O mercado financeiro brasileiro experimentou uma reação intensa e negativa ao recente pacote fiscal e à reforma do Imposto de Renda anunciados pelo governo federal. Isso levou o dólar a ultrapassar a marca de R$ 6,00, atingindo o maior patamar desde o início de sua circulação, em 1994.
A alta expressiva da moeda norte-americana, aliada ao aumento das taxas de juros futuros e à queda no Ibovespa, evidencia o ceticismo dos investidores em relação à capacidade do governo de manter o equilíbrio fiscal.
O pacote fiscal proposto pelo Ministério da Fazenda prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões entre 2025 e 2026. O impacto estimado é de R$ 327 bilhões até 2030.
No entanto, a medida de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil mensais foi recebida com preocupação. Essa mudança pode significar uma perda de receita relevante, aumentando a percepção de risco sobre as contas públicas.
Essa combinação de medidas fiscais acabou contribuindo para uma percepção negativa por parte dos investidores e analistas de mercado. Muitos questionam o real comprometimento do governo com a austeridade fiscal.
“Nossa visão é de que o pacote é modesto, aquém do que o governo anunciou e, de fato, vemos uma composição negativa. Há medidas positivas, estruturantes, como a mudança na regra do salário mínimo, que é bem-vinda, mas ainda assim ficou abaixo do esperado pelo mercado. O salário mínimo ainda vai crescer acima do arcabouço no longo prazo, o que preocupa, pois deve pressionar a despesa”, explica Tiago Sbardelotto, economista da XP.
Além disso, há a preocupação de que a ampliação da faixa de isenção possa prejudicar o esforço de consolidação fiscal. Esse receio é ainda maior em um momento em que o país enfrenta desafios fiscais significativos.
Embora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha afirmado que a compensação virá por meio de maior taxação sobre rendas superiores a R$ 50 mil mensais, o mercado não se mostrou confiante. A dúvida está na capacidade do governo de implementar tais medidas compensatórias de forma eficaz e rápida, sem criar outras distorções econômicas.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, avalia que o anúncio “gerou frustração. Não pelas medidas, mas pela maneira pela qual o governo comunicou, somada ao atraso no anúncio, provocou uma completa aversão a risco. A impressão que dá é que eles não entenderam nada”.
A alta do dólar pressiona ainda mais a inflação, uma vez que eleva os preços de produtos e insumos importados. Isso potencialmente dificulta o controle inflacionário que o Banco Central vem tentando manter por meio da política monetária.
Para tentar controlar a volatilidade cambial, o Banco Central anunciou um leilão de até 15.000 contratos de swap cambial tradicional. Essa ferramenta serve para fornecer liquidez ao mercado e tentar conter a alta da moeda estrangeira.
No entanto, analistas apontam que a eficácia dessa medida pode ser limitada. Especialmente se não houver um ajuste mais claro e convincente na trajetória fiscal do governo.
O cenário atual também impactou as taxas de juros futuros, que voltaram a subir em resposta ao aumento da percepção de risco fiscal.
Investidores veem a possibilidade de que o Banco Central seja pressionado a manter a taxa Selic em níveis elevados por um período mais prolongado. Alguns até consideram que pode ser necessário aumentá-la novamente, caso as expectativas de inflação se deteriorem ainda mais.
Com o dólar em alta e o aumento da incerteza sobre o compromisso fiscal do governo, a curva de juros futuros passou a precificar um risco maior para o equilíbrio econômico nos próximos anos.