A inflação no Brasil apresentou aumento recente, conforme apontado na Carta de Conjuntura número 64 publicada na quinta-feira (19), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), referente ao terceiro trimestre de 2024. Apesar do mercado de trabalho estar em crescimento, com queda na taxa de desemprego e aumento nos rendimentos reais, esses fatores têm sido anulados e tem pressionado os preços e retardado o processo de queda da inflação.
O relatório destaca que a taxa de desemprego em julho de 2024 caiu para 6,5%, uma redução de 1,1% em comparação com o mesmo período de 2023. Esse movimento foi impulsionado pela criação de novos postos de trabalho, principalmente no setor formal, e pela desaceleração no crescimento de pessoas em condição de trabalhar.
Apesar dos avanços no emprego e no aumento dos rendimentos, o crescimento salarial exerce uma pressão sobre os custos de produção, especialmente em setores que dependem intensivamente de mão de obra, como o comércio e os serviços. Em julho, os rendimentos médios reais habitualmente recebidos aumentaram 3,8%, e os efetivamente recebidos subiram 4% em comparação com o ano anterior. Esse cenário tem elevado a massa salarial e sustentado parte do consumo das famílias.
Contudo, caso o setor tivesse aumentado sua produção uma vez que agora há mais pessoas trabalhando, os preços não deveriam aumentar e a inflação não deveria subir. Isso indica que o aumento da demanda não é acompanhado pelo aumento da oferta, já que boa parte da demanda não vem do aumento dos salários mas sim do aumento dos empréstimos.
A pressão sobre os custos de produção, associada à maior demanda por bens e serviços, dificulta a desaceleração dos preços. Essa combinação de fatores pode prolongar o ciclo de inflação em setores essenciais da economia.
Outro ponto importante mencionado na análise é o comportamento dos preços de produtos e serviços diretamente afetados pelo aumento dos custos com mão de obra. As áreas de serviços pessoais e o comércio, por exemplo, têm registrado altas de preços devido à elevação dos salários. Esse impacto dificulta o controle da inflação, apesar dos esforços para estabilizar os índices.
A desaceleração do crescimento da força de trabalho também foi destacada como um fator que tem ajudado a manter o desemprego em níveis baixos. Mesmo assim, o aumento dos rendimentos reais e a alta no nível de formalização não têm sido suficientes para reduzir de forma significativa a inflação, que se mantém elevada em diversos setores.