Tribunal chinês publica vídeo de ativista taiwanês confessando crime de subversão

08/11/2017 15:10 Atualizado: 08/11/2017 19:38

PEQUIM — Um ativista taiwanês confessou, durante um julgamento na China em setembro, sua tentativa de subverter o governo de Pequim, de acordo os vídeos da audiência, liberados pelas autoridades chinesas, embora a esposa dele tenha se recusado a reconhecer a autoridade do tribunal.

Lee Ming-che, professor de uma faculdade comunitária, conhecido por sua luta pela democracia e pela legalidade, desapareceu durante uma viagem à China continental em março. Posteriormente, as autoridades chinesas confirmaram que ele estava sob investigação, suspeito de prejudicar a segurança nacional.

Lee disse aceitar as acusações de subversão e expressou arrependimento, em vídeos publicados nas redes sociais, pelo Tribunal Popular Intermediário da Cidade de Yueyang, na província central de Hunan.

“Eu disseminei ataques, teorias que difamam maliciosamente o governo chinês, o Partido Comunista Chinês e o atual sistema político da China, além disso incitei a subversão do poder do Estado”, Lee afirmou, referindo-se a comentários que fez em um grupo de mensagens instantâneas.

O gabinete da presidente de Taiwan afirmou, em uma coletiva de imprensa, que o governo está envolvido em um “esforço total para ajudar a família do sr. Lee Ming-che”.

“Sua libertação é a nossa maior prioridade. O posicionamento desse governo tem sido bastante claro. O sr. Lee é nosso cidadão”, disse o porta-voz oficial do governo, acrescentando: “Faremos de tudo ao nosso alcance, para garantir que ele retorne em segurança”.

Lee foi julgado junto do chinês Peng Yuhua, 37 anos, que confessou ter criado um grupo de mensagens instantâneas e fundar uma organização, para promover uma mudança política na China. Lee esteve envolvido em ambos, Peng disse em um depoimento em um vídeo publicado pelo tribunal.

O ativista de direitos humanos taiwanês Xiao Yiming viajou até a China, para assistir ao julgamento, mas afirmou que foi proibido de entrar.

Xiao suspeita que Peng foi usado pelas autoridades chinesas, para legitimar o caso contra Lee – o ativista desconhece qualquer ligação anterior entre Peng e Lee.

“Em Taiwan há liberdade democrática, por isso Lee tem o direito de compartilhar as suas ideias”, disse Xiao à Reuters por telefone. Ele descreveu Lee como um “prisioneiro de consciência”.

Lee Ching-yu, esposa de Lee Ming-che¹, compareceu à audiência. Antes de viajar para a China, ela pediu aos apoiadores de seu marido que o perdoassem, por qualquer coisa decepcionante que ele diga durante o julgamento.

Ela escreveu uma carta pra ele, antes do início do julgamento – a Reuters teve acesso a imagens.

“Eu não reconheço este tribunal. Eu também não contratei nenhum advogado”, ela escreveu.

Após a audiência, em lágrimas ela repetiu o pedido por perdão, revelando também duas novas tatuagens na parte de dentro do antebraço, com os dizeres “Lee Ming-che” e “Tenho orgulho de você”, em alguns vídeos enviados à Reuters.

Ninguém no tribunal atendeu aos telefonemas, quando a Reuters ligou no dia do julgamento.

Liberar vídeos e transcrições de julgamentos tornou-se bastante comum na China, como parte de medidas por maior fiscalização e transparência judicial.

Mas ativistas de direitos humanos afirmam que, em relação a casos importantes, realizar julgamentos “abertos” permite que as autoridades exibam o poder estatal, dissuadindo os outros com declarações e vereditos geralmente acordados com antecedência.

As relações entre Pequim e Taipé estão estremecidas, desde que a presidente Tsai Ing-wen, líder do Partido Progressista Democrático – partido pró-independência –, assumiu o cargo ano passado.

A recusa de Tsai, em declarar que Taiwan e a China são parte de um único país, irritou Pequim, assim como os seus comentários sobre os direitos humanos no continente também o fizeram.

Pequim sustenta que a ilha de Taiwan é parte da China e nunca renunciou ao uso da força, para dominá-la. Enquanto isso, a orgulhosa Taiwan não demonstrou nenhum interesse em ser governada pela elite do Partido Comunista em Pequim.

¹Na China, o sobrenome vem antes do primeiro nome

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