Regime chinês ‘é o que mais prende jornalistas no mundo’, afirma relatório

Pelo menos 127 repórteres estão atualmente detidos na China

09/12/2021 17:04 Atualizado: 09/12/2021 17:04

Por Dorothy Li

O regime comunista chinês está realizando uma “campanha de repressão sem precedentes” contra o jornalismo, segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Pelo menos 127 repórteres estão atualmente detidos na China, o país “que prende a maioria dos jornalistas no mundo”, relatou o grupo de defesa ao jornalismo em seu último relatório, publicado no dia 7 de dezembro.

O relatório, intitulado “O Grande Salto para o Jornalismo na China”, indicou que o regime percebe o jornalismo como uma ferramenta de propaganda do Estado, em vez de uma ferramenta que fornece informações ao público.

O Partido Comunista fez da China um modelo de sociedade no qual “o acesso livre à informação tornou-se um crime e o fornecimento de informações um crime ainda maior”, declarou a organização sediada em Paris.

“O número de assuntos que são tabu continua aumentando”, aponta o relatório. “Não só aqueles normalmente considerados ‘sensíveis’, como Tibete, Taiwan ou corrupção estão sujeitos à censura, mas também os desastres naturais, o movimento #MeToo ou mesmo o reconhecimento dos profissionais da saúde durante a crise da COVID-19”.

Aqueles que cobrem tópicos delicados ou se recusam a cumprir as narrativas oficiais enfrentam intimidação, assédio e anos de detenção “em prisões insalubres, onde maus-tratos podem levar à morte”, declarou a RSF.

Entre eles está Zhang Zhan, uma ex-advogada que virou jornalista e agora cumpre sentença de quatro anos atrás das grades por reportar sobre o surto da COVID-19 em Wuhan.

Zhang, de 39 anos, viajou para Wuhan em fevereiro para registrar as cenas caóticas que se desenrolaram no epicentro da pandemia durante seu fechamento inicial. Ela detalhou suas visitas e entrevistas conduzidas em hospitais, centros de quarentena e no Instituto de Virologia de Wuhan em dezenas de vídeos gravados em telefones celulares e divulgados no YouTube, desafiando a narrativa do Partido Comunista Chinês (PCC) de que o surto estava ‘sob controle’.

Mais tarde, ela foi acusada de “causar brigas e problemas”, uma acusação que as autoridades costumam imputar aos dissidentes e denunciantes.

O relatório de 42 páginas destacou outros problemas enfrentados por correspondentes que trabalham para a mídia internacional.

Para renovar seus cartões de imprensa, os jornalistas estrangeiros devem baixar um aplicativo para estudar a ideologia oficial do líder chinês Xi Jinping, conhecido como “Pensamento de Xi Jinping”, relatou a RSF, acrescentando que o aplicativo também pode coletar os dados pessoais de quem o baixou.

O relatório menciona que “a intimidação chinesa a jornalistas estrangeiros, com base em vigilância e chantagem de vistos, obrigou 18 deles a deixar o país em 2020”.

Uma funcionária chinesa do escritório da Bloomberg em Pequim, Fan Haze, está detida desde dezembro passado. Ela foi sequestrada por policiais à paisana diretamente em sua casa, em Pequim, supostamente sob a suspeita de colocar a segurança nacional em risco.

Jornalistas da BBC, do Los Angeles Times e da Deutsche Welle sofreram assédio físico por cobrirem as consequências das enchentes na província de Henan, no centro da China, no início deste ano. O relatório da RSF observou que os ataques foram incentivados pela Liga da Juventude Comunista da China.

A RSF também indicou que a repressão de Pequim se espalhou para Hong Kong. A ex-colônia britânica havia sido um ponto de encontro para a mídia internacional na Ásia, mas agora tem um número crescente de jornalistas presos após a imposição de Pequim da lei de segurança nacional, em junho de 2020.

Repórteres em Hong Kong também enfrentam violência física por parte dos policiais chineses e ataques de gangues apoiadas por facções pró-Pequim, declarou a RSF.

Em maio, uma repórter da edição de Hong Kong do Epoch Times foi atacada com um bastão de metal por um homem não identificado perto de seu prédio.

As instalações do Epoch Times em Hong Kong, um dos poucos meios de comunicação independentes da cidade, também foram repetidamente atacadas. Sua gráfica foi danificada por quatro invasores que impunham martelos, em abril. Menos de dois anos antes, quatro mascarados incendiaram a mesma gráfica.

A RSF classifica a China em 177º de 180º no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2021, “apenas dois lugares acima da Coreia do Norte, um país onde o jornalismo é sinônimo de propaganda estatal”.

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