Inflação em 2024 deve ultrapassar teto da meta e permanecer em alta, aponta relatório do Ipea

Alta dos preços pressiona juros, consumo e orçamento público, com impactos duradouros na economia.

Por Matheus de Andrade
15/11/2024 15:45 Atualizado: 15/11/2024 15:45

Um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que a inflação para 2024 segue em trajetória ascendente e não atingirá nem sequer o teto da meta

As projeções do Sistema Expectativas de Mercado do Banco Central (BCB) indicam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapassará o limite superior de tolerância de 4,5% neste ano. Isso significa que a inflação se distancia cada vez mais da meta de 3%.

Os dados coletados pelo Ipea mostram que a inflação esperada para 2024 continua alta, especialmente nos setores de serviços e bens industrializados.

O boletim também alerta para o impacto da alta da inflação sobre as expectativas para os anos seguintes, com projeções para 2025 e 2026 já acima da meta estabelecida pelo governo.

Esse cenário é um reflexo da percepção do mercado de que o Banco Central pode perder o controle sobre a inflação, à medida que a política monetária atual enfrenta desafios tanto econômicos quanto políticos.

(Evolução da inflação. Fonte: Banco Central do Brasil)

Impacto nos juros e no orçamento familiar

A alta inflação não é o único problema para a população. Com o aumento da pressão inflacionária, o Comitê de Política Monetária (Copom) se viu forçado a iniciar um novo ciclo de elevação da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.

No último boletim, a expectativa para a Selic no final de 2025 para 11,75%, com projeções de manutenção de taxas elevadas até pelo menos 2028.

A decisão de aumentar os juros tem como objetivo conter o aumento dos preços, mas também acarreta um impacto significativo para as famílias brasileiras.

Quando a taxa de juros sobe, o custo do crédito aumenta em todo o país. Empréstimos pessoais, financiamentos de veículos e, principalmente, o crédito imobiliário tornam-se mais caros.

Além disso, as taxas de juros elevadas encarecem o pagamento das dívidas que já existem, como as que foram feitas através do uso do cartão de crédito ou do cheque especial.

O relatório do Ipea também aponta para um agravamento na situação fiscal do país. Com taxas de juros mais altas, as despesas do governo com o pagamento de juros sobre a dívida pública aumentam consideravelmente, pressionando ainda mais o orçamento público.

Entre março e novembro deste ano, as previsões de déficit nominal do setor público aumentaram em cerca de 1% do PIB, e o crescimento esperado da dívida pública agora é maior do que o projetado anteriormente, tanto na sua forma bruta quanto líquida.

Isso significa que o governo terá menos recursos disponíveis para investimentos e programas sociais, afetando diretamente a população que mais depende desses serviços.

Como as famílias são afetadas indiretamente

Além do aumento direto dos preços de bens e serviços, o impacto da alta inflação e da consequente elevação dos juros tem reflexos que vão além do custo do crédito.

As taxas de juros elevadas inibem o consumo, pois a população passa a ter menos recursos disponíveis para gastar, preferindo poupar em um cenário de maior incerteza.

Isso, por sua vez, afeta negativamente a atividade econômica. Quando o consumo das famílias cai, as empresas veem sua receita diminuir, o que pode resultar em cortes de investimentos e até mesmo em demissões, gerando um ciclo vicioso de estagnação.