A recente reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), realizada pelo Banco Central, apontou sinais de preocupação com a evolução do endividamento no Brasil. A ata da 59ª reunião, divulgada na quarta-feira (27), destaca que a dinâmica de crédito no Brasil tem apresentado sinais preocupantes.
O comitê alertou que o ritmo acelerado de concessão de crédito para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e o comprometimento crescente da renda das famílias em meio ao cenário de juros altos exigem cautela adicional no curto prazo.
Apesar do crescimento acima do esperado da atividade econômica — que vem justamente desses estímulos ao consumo — o crédito bancário vem se expandindo rapidamente, em especial no segmento das MPMEs, onde o apetite por risco das instituições financeiras se manteve elevado.
De acordo com o Comef, o endividamento das pequenas empresas já se encontra em patamares altos, o que aumenta o risco de inadimplência e de instabilidade financeira no futuro.
No caso das famílias, o Comitê observou um aumento na concessão de créditos de maior risco.
Esse aumento, aliado ao elevado comprometimento de renda, pode resultar em um cenário de dificuldades financeiras nos próximos meses.
A combinação de juros altos e déficits orçamentários cria um ambiente desfavorável para o crescimento saudável do crédito, ressaltou a ata. “Há incertezas acerca do ritmo da atividade, da extensão do período de juros elevados e dos níveis de equilíbrio das taxas de juros no longo prazo, da sustentabilidade fiscal e da adequação das políticas anunciadas nas principais economias”.
Impacto das políticas macroeconômicas e necessidade de cautela
O Comef também destacou que a elevação da taxa de juros pelo Banco Central, necessária para controlar a inflação, tem pressionado o sistema de crédito.
O alto custo dos empréstimos tem afetado diretamente as famílias e empresas, aumentando os riscos para a estabilidade financeira do país.
O Comitê sugeriu que as instituições financeiras aumentem a prudência na concessão de crédito, principalmente para segmentos que já apresentam sinais de vulnerabilidade, como é o caso das MPMEs e das modalidades de crédito ao consumo.
Além disso, a reunião sublinhou a importância de políticas macroeconômicas que aumentem a previsibilidade fiscal e reduzam os prêmios de risco, de forma a contribuir para a estabilidade financeira.
De acordo com o documento, manter a previsibilidade e a disciplina fiscal é essencial para evitar uma maior pressão sobre os ativos e reduzir a volatilidade nos mercados.
Sistema financeiro resiliente, mas com ponto de atenção
Apesar dos desafios mencionados, o Comitê avaliou que o sistema financeiro nacional (SFN) permanece resiliente, com níveis de capitalização e liquidez superiores aos requisitos prudenciais.
Testes de estresse recentes indicam que o SFN tem condições de absorver choques econômicos, mesmo em cenários adversos, como o risco de quebra de confiança no regime fiscal.
No entanto, os riscos relacionados à aceleração do crédito e ao endividamento elevado de algumas categorias exigem uma vigilância constante.
Entre as recomendações apresentadas, o Comef enfatizou a manutenção de uma política macroprudencial neutra, sem necessidade de ajustes no curto prazo, dada a ausência de riscos financeiros significativos no horizonte atual. O que pode mudar dependendo de como o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, decidir lidar com a economia americana.