Um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que a inflação para 2024 segue em trajetória ascendente e não atingirá nem sequer o teto da meta.
As projeções do Sistema Expectativas de Mercado do Banco Central (BCB) indicam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapassará o limite superior de tolerância de 4,5% neste ano. Isso significa que a inflação se distancia cada vez mais da meta de 3%.
Os dados coletados pelo Ipea mostram que a inflação esperada para 2024 continua alta, especialmente nos setores de serviços e bens industrializados.
O boletim também alerta para o impacto da alta da inflação sobre as expectativas para os anos seguintes, com projeções para 2025 e 2026 já acima da meta estabelecida pelo governo.
Esse cenário é um reflexo da percepção do mercado de que o Banco Central pode perder o controle sobre a inflação, à medida que a política monetária atual enfrenta desafios tanto econômicos quanto políticos.
(Evolução da inflação. Fonte: Banco Central do Brasil)
Impacto nos juros e no orçamento familiar
A alta inflação não é o único problema para a população. Com o aumento da pressão inflacionária, o Comitê de Política Monetária (Copom) se viu forçado a iniciar um novo ciclo de elevação da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.
No último boletim, a expectativa para a Selic no final de 2025 para 11,75%, com projeções de manutenção de taxas elevadas até pelo menos 2028.
A decisão de aumentar os juros tem como objetivo conter o aumento dos preços, mas também acarreta um impacto significativo para as famílias brasileiras.
Quando a taxa de juros sobe, o custo do crédito aumenta em todo o país. Empréstimos pessoais, financiamentos de veículos e, principalmente, o crédito imobiliário tornam-se mais caros.
Além disso, as taxas de juros elevadas encarecem o pagamento das dívidas que já existem, como as que foram feitas através do uso do cartão de crédito ou do cheque especial.
O relatório do Ipea também aponta para um agravamento na situação fiscal do país. Com taxas de juros mais altas, as despesas do governo com o pagamento de juros sobre a dívida pública aumentam consideravelmente, pressionando ainda mais o orçamento público.
Entre março e novembro deste ano, as previsões de déficit nominal do setor público aumentaram em cerca de 1% do PIB, e o crescimento esperado da dívida pública agora é maior do que o projetado anteriormente, tanto na sua forma bruta quanto líquida.
Isso significa que o governo terá menos recursos disponíveis para investimentos e programas sociais, afetando diretamente a população que mais depende desses serviços.
Como as famílias são afetadas indiretamente
Além do aumento direto dos preços de bens e serviços, o impacto da alta inflação e da consequente elevação dos juros tem reflexos que vão além do custo do crédito.
As taxas de juros elevadas inibem o consumo, pois a população passa a ter menos recursos disponíveis para gastar, preferindo poupar em um cenário de maior incerteza.
Isso, por sua vez, afeta negativamente a atividade econômica. Quando o consumo das famílias cai, as empresas veem sua receita diminuir, o que pode resultar em cortes de investimentos e até mesmo em demissões, gerando um ciclo vicioso de estagnação.