IPCA-15 de maio confirma projeções negativas levantada por economistas

Índice de Preço ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) mostra nova alta na inflação pelo terceiro mês seguido.

Por Matheus de Andrade
29/05/2024 18:39 Atualizado: 30/05/2024 13:58

Análise de notícias

É possível fazer uma leitura pessimista dos resultados do IPCA-15 de maio, divulgados nesta terça (28), pelo IBGE. A alta referente a abril de 2024, ao contrário do que muitos defendem, não tem tanta ligação com as catástrofes no Rio Grande Sul. 

Na economia as coisas não são instantâneas. Uma ação feita hoje por algum governo ou um desastre em alguma região do planeta pode só ter uma reação na economia meses após o ocorrido. 

Se uma pessoa vai até o supermercado e devido ao alto preço do feijão compra apenas 1kg em vez de 2kg, isso não significa que logo no mês que vem o produtor de feijão ou o supermercado vai sentir no bolso um prejuízo. O processo econômico normal é que até o mercado – os produtores e consumidores – entender o aumento ou a queda do preço de um produto e tomar uma decisão de escolher comprar lentilha ao invés de feijão, todos passarem a comprar menos feijão ou os produtores entenderem que não está compensando a produção de feijão, leva tempo. 

O aumento hoje de qualquer bem só vai ser visto e calculado no futuro. O resultado de uma variação de preço não vai se resumir apenas no mês seguinte, mas sim em uma cadeia contínua de produção através do tempo.

IPCA em 2020

Isso pode ser observado durante a crise da COVID quando o agregado monetário m1, ou seja, a quantidade de dinheiro que está sendo movimentado na economia, se expandiu – a nova linguagem para “imprimir dinheiro” – logo em janeiro de 2020. Na época, saiu de 405 bilhões para 621 bilhões em dezembro de 2020. O afrouxamento deixou de ser feito logo em dezembro do mesmo ano, porém a perda do valor de compra, que foi o resultado de aumentar a quantidade de dinheiro na economia, não diminuiu em janeiro de 2021. A queda da inflação, como resposta a interrupção dessa política monetária, só foi acontecer em julho de 2022.

(Aumento do agregado monetário m1 no início de 2020 e interrupção da medida em dezembro de 2020)

Por sua vez, os lockdowns passaram a ser realizados no Brasil a partir de abril de 2020, e ainda sim houve queda no índice de preços no mês seguinte ao lockdown. Os preços subiram de maneira controlada até agosto, porém em setembro, já não houve mais um controle dos preços.

Ou seja, do início das políticas de afrouxamento monetário, quando o governo passou a aumentar a quantidade de dinheiro na economia, em janeiro de 2020 e do início dos lockdowns em abril de 2020 até o descontrole da inflação em setembro de 2020 houveram meses de relativa normalidade monetária.

IPCA-15 de maio em 2024

Sendo assim, o resultado do IPCA-15 não é útil para indicar as variações de preço do mês de maio. O IPCA-15 foi calculado do dia 16 de abril até o dia 15 do mês de maio. Isso quer dizer que iniciou 16 dias antes dos alagamentos, e terminou 13 dias após o início dos alagamentos. Mesmo que o IPCA-15 de maio servisse para calcular o resultado da variação de preço desse mês, ela ainda sim não conseguiria medir as consequências que ocorreram e ocorrerão após os alagamentos. Infelizmente a medição do IPCA de todo o mês vai aumentar por calcular melhor parte das consequências do ocorrido no RS.

Núcleos de inflação na meta

As previsões do Banco Central no Relatório Focus de 12 de janeiro de 2024 mostravam que a inflação no fim de 2024 seria de 3,87%. Na época houve um reajuste positivo que indicava queda na inflação.

O ano passou e novas medidas econômicas foram tomadas. Agora o Relatório Focus de 27 de maio prevê a inflação a 3,86%, mas dessa vez a perspectiva não é de queda como aconteceu em janeiro mas sim de alta. Se tudo permanecer como está, é pouco provável que a inflação termine 2024 perto da meta de 3%. O ministro da Economia considera a meta “exigentíssima”, porém o conselho que ele faz parte foi quem definiu essa meta.

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, que acompanha a evolução dos preços no mercado brasileiro projeta inflação de 3,7% em 2024 e de 4% em 2025. Os números são maiores que os esperados pelo Banco Central, para 2024, 3,86%, e 2025, 3,75%. O Itaú BBA também espera que a inflação este ano feche em 3,8%. Nenhum deles acredita que a inflação vai diminuir ainda esse ano.

A defesa de alguns economistas e jornalistas de que a economia está boa não se traduz na realidade. Quando se pega os dados da inflação acumulada em 12 meses o resultado é ótimo. De 12,13% em abril de 2022 para 4,18% em abril de 2023, mas os dados de 2022 são dados de um Brasil pós-pandemia, quando o mundo todo atingiu altos índices de inflação e aumento nos índices de preço.

Porém o mundo não iniciou em abril de 2022 com inflação alta. Obviamente, quando comparado com os números altos da pandemia, os números de hoje vão estar menores e em queda. É necessário pegar dados contextualizados antes de sair comparando-os. E falando em dados, eles mostram que a queda na inflação começou ainda no governo Bolsonaro, quando chegou a 5,77% em janeiro de 2023.

Usar a tendência pós-pandemia de queda do IPCA não é mérito algum para o governo. Ele não fez nada para diminuir a inflação. Apenas é necessário que ele cruze os braços e o mercado vai se normalizar, mas o governo não fez isso. Logo em fevereiro de 2024 o governo registrou um déficit de R$ 58,4 bilhões, projetou um déficit de R$ 9,3 bilhões, conseguiu um aumento no limite de gasto de R$ 15 bilhões e ainda sim aumentou a projeção de déficit para R$ 14,5 bilhões. 

O governo entrando em déficit como está fazendo só dá uma opção a ele: aumentar mais ainda a tributação. Ou seja, mais imposto, mais aumento de preços e maior IPCA-15 devido às medidas desastradas do governo.

Ritmo de alta mensal mais do que duplicou

A alta mensal projetada pelo IPCA-15 de maio de 0,44% é considerada em linha ou de acordo com a expectativa do mercado de 0,49%. O ritmo de alta da inflação mensal dobrou e já atingiu 3 meses consecutivos de aumento.

O governo não conseguir lidar com uma meta que ele mesmo colocou para cumprir é preocupante, mas mais preocupante ainda é interpretar um dado muito ruim para a economia como um bom sinal para a população como foi feito com o resultado do IPCA-15 por algumas mídias.

Previsões para o IPCA cheio

Usando o IPCA-15 de maio, Fábio Romão prevê alta de 0,42% no IPCA total de maio. Outras organizações como a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) preveem 0,41%. A previsão do próprio Focus saiu de 0,33% para 0,39%. Todas elas podem acertar já que consideram outra alta no IPCA, mas com certeza estão sendo muito otimistas com o governo.