Após elevar Selic a 11,25%, Copom aponta aumento dos gastos públicos e defende “disciplina fiscal” ao governo

Por Igor Iuan
12/11/2024 14:54 Atualizado: 12/11/2024 14:54

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em ata divulgada na terça-feira (12), fez uma análise sobre o cenário do Brasil, apontando o crescimento dos gastos públicos e a necessidade de disciplina fiscal. Também enfatizou o impacto que a conjuntura tem exercido sobre a inflação e as expectativas do mercado.

Na decisão tomada em 6 de novembro, o Copom optou por um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, elevando-a para 11,25% ao ano. O ajuste foi unânime e reflete a avaliação do Comitê de que a economia enfrenta dificuldades, especialmente com relação à inflação e ao mercado de trabalho.

O Copom explicou que a elevação da taxa básica de juros é necessária para enfrentar pressões inflacionárias e controlar as expectativas do mercado.

“Considerando a necessidade de uma política monetária mais contracionista, o comitê julgou adequado realizar um aumento de maior magnitude na taxa Selic”, afirma o documento.

Regras, transparência e estratégia

O Copom também reforçou a importância de uma política fiscal sólida, que seja baseada em regras claras, transparência e um compromisso firme com o controle das contas públicas.

“Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz a ata.

Reformas, ajuste fiscal e dívida pública 

O comunicado também alerta que o enfraquecimento das reformas estruturais e o aumento do crédito direcionado podem elevar a taxa de juros neutra da economia, o que reforça a necessidade de um ajuste fiscal robusto.

“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”, declara o texto.

O Copom também observou que as projeções de inflação indicam que o índice terminará o ano acima da meta estabelecida pelo governo, de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, podendo chegar a 4,5%. 

Cenário internacional

No cenário externo, a ata aponta que a conjuntura internacional apresenta incertezas sobre a política monetária dos Estados Unidos. A desaceleração e a desinflação nas principais economias têm gerado dúvidas sobre a postura do Federal Reserve (Fed), o que exige cautela por parte dos países emergentes, como o Brasil.

“O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária ‘amarela’ em dezembro de 2024 e de 2025”, expressa o Copom.

Cortes nos gastos

Em paralelo, o governo federal diz que prepara um pacote de cortes de gastos para conseguir cumprir com o arcabouço fiscal em 2024. 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas, que devem ser encaminhadas ao Congresso até o dia 14 de novembro, incluem cortes nos ministérios da Saúde, Educação, Previdência e outras áreas.