Diante de um cenário de persistência inflacionária e expectativas de preços acima das metas estabelecidas, o Banco Central enfrenta o desafio de equilibrar a política monetária para conter a alta dos preços sem comprometer o ritmo de crescimento econômico.
Pressionado por um ambiente global de incertezas e pela aceleração da inflação doméstica, o Banco Central (BC) decidiu, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), elevar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, alcançando 12,25% ao ano.
A decisão, divulgada na terça-feira (17), ocorre em um momento de acúmulo de pressões inflacionárias e deterioração das expectativas de mercado. A elevação confirma um aperto monetário mais intenso do que o previsto anteriormente.
A autoridade monetária destaca que o cenário internacional permanece complexo. A incerteza sobre o ritmo de desaceleração da economia dos Estados Unidos e o rumo da política do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, aumentam a cautela em países emergentes.
Os principais bancos centrais globais seguem empenhados em conter a inflação, o que mantém as condições financeiras mais apertadas. Esse contexto externo adverso reforça a necessidade de um posicionamento firme por parte do Brasil.
No plano doméstico, a atividade econômica continua surpreendendo pela força. O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre apresentou crescimento acima do esperado, indicando uma utilização mais intensa da capacidade produtiva e, consequentemente, um hiato do produto mais positivo.
O mercado de trabalho se mostra aquecido, com aumento da população ocupada e formalização de vagas. Esse quadro sustenta a demanda interna, especialmente no consumo das famílias e na formação bruta de capital fixo, mesmo sob condições monetárias restritivas.
A inflação, porém, segue acima da meta e acelerou nas últimas divulgações. A depreciação cambial intensifica pressões sobre os preços, assim como a alta de alimentos e serviços, reforçando a persistência inflacionária.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 estão mais elevadas, ultrapassando a marca de 4,5%. Segundo o BC, esse descolamento das metas amplia o desconforto do Copom e justifica a adoção de uma postura mais dura na condução da política monetária.
Ao anunciar a alta de 1 ponto percentual da Selic, o Copom deixou claro que, caso o cenário inflacionário esperado se confirme, pretende repetir ajustes de mesma magnitude nas duas próximas reuniões. Essa sinalização procura alinhar as expectativas do mercado e reancorar a credibilidade do regime de metas.
A elevação da taxa de juros real neutra, estimada pelo próprio BC, também sugere maior esforço para conter a inflação. Ao aumentar essa referência de 4,75% para 5,00% ao ano, a autoridade monetária reconhece a necessidade de uma política mais restritiva no médio prazo.
A decisão do Copom leva em conta não apenas a inflação corrente, mas também o balanço de riscos futuros. Entre eles, destaca-se a possibilidade de políticas internas e externas que mantenham a taxa de câmbio depreciada, alimentando a carestia.
Embora a alta dos juros possa impactar negativamente o crescimento, o BC avalia que preservar a estabilidade de preços é condição imprescindível para um ambiente econômico mais previsível. Sem isso, o custo de retomada da credibilidade e do poder de compra seria ainda maior.
Com esse movimento, a autoridade monetária deixa claro que seu compromisso é com a convergência da inflação à meta, mesmo diante de pressões conjunturais contrárias. A estratégia do Copom é assegurar que os preços não se descolem de um patamar consistente com o equilíbrio macroeconômico de longo prazo.