A economia global está trilhando um caminho de “pouso suave”, de acordo com o último relatório divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Enquanto isso, o Brasil segue enfrentando uma escalada da inflação, juros elevados e desvalorização cambial, formando um contraste significativo entre o cenário mundial e a realidade doméstica.
A ideia de “pouso suave” refere-se à desaceleração da inflação em diversas economias desenvolvidas, sem causar impactos negativos substanciais em termos de atividade econômica e emprego.
Essa tendência foi observada, por exemplo, nos Estados Unidos e na zona do euro, onde os bancos centrais reduziram suas taxas de juros, confiantes de que o pico inflacionário havia ficado para trás.
O movimento marca uma fase de transição para políticas monetárias mais expansionistas, com expectativa de que a inflação continue a se moderar até atingir as metas definidas.
Os serviços mostram uma recuperação sólida, enquanto a indústria ainda enfrenta desafios, mas não a ponto de abalar o cenário geral de recuperação.
Por outro lado, o Brasil permanece preso a uma dinâmica mais adversa. A inflação continua acima do esperado, impulsionada principalmente pelos custos de serviços, alimentos e pela desvalorização do real em relação ao dólar.
Segundo o último Relatório Focus de expectativa do mercado, a inflação para 2024, que antes estava para terminar em 4,55%, agora está em 4,59%, acima do limite da meta de 4,5%.
O cenário de persistência inflacionária, com preços elevados de alimentos e energia pressionando os custos do dia a dia dos consumidores.
O índice de preços ao consumidor acumulado em doze meses seguir acima da meta estabelecida pelo Banco Central, obriga a manutenção de uma política monetária austera.
A taxa básica de juros, a Selic, permanece em patamar elevado, o que se reflete em um custo de crédito mais alto e na retração do consumo e dos investimentos. O mercado espera que a taxa de juros termine o ano em 11,75%, apesar disso, a plataforma de investimento XP afirma que para trazer a inflação para a meta, seria necessário a taxa de juros atingir 15%.
Embora os países desenvolvidos já estejam reduzindo suas taxas de juros para estimular a economia, o Brasil ainda não possui essa flexibilidade, dado o risco de descontrole inflacionário.
Os sinais mais recentes do mercado indicam que a taxa Selic continuará alta por um período prolongado, dificultando a recuperação econômica.
Além disso, o câmbio também tem pesado sobre a economia brasileira. O real desvalorizou-se continuamente frente ao dólar nos últimos meses, impactando os preços de importados e contribuindo para a inflação.
Na sexta-feira (1°), o dólar atingiu sua máxima histórica, R$ 5,86, ultrapassando o valor de R$ 5,85 de abril de 2020, durante a pandemia.
Esse contraste entre o cenário global e a realidade brasileira tem várias consequências para o país.
Enquanto as grandes economias têm espaço para reduzir juros e estimular a atividade econômica, o Brasil precisa manter taxas elevadas para controlar a inflação. Isso acaba limitando o crescimento do consumo e dos investimentos e desviando investimentos para países mais seguros.
A manutenção de juros altos dificulta o acesso ao crédito, tanto para empresas quanto para consumidores. Isso resulta em menor dinamismo econômico, menos empregos e crescimento mais lento.
Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar impacta diretamente o custo dos produtos importados, que ficam mais caros. Isso pressiona ainda mais a inflação, especialmente em setores que dependem de insumos externos, e causa um ciclo inflacionário.
Diferente de outros países, que já começam a ver uma recuperação robusta dos setores produtivos, o Brasil segue enfrentando desafios para estabilizar sua economia.