O presidente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump irão se enfrentar em seu primeiro debate de 2024 em 27 de junho, às 22 horas (horário de Brasília) com o objetivo de apresentar diferentes visões para o futuro dos Estados Unidos.
O Epoch Times Brasil fará retransmissão do debate ao vivo (CNN simulcast) com tradução simultânea para o português e cobertura especial a partir das 21 horas. A transmissão estará disponível via YouTube neste link.
O debate será uma oportunidade crucial para os dois candidatos mais velhos da história dos EUA demonstrarem sua energia, aparência, coerência e capacidade de resposta. É um evento fundamental que pode moldar a disputa presidencial, segundo analistas políticos.
A CNN sediará o debate em seus estúdios na cidade de Atlanta. A filial brasileira da emissora americana também transmitirá o debate. O atual presidente, de 81 anos, e seu oponente, de 78 anos, estarão em pé durante todo o debate, que durará 90 minutos. Haverá dois intervalos comerciais, de acordo com a emissora.
O debate deste ano ocorre mais cedo do que o habitual. O debate é tão antecipado que nenhum dos candidatos recebeu uma nomeação oficial de seus partidos ainda. Normalmente, os debates presidenciais ocorrem em setembro ou no início de outubro.
“O primeiro debate oferece a ambos os candidatos a chance de mudar o ritmo da disputa”, disse a estrategista democrata Christy Setzer ao Epoch Times.
“Atualmente, acreditamos que o presidente Biden se beneficiou, embora pouco, das condenações criminais de Trump, mas ainda está indefinido”, disse ela. “O debate oferece a ele uma oportunidade de se distanciar de verdade ou de reacender as preocupações dos eleitores sobre ele.”
Em 20 de junho, Biden foi ao retiro presidencial de Camp David, onde ficará até a data do debate para uma preparação intensa. Os candidatos costumam participar de debates simulados, durante os quais podem praticar suas respostas enfrentando alguém que desempenha o papel do oponente.
Este ano, não está claro quem interpretará o ex-presidente Trump durante os ensaios de Biden. Especula-se que Bob Bauer, seu advogado pessoal, possa ser o escolhido — ele fez esse papel 4 anos atrás.
Em relação à preparação, Jason Miller, um conselheiro sênior da campanha de Trump, indicou que o ex-presidente está pronto.
“O presidente Trump enfrenta várias entrevistas difíceis todas as semanas e faz longos discursos em comícios enquanto está em pé, demonstrando um condicionamento de elite”, disse ele em um comunicado.
O ex-presidente aparentemente optou por não usar debates simulados ou encenações na preparação para este debate.
Em 2020, o ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, ajudou a preparar o ex-presidente Trump, interpretando Biden em ensaios a portas fechadas.
Estilo do debate
Não há uma abordagem única e melhor para a preparação para debates, de acordo com Karen Hult, professora de ciência política da Virginia Tech.
“Acho que é importante para o Biden organizar seus pensamentos, estudar e se preparar o suficiente sobre como endereçar os assuntos, responder a perguntas, especialmente as difíceis, e provavelmente também manter seu temperamento e reações sob controle”, disse ela ao Epoch Times.
“Se há uma coisa em que Trump é muito bom, é em irritar o Biden.”
O ex-presidente Trump poderia errar ao ser muito hostil ou bombástico, de acordo com Henry Olsen, um membro sênior do Ethics and Public Policy Center.
“Ele precisa evitar ser a pessoa excessivamente agressiva que foi no primeiro debate em 2020, e precisa evitar a ênfase excessiva ou a retórica exagerada que se torna a história do debate”, disse ele.
Alguns observadores dizem que o ex-presidente adotou um estilo menos bombástico em algumas entrevistas recentes e até em eventos de campanha, confiando mais em informações factuais para provar seus pontos e menos em hipérboles.
“Acho que ele pode surpreender quem espera o Trump mais bruto no debate”, disse Olsen.
Estratégia para o debate
Embora muitos detalhes sobre como cada candidato está se preparando para o debate permaneçam incertos, seus discursos e declarações de campanha anteriores podem indicar no que cada candidato se concentrará durante o evento.
A equipe de campanha de Biden anunciou recentemente uma iniciativa publicitária de US$50 milhões enfatizando a condenação criminal de Trump.
O anúncio, intitulado “Character Matters” (Caráter Importa), tem como alvo eleitores em estados decisivos e sinaliza que o presidente democrata quer se concentrar fortemente nos problemas legais do adversário.
Antes do debate, a campanha de Biden também aumentou seus ataques ao ex-presidente Trump por “proibições ao aborto” e o retratou como “o arquiteto da decisão que anulou Roe v. Wade”, medida tomada pela Suprema Corte dos EUA que definiu que o aborto não é um direito constitucional para todo os Estados Unidos e permitiu que cada estado regulasse a questão.
Além disso, membros do Gabinete de Biden e altos oficiais da Casa Branca começaram a viajar pelo país para destacar a agenda do governo para reduzir custos, incluindo custos de habitação, saúde, eletricidade e alimentos.
Várias pesquisas mostraram que os americanos preferem o ex-presidente Trump ao presidente Biden no que diz respeito à administração da economia.
Portanto, é provável que o candidato democrata enfrente perguntas durante o debate sobre a economia e a inflação. No entanto, ele deve defender suas políticas econômicas, destacando suas medidas de corte de custos e explicando como o plano do ex-presidente Trump beneficia os mais ricos.
Por outro lado, o ex-presidente Trump deve se concentrar na imigração ilegal, inflação e no aumento dos conflitos na Europa e no Oriente Médio nos últimos dois anos. Ele provavelmente repetirá seus ataques de campanha ao presidente Biden, retratando-o como responsável por todos os três problemas.
O candidato republicano se apresenta como a solução, dizendo que parará a guerra na Ucrânia como presidente eleito antes mesmo de tomar posse, revitalizará a economia aumentando a produção de petróleo dos EUA e encerrará a imigração ilegal fechando a fronteira sul e deportando milhões de pessoas que entraram ilegalmente no país.
“Acho que ele [Trump] só precisa ser ele mesmo, ser ‘presidencial’”.
Congressista Dan Meuser
O congressista Dan Meuser (R-Pa.), cujo estado decisivo está quase igualmente dividido entre os dois candidatos em uma média de pesquisas nacionais compiladas pelo portal FiveThirtyEight, que realiza pesquisas, disse que o ex-presidente pode se sair bem no debate demonstrando força.
“Trump tem força, energia, inteligência e patriotismo”, disse Meuser ao Epoch Times em 22 de junho. “Acho que ele só precisa ser ele mesmo, ser ‘presidencial’.”
O presidente Biden recentemente emitiu uma ordem executiva para amenizar a busca de asilo por imigrantes ilegais. Durante o debate, espera-se que ele culpe o presidente Trump por exacerbar a crise atual na fronteira ao se opor ao acordo do Senado sobre a fronteira, uma medida que Biden apoiou há alguns meses.
No início deste mês, o presidente Biden participou do 80º aniversário do Dia D na França e, posteriormente, do encontro dos líderes do G7, onde os Estados Unidos e seus aliados anunciaram medidas robustas visando a Rússia e a China. Aparecer ao lado de outros líderes mundiais no cenário global deve dar uma vantagem a Biden no debate.
“Isso precisa ser um contraste que Biden puxa também — que ele é respeitado pelos líderes globais”, disse Setzer.
“O presidente Biden oferecerá uma narrativa do mundo que herdou de Trump e contrastará com onde estamos hoje: uma economia que é a inveja do mundo, americanos vacinados e nossa saúde restaurada, um senso de normalidade de volta.”
O Primeiro debate
Não haverá audiência ao vivo durante este debate, assim como no primeiro debate presidencial televisionado, que ocorreu entre John F. Kennedy e Richard Nixon em 26 de setembro de 1960.
O primeiro debate Kennedy-Nixon atraiu mais de 65 milhões de espectadores e acredita-se que teve um efeito significativo no resultado da eleição.
Irwin Gellman, historiador presidencial, aponta um contraste notável entre o debate deste ano e o debate de 1960, destacando o declínio da civilidade ao longo dos anos.
“Os debates que eles tiveram eram mais como sessões de perguntas e respostas. Eles não eram realmente confrontadores, e espero que os debates de 2024 sejam muito confrontadores”, disse ele ao Epoch Times.
Gellman, autor de “Campanha do Século: Kennedy, Nixon e a Eleição de 1960”, disse acreditar que o cenário político dos EUA se transformou dramaticamente desde a década de 1960.
Hoje, as redes de TV e os comentaristas estão mais focados em capturar uma fatia maior da audiência, ele observou.
Ao contrário de 1960, quando a ideia era assistir a um debate civilizado, o objetivo em 2024 parece ser criar um “circo para aumentar as audiências de TV.”
Contexto do debate: quem se beneficiará mais?
O ex-presidente Trump frequentemente comenta sobre o contexto do debate como desfavorável para ele próprio. Em particular, ele disse que a rede anfitriã, a CNN, e os moderadores, Dana Bash e Jake Tapper, são tendenciosos contra ele.
No entanto, o ex-presidente indicou que optou por aceitar esses termos desfavoráveis porque estava ansioso para debater com seu oponente.
“Eles me fizeram uma oferta que eu não podia aceitar — e eu ainda assim disse: ‘Vou fazer isso'”, disse em um comício em 22 de junho.
Olsen disse acreditar que o cenário não favorece nenhum dos candidatos.
“Esse é o tipo de coisa que não é realmente percebida pelas pessoas que realmente vão decidir a eleição”, disse Olsen. “Acho que muito mais importante é como uma pessoa se apresenta, como uma pessoa se comporta, os argumentos que faz.”
Cada candidato terá uma caneta, um bloco de papel e uma garrafa de água. No entanto, adereços e notas pré-escritas não são permitidos no palco.
“Este ano, o debate tem uma regra singular de que os microfones serão desligados quando não for a vez do candidato falar
Além disso, nenhuma interação com a equipe de campanha é permitida durante todo o evento, incluindo os intervalos.
Este ano, o debate tem uma regra singular em que os microfones serão desligados quando não for a vez do candidato falar.
“A campanha de Biden pediu essas estipulações, então devem acreditar que isso ajuda”, disse Setzer.
“E isso certamente ajudará ele a transmitir sua mensagem. Mas Trump perdeu o debate em 2020 porque não conseguia parar de interromper. Ele perdeu no ‘estilo’ tanto quanto por qualquer outra coisa. Então, não sei quem isso vai ajudar.”
Após ganhar no cara ou coroa, o presidente Biden escolheu sua posição no palco, a CNN noticiou em 20 de junho. Ele escolheu o pódio no lado direito das telas dos telespectadores.
Em troca, o presidente Trump terá a palavra final no debate, entregando suas declarações finais após o presidente Biden.
“Se eu estivesse aconselhando o presidente Biden, teria sugerido que ele falasse por último”, disse Hult, acrescentando que o candidato que fala por último tem a chance de responder às últimas palavras de seu oponente.
Efeito do Debate nos Eleitores
O efeito do debate pode depender amplamente de quem escolhe assistir. Pesquisadores estimam que o número de eleitores verdadeiramente indecisos é de 5 a 10% do eleitorado, que pode ser uma pequena porcentagem dos espectadores do debate.
E os números das pesquisas provavelmente não mudarão significativamente, a menos que um desses candidatos faça algo extremamente extravagante, dizem os especialistas.
No entanto, o primeiro debate é geralmente o mais assistido, segundo Olsen, os candidatos disputando reeleição geralmente têm um desempenho pior em sua primeira aparição e dependem dos debates posteriores para se recuperar.
“O que não sabemos é como isso será recebido no meio do verão”, disse Olsen. “65 milhões de pessoas vão sintonizar?”
Hult concordou e prevê que o debate teria pouco efeito nas pesquisas.
No curto prazo, pode haver algum movimento nas pesquisas; no entanto, o efeito a longo prazo no comportamento de voto é menos claro, disse ela.
