indicado por Trump para liderar a NASA.
Doug Burgum, provável futuro secretário do Interior e chefe de um novo Conselho Nacional de Energia, iniciou sua carreira com a Great Plains Software, uma empresa de software empresarial posteriormente adquirida pela Microsoft.
Jim O’Neill, indicado para o cargo de subsecretário de Saúde e Serviços Humanos, foi cofundador da Thiel Fellowship, que financia jovens empreendedores e outros interessados em alternativas à educação universitária. Augustus Doricko, da startup Rainmaker, foi bolsista do programa Thiel Fellowship.
George Glass, escolhido por Trump como embaixador no Japão e em Portugal durante seu primeiro mandato, cofundou o banco tecnológico Pacific Crest Securities, que teve papel ativo na oferta pública inicial do Facebook. Já Troy Edgar, nomeado como subsecretário de Segurança Interna e chefe financeiro do departamento em sua primeira gestão, atualmente é executivo na IBM.
Mesmo aqueles fora do mundo da tecnologia têm conexões com influenciadores tecnológicos de direita.
Durante um discurso na Conferência Nacional de Conservadorismo, em 2021, Peter Thiel descreveu Jay Bhattacharya, que agora está a caminho de liderar o Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), como “um bom amigo meu desde os tempos de graduação em Stanford”.
Kevin Lynn, do U.S. Tech Workers, espera que a abordagem de Trump para o setor de tecnologia dos EUA leve em consideração a segurança nacional. Ele destacou que cidadãos estrangeiros trabalham em muitas universidades e laboratórios nacionais.
“É assim que você faz a transferência de tecnologia. Não é necessário realizar muitas operações clandestinas. Basta entrevistar os estrangeiros que trabalham nesses laboratórios”, afirmou.
Essas vulnerabilidades podem se estender também às empresas privadas de inteligência artificial que impulsionam a inovação americana nesse setor, uma preocupação destacada pelo pesquisador de IA Leopold Aschenbrenner em seu artigo “Situational Awareness” (Consciência Situacional).
Doricko elogiou a coalizão do Vale do Silício que está se formando em apoio à administração Trump 2.0.
“Os tecnólogos estão no poder porque merecem estar no poder”, disse ele.