O Banco Central do Brasil (BCB) realizou, no final de agosto de 2024, uma intervenção no mercado cambial—a primeira ação desse tipo desde abril de 2022. A medida ocorreu em resposta à forte desvalorização do real, que levou a moeda brasileira a se tornar em uma das mais voláteis da América Latina.
No último dia útil de agosto, o BCB vendeu US$ 1,5 bilhão no mercado à vista, além de realizar leilões de swaps cambiais tradicionais, envolvendo US$ 765 milhões. Foram quase US$ 2,26 bilhões para tentar segurar a desvalorização do real.
A desvalorização acelerada do real foi de 8,3% entre maio e agosto de 2024, enquanto o índice DXY, que mede o dólar frente a outras moedas fortes, recuou 3%. Isso significa que mesmo o dólar perdendo valor, o real se desvalorizou ainda mais e e com maior velocidade.
Contexto de volatilidade cambial
O período de maio a agosto de 2024 foi marcado por um aumento da incerteza em relação à condução da política econômica no Brasil, particularmente no que diz respeito à política fiscal e monetária.
Em maio de 2024, o Copom reduziu a Selic em 0,25%, para 10,5% ao ano. A aprovação por margem estreita de cinco votos a quatro gerou incertezas no mercado, especialmente porque os votos a favor de uma redução maior, de 0,50 pontos, vieram de membros indicados pelo governo atual.
A incerteza sobre a política monetária ajudou a desvalorizar o real, agravada por preocupações com a sustentabilidade fiscal do governo. O risco-país, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, subiu 36 pontos-base entre maio e agosto de 2024, acompanhando a queda cambial.
Outros países latino-americanos, como Colômbia e México, também registraram aumento no CDS, mas o impacto foi mais pronunciado no Brasil.
A desvalorização do real
Desde o início de 2024, o real teve dificuldades para se estabilizar frente ao dólar. Em abril, a moeda já havia caído 3% em relação ao dólar, superando o aumento de 1,7% do DXY. A desvalorização se intensificou, e entre 21 de maio e 5 de agosto de 2024, o dólar subiu de R$ 5,10 para R$ 5,76, uma alta de 13%.
O real perdeu valor mesmo com o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos aumentando a favor da moeda brasileira. Enquanto os juros dos títulos americanos caíram 90 pontos-base, os títulos brasileiros subiram 50 pontos-base. Normalmente, isso favoreceria o real, mas a desvalorização continuou, sugerindo a influência de outros fatores.
A volatilidade do real e a intervenção do BCB geraram debates sobre a política econômica do governo, especialmente quanto à gestão da dívida e à coordenação entre política fiscal e monetária. O Banco Central havia sido cauteloso em intervir, mas a magnitude da desvalorização e o aumento do risco-país forçaram a medida.
Atualmente o mercado, diferente do ocorrido em maio, espera que os juros subam de 10,5% para 11,25% ao ano.